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Estudo desenvolvido na FCM associa incidência do vírus HPV anogenital às doenças

Tese lança luz sobre a
prevenção de câncer anal
e do colo do útero

JEVERSON BARBIERI

Foto: Antoninho PerriExaminando-se pacientes com doença HPV anogenital, é possível fazer prevenção de câncer de colo uterino e de canal anal, segundo pesquisa realizada pela médica Cláudia Jacyntho, chefe do Serviço de Prevenção do Câncer, do Hospital dos Servidores do Rio de Janeiro. Esse estudo, desenvolvido no Departamento de Tocoginecologia, da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp, fez parte do trabalho de doutoramento realizado sob a orientação do professor Paulo Giraldo.

Incidência aumentou nos últimos 30 anos

A médica ginecologista explica que nos últimos 30 anos a incidência de câncer de ânus tem aumentado significativamente, principalmente entre mulheres e homens homossexuais e bissexuais. “Observamos que entre homens heterossexuais a incidência da doença é muito menor. Isso leva a pensar que o coito anal sem proteção deve ser um fator de associação muito importante”, ressalta a pesquisadora. Entretanto houve grande associação entre a lesão pré-neoplásica anal e a genital persistente, mostrando que a persistência da doença genital foi um fator mais importante que o coito anal.

Claudia trabalha com a doença provocada pelo HPV há 20 anos e explica que se trata e uma doença anogenital altamente infecciosa. Sua ocorrência se dá na parte genital e na parte perianal, que é a entrada do ânus. Ela esclarece que alguns estudos da literatura mundial mostram que geneticamente o vírus HPV está presente no ânus, até mais do que no colo do útero, apesar de causar menos doenças. Porém, ela afirma que o HPV sozinho não causa doença alguma, precisando de outros fatores.

E o trabalho de tese surgiu a partir desse ponto. Estudar mulheres que realizam coito anal protegido e desprotegido. “Estudei mulheres que tinham a doença HPV na parte genital. Dei preferência àquelas que tinham a doença de uma forma persistente em dois ou três locais diferentes, de forma multicêntrica. Se ela tivesse no colo, na vagina e na vulva, a minha hipótese é de que provavelmente ela teria mais chances de ter no ânus. O fato de ter a doença em três locais diferentes suscitou a hipótese de que existia alguma alteração local, no organismo. Sendo assim, por que no ânus também não teria alguma alteração?”, indaga Claúdia.

As hipóteses foram confirmadas com a pesquisa, na qual foi constatada uma alta prevalência da lesão nas mulheres que tinham a doença HPV genital persistente, multicêntrica e com coito anal, principalmente sem proteção. “Achei lesão pré-câncer de alto grau em 9 das 391 pacientes. Essa é uma cifra muito alta e importante”, analisa a médica. A faixa etária das pacientes foi de 16 anos até 65 anos, porém, a maioria estava situada entre 20 e 50 anos. A maioria das lesões pré-câncer situaram-se entre 30 e 42 anos.

Tratamento – Na literatura atual, segundo Cláudia, quase nada foi encontrado porque é um assunto muito novo. Como o câncer de ânus é muito semelhante ao câncer genital, o tratamento foi feito de maneira análoga. “Quando encontrava a doença pré-câncer, encaminhava a paciente para o setor de proctologia do Caism ou HSE. O objetivo era obter respaldo clínico para o tratamento. A olho nu a doença não era enxergada pelos proctologistas. É uma doença que só pode ser vista através do colposcópio, que na verdade é uma lupa sofisticada. Eram lesões milimetrais e decidi tratar tal qual como feito na vagina e no colo, fazendo a retirada da lesão com a própria pinça de biópsia”, explicou a médica. Depois dessa retirada torna-se necessário um controle rigoroso, uma vez que a reincidência é importante na doença HPV de uma forma geral. No primeiro ano, deve-se fazer um controle a cada três meses. A partir do segundo ano esse controle passa a ser feito a cada seis meses, seguindo assim até o final do terceiro ano.

