| Edições Anteriores | Sala de Imprensa | Versão em PDF | Portal Unicamp | Assine o JU | Edição 303 - 26 de setembro a 2 de outubro de 2005
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Para o diretor da Editora da Unicamp, encolhimento do mercado exige seleção mais acurada

Do ‘Jabuti’ à retração
do cenário editorial



O professor e editor Paulo Franchetti: “A premiação inaugura não só uma nova forma de conceber o trabalho editorial na Editora da Unicamp, como também uma linha de pesquisa acadêmica” (Foto: Antoninho Perri)EUSTÁQUIO GOMES



A Editora da Unicamp compôs mais uma vez a lista de ganhadores na versão 2005 do Prêmio Jabuti, o mais badalado entre os certames literários brasileiros – no caso, com a obra Arquitetura do Café, do professor André Argollo, da Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo. O prêmio tem um significado distinto dos anos anteriores porque, desta vez, apenas três editoras universitárias – além da Editora Unicamp, a da USP e a da fundação Oswaldo Cruz – chegaram à lista final. O editor Paulo Franchetti comenta o prêmio e o cenário editorial atual.

Jornal da Unicamp – Que importância o sr. atribui ao prêmio Jabuti recebido pela Editora da Unicamp em 2005?

Paulo Franchetti – Vários fatores tornam o prêmio deste ano significativo para a Editora da Unicamp. O primeiro é de caráter geral: a disputa pelo Jabuti aumentou muito nos últimos anos, o que se pode constatar pelo número de inscritos em todas as categorias. Sendo um dos prêmios mais tradicionais e mais concorridos do país, é sem dúvida motivo de orgulho o fato de, pelo segundo ano consecutivo após a reestruturação geral da Editora da Unicamp, um de seus livros ser reconhecido como um dos melhores do ano na sua categoria. Isso demonstra que a Editora está no caminho certo, e que a política implementada pelo seu Conselho Editorial, aliada ao grande investimento em equipamentos e na qualificação técnica dos funcionários, está produzindo os resultados esperados.

O fato de o trabalho premiado neste ano ser assinado por um docente desta universidade é outro fator de satisfação para a Editora, que assim demonstra estar cumprindo uma de suas principais funções, que é difundir a produção científica da Unicamp.

O que dá um caráter muito especial a este prêmio, porém, é o fato de que o livro do professor Argollo, originalmente uma tese de doutorado, foi objeto de um intenso trabalho cooperativo para se tornar o esplêndido livro que foi afinal publicado. Aprovada a publicação, e tendo em vista a qualidade do material iconográfico, a Editora sugeriu ao professor Argollo que, com orientação de funcionários qualificados, reescrevesse o livro, reorganizando o seu conteúdo em diferentes níveis de interesse de leitura e aprofundamento científico. Assim, não só teriam maior destaque as imagens, que se entremeariam ao texto, mas também se permitiria que vários tipos de leitores percorressem o volume de maneira diferente, buscando cada um a informação que lhe conviesse, em graus distintos de aprofundamento ou especialização. Por fim, o livro reescrito foi desenhado, sob a supervisão da Prof. Lygia Eluf, do Instituto de Artes, que cuidou de estabelecer um código visual que permitisse o melhor aproveitamento do material gráfico e orientasse o leitor quanto aos vários níveis e formas de leitura.

A premiação deste livro é assim uma grande alegria, pois ele inaugurou não só uma nova forma de conceber o trabalho editorial na Editora da Unicamp, como também uma linha de pesquisa acadêmica que poderá ainda render vários volumes semelhantes a este, na medida que os orientados do professor Argollo utilizarem o modelo em projetos voltados para outros aspectos da memória arquitetônica da produção rural brasileira.

JU – No contexto das editoras universitárias, como se saiu a Editora da Unicamp no Jabuti 2005?

Franchetti – Nesse contexto específico, saiu-se muito bem, pois neste ano apenas três editoras universitárias foram contempladas com o Jabuti: a Editora da USP, a da Unicamp e a da Fundação Oswaldo Cruz. Ou seja: a Editora da Unicamp se saiu bem, mas o segmento “editoras universitárias” diminuiu significativamente a sua representação nesse certame. O que se explica talvez pela retração do mercado editorial, especialmente o dos livros universitários. O mercado de livros no Brasil, como foi recentemente divulgado pela imprensa, regrediu à dimensão que tinha em 1991, mas, nessa retração, o segmento que mais perdeu espaço e volume de negócios foi justamente o dos livros destinados ao público universitário. Por conta disso, desde há alguns anos, mas especialmente nos dois últimos, as editoras universitárias acabaram por reduzir a sua produção, e creio que isso se refletiu nos resultados do Jabuti deste ano.

“O mercado de livros regrediu à dimensão que tinha em 1991”

JU – Como está o cenário atual para a produção editorial em geral e para as editoras universitárias?

Franchetti – O cenário não é bom: não só o mercado está em retração, mas ainda, no caso das universidades públicas, a verba orçamentária disponível para investimento nas editoras é, em geral, pouca ou inexistente.

Nenhuma editora universitária que eu conheça é sustentada apenas com recursos de vendas, por conta da natureza dos livros que produz. Sem vendas significativas e sem recursos das reitorias, o que tem sustentado a maior parte das editoras universitárias tem sido a captação de recursos junto a agências de fomento e empresas que se dispõem a investir em livros que representem benefícios fiscais.

