Pesquisa sobre diabetes ganha prêmio internacional
JEVERSON BARBIERI
O médico e pesquisador da Unicamp Henrique Gottardello Zecchin recebe, nesta semana, o Prêmio Armando Pupo, destinado a jovens médicos do mundo todo, envolvidos com pesquisa sobre diabetes. Ele é o primeiro brasileiro a receber o prêmio, que consiste numa bolsa de estudos durante um ano no Joslin Diabetes Center, na Universidade de Harvard, em Boston (EUA). Zecchin, que é aluno de doutorado na área de Fisiopatologia Médica, trabalha no Laboratório de Biologia Molecular da Faculdade de Ciências Médicas (FCM), da Unicamp, sob a orientação do professor Mário Saad.
Henrique indica que o foco da pesquisa é o diabetes tipo 2, uma doença muito comum que atinge uma grande faixa da população mundial por sua associação com a obesidade. São pessoas que, mesmo produzindo insulina, possuem predisposição no desenvolvimento da doença por possuírem características genéticas, principalmente.
Obesidade O pesquisador demonstra muita preocupação, uma vez que a obesidade é considerada uma pandemia, ou seja, uma enfermidade epidêmica mundialmente disseminada. Ele faz uma ressalva importante, dizendo que a obesidade já ocupa um dos primeiros lugares na escala de doenças que mais matam e a tendência mundial é de elevação dos níveis. Ele cita, além das características genéticas, o habito sedentário e a má alimentação, como fatores responsáveis pelo aparecimento da doença.
“Essa primeira fase da pesquisa foi muito importante. Os resultados nos levaram a desenvolver um novo conceito, denominado resistência à insulina no vaso sanguíneo. Isso significa que o portador da doença, ao contrário do diabetes tipo 1, produz insulina. Mas, por algum motivo que ainda estamos pesquisando, sabemos que ela não consegue atuar no vaso sanguíneo de forma a protegê-lo”, explica o pesquisador.
Dentro dos vasos sanguíneos são encontradas células endoteliais, cuja função é a de proteger o vaso, controlar a pressão arterial e evitar a formação de trombos. Quando a insulina passa por essa cadeia de células, ativa uma enzima chamada NOS3, responsável pela produção de óxido nítrico, que é um fator de proteção do vaso sanguíneo.
O diabetes impede, em algum momento, que a insulina percorra essa cadeia, evitando, dessa forma, a ativação da enzima e a conseqüente proteção do vaso, favorecendo o aparecimento de doenças cardiovasculares como infarto, derrame e trombose, que em 80% dos casos leva o paciente ao óbito.
A segunda fase do trabalho será realizada nos Estados Unidos onde, segundo o pesquisador, será possível realizar um trabalho mais detalhado, capaz de detectar onde a cadeia pode ser interrompida e, dessa maneira, começar a elaborar os possíveis tratamentos. O objetivo principal desse trabalho é abrir caminho para o desenvolvimento de novos medicamentos que possam dar aos pacientes uma qualidade de vida muito melhor. “A infraestrutura de equipamentos no laboratório americano será fundamental no aprofundamento da pesquisa e deverá permitir um avanço considerável no trabalho”, afirma.
Os resultados apresentados até agora já foram publicados numa revista de circulação internacional e são considerados um grande passo no trabalho de pesquisa do diabetes tipo 2, já feito no Brasil. O prêmio, que será recebido pelo médico brasileiro, é concedido a cada três anos, tem apoio financeiro do Laboratório Lilly e a cada edição muda de nome, uma maneira de homenagear pesquisadores da área. Neste ano, o homenageado é o professor Armando Pupo, endocrinologista brasileiro e um dos pioneiros na pesquisa do diabetes.
O evento será realizado em São Paulo, no período de 26 a 29 de setembro, durante a 12ª edição do Congresso Latino-Americano de Diabetes.
Além de ser o primeiro brasileiro a receber esse prêmio, o trabalho de Henrique coloca a pesquisa brasileira numa situação bastante privilegiada, já que se trata de uma doença grave que cresce a cada dia no mundo todo.