Com relação à prevenção, Claudia estima que isso possa ser feito no futuro. E para isso, segundo ela, é preciso ter muita atenção porque estamos em um país onde o governo nem sequer conseguiu dar cobertura na prevenção do câncer de colo de útero. “No norte e nordeste do Brasil a cobertura é muito ruim e mesmo na periferia de São Paulo e Rio de Janeiro falta cobertura de exame Papanicolaou para prevenção do câncer do colo de útero. Os programas do governo não são satisfatórios”, lamenta.

Cláudia reafirma que o sexo seguro é uma forma eficiente de controle da doença. “Campinas tem um dos menores índices de incidência, uma vez que tem um programa voltado para adolescentes visando o sexo seguro. Os mais altos índices estão nas regiões Norte e Nordeste, justamente pela falta de programas de informação. A grande adesão está nos adolescentes. Mudar costumes e hábitos depois dos 30 anos é muito difícil”, finaliza.

Características e sintomas

HPV (Papilomavírus humano)

O HPV (papilomavírus humano), nome genérico de um grupo de vírus que engloba mais de cem tipos diferentes, pode provocar a formação de verrugas na pele, e nas regiões oral (lábios, boca, cordas vocais, etc.), anal, genital e da uretra. As lesões genitais podem ser de alto risco, porque são precursoras de tumores malignos, especialmente do câncer do colo do útero e do pênis, e de baixo risco (não relacionadas ao aparecimento de câncer).

Transmissão
A transmissão se dá predominantemente por via sexual, mas existe a possibilidade de transmissão vertical (mãe/feto), de auto-inoculação e de inoculação através de objetos que alberguem o HPV.

Diagnóstico
As características anatômicas dos órgãos sexuais masculinos permitem que as lesões sejam mais facilmente reconhecíveis. Nas mulheres, porém, elas podem espalhar-se por todo o trato genital e alcançar o colo do útero, uma vez que, na maior parte dos casos, só são diagnosticáveis por exames especializados, como o de Papanicolaou (teste de rotina para controle ginecológico), a colposcopia. Outros mais sofisticados como hibridização in situ, PCR (reação da cadeia de polimerase) e captura híbrida, não são necessários para diagnosticar lesões, pois apenas indicam a presença do DNA viral.

Sintomas
A infecção causada pelo HPV pode ser assintomática ou provocar o aparecimento de verrugas com aspecto parecido ao de uma pequena couve-flor na pele e nas mucosas. Se a alteração nos genitais for discreta, será percebida apenas através de exames específicos. Se forem mais graves, as células infectadas pelo vírus podem perder os controles naturais sobre o processo de multiplicação, invadir os tecidos vizinhos e formar um tumor maligno como o câncer do colo do útero e do pênis, vulva ou ânus, mas apenas nos casos sem tratamento e sem controle.

Tratamento
O vírus pode ser eliminado espontaneamente, sem que a pessoa sequer saiba que estava infectada. Uma vez feito o diagnóstico, porém, o tratamento pode ser clínico (com medicamentos) ou cirúrgico: cauterização química, eletrocauterização, crioterapia, laser ou cirurgia convencional ou imunoterapia.

Recomendações
Lembre-se que o uso do preservativo é medida indispensável de saúde e higiene não só contra a infecção pelo HPV, mas como prevenção para todas as outras doenças sexualmente transmissíveis;

Vida sexual mais livre e multiplicidade de parceiros implicam eventuais riscos que exigem maiores cuidados preventivos;

Informe seu parceiro/a se o resultado de seu exame de Papanicolaou for alterado e seu médico assim orientou, pois é possível tratar o casal em alguns casos;

Durante a gravidez é necessário um controle da doença-HPV com seu médico e a maioria pode nascer por parto normal;

Consulte regularmente o ginecologista e faça os exames prescritos a partir do início da vida sexual. Não se descuide. Diagnóstico e tratamento precoce sempre contam pontos a favor do paciente.

Fonte: www.drauziovarella.com.br

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