Por isso, penso que a tendência é a redução do número de editoras universitárias realmente ativas, e que só sobrevivam, num futuro próximo, aquelas que desenvolverem uma política eficaz de captação de recursos e que puderem contar com o apoio, cada vez mais decisivo, da administração central das universidades às quais estão ligadas.

JU – Quais as linhas de edição hoje da Editora da Unicamp?

Franchetti – A Editora da Unicamp publica textos relevantes para o público universitário. De um modo geral, esses textos podem agrupar-se em três conjuntos: os textos de referência nas várias áreas do conhecimento, os que resultam da pesquisa universitária e os que se destinam a uso em sala de aula.

JU – O encolhimento do mercado livreiro teve impacto sobre o número de títulos publicados anualmente pela Editora da Unicamp?

Franchetti –Sim, teve. De fato, a Editora da Unicamp reduziu o número de títulos publicados nos últimos dois anos. Mas não só por conta da retração do mercado, que exigiu seleção mais acurada, para evitar encalhes e prejuízos. A redução também se deveu à opção por investir os recursos disponíveis na melhoria da qualidade dos livros (revisão, diagramação, design, tipo de papel etc) e na criação, a médio prazo, de um catálogo forte em obras de referência nas várias áreas do conhecimento.

Para atender a esse último objetivo, o Conselho Editorial lançou edital convidando os docentes da Unicamp a proporem coleções específicas, gerenciadas autonomamente por comissões de especialistas. A maior parte dessas coleções, compostas de títulos essenciais na bibliografia de cada campo do conhecimento, está ainda em produção, porque muitas das obras indicadas pelas comissões são estrangeiras e o processo de produção é demorado e requer investimentos vultosos. Os resultados do trabalho realizado ao longo dos dois últimos anos já começam a aparecer (é o caso da coleção Clássicos da Inovação) e devem ampliar-se muito em breve. Estou seguro de que compensarão o esforço, pois a comunidade universitária poderá contar, em português, com boas edições de obras fundamentais e, até agora, só disponíveis por importação.

JU – Um dos gargalos de toda editora é a distribuição, dados a dimensão do país e o número insatisfatório de pontos de vendas, além do custo da própria distribuição. Como a Editora da Unicamp tem resolvido esse problema?

Franchetti – A distribuição é um problema grave para todas as editoras, mas particularmente agudo para as que praticam tiragens reduzidas, como é o caso das universitárias. Os descontos exigidos pelos distribuidores e grandes redes livreiras são escorchantes e acabam por encarecer muito o livro para o leitor. Há, por exemplo, uma rede de livrarias que exige desconto das editoras desconto da ordem de 60%  e pagamento das despesas de transporte. Numa tiragem de mil exemplares, um tal desconto significa que o livro é vendido pelo preço de custo, isto é, que a editora não recebe nenhuma remuneração pelo trabalho de edição e comercialização. Somente as grandes tiragens permitem baratear o preço unitário do livro, de modo a possibilitar um desconto dessa ordem. Mas seria um absurdo imprimir 10.000 cópias de qualquer dos livros do nosso catálogo... Sendo assim, a Editora da Unicamp tem investido no trabalho com distribuidores que capilarizam o livro, distribuindo-o não nas livrarias de shoppings (que não só exigem descontos impraticáveis, mas ainda trabalham com o livro apenas por um período muito curto, alegando que o custo de manutenção da loja exige o giro rápido da mercadoria), mas sim em livrarias voltadas ao público universitário. Ao mesmo tempo, a Editora da Unicamp abriu mais uma loja própria e está dando prioridade a todas as vendas diretas, seja em eventos acadêmicos, seja em bienais e feiras especializadas. Por fim, como o seu público principal é constituído de professores, a Editora da Unicamp criou o Programa Estante do Professor, que permite a qualquer professor, de qualquer nível de ensino, que adquira os seus livros com 40% de desconto sobre o preço de capa. Esse programa tem produzido bons resultados e o objetivo agora é aumentar o retorno de vendas por meio do site da Editora, que já foi remodelado de modo a permitir não só a escolha do meio de remessa, mas também a emissão automática de boleto bancário para pagamento das compras.

Livro de Maria Eugênia Boaventura é premiado

Quatro autores que têm ou tiveram vínculo com a Unicamp foram contemplados pela Câmara Brasileira do Livro (CBL). O livro Artesanatos de Poesia: Fontes e Correntes de Poesia Ocidental por Mário Faustino ( Companhia das Letras) organizado por Maria Eugênia Boaventura, professora do Instituto de Estudos da Linguagem (IEL), ganhou o Jabuti na categoria Teoria/Crítica Literária.

Outros dois livros receberam menção honrosa: Capitalismo, Violência e Terrorismo, do professor do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) Octavio Ianni, já falecido; e o livro organizado pelo professor do Instituto de Estudos da Linguagem (IEL) Antonio Arnoni, A Dimensão da Noite, do professor João Luiz Lafetá, já falecido e que também pertencia ao IEL. A cerimônia de premiação ocorreu no último dia 20 no Memorial da América Latina, em São Paulo.

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