O laboratório da FEM produz, por exemplo, placas e parafusos para cirurgias ou reparações buco-maxilo-facial; pinos para fraturas; tubos para regeneração nervosa; membranas curativas para o tratamento de queimaduras; membranas para periodontia; suporte para culturas de células; micro-esferas para liberação controlada de medicamentos; e meniscos artificiais.
A linha de pesquisa pioneira foi iniciada e desenvolvida na FEM por Eliana Aparecida de Rezende Duek, também professora da Faculdade de Medicina e Ciências Biológicas da PUC-SP. Graduada pelo Instituto de Química (IQ) da Unicamp, em que completou mestrado e doutorado, realizou o pós-doutorado na FEM na área de polímeros, dando início aos trabalhos que realiza há cerca de 14 anos, com financiamentos da Fapesp e do CNPq, e que levaram à montagem do atual Laboratório de Biomateriais.
Eliana destaca a importância da classe de polímeros biorreabsorvidos. Segundo a pesquisadora, eles não exigem nova cirurgia para retirada do material, pois são reabsorvidos pelo organismo sem efeitos colaterais, já que são atóxicos. A produção dos polímeros e dos materiais deles oriundos no Brasil leva à redução de custos, pois um dos objetivos é possibilitar o emprego dos produtos pelo SUS, geralmente inviabilizado pelos custos.
Hoje, todos esses dispositivos são importados a preços muito altos. A especialista explica que, no início das investigações, importava os polímeros para processar placas, parafusos e membranas: “Há uns cinco anos comecei a processá-los para barateá-los, pois os polímeros importados custam quatro mil dólares o quilo. Passamos então a comprar apenas os monômeros, ou seja, as substâncias constituídas pelas moléculas que permitem chegar ao polímero. Os monômeros, em geral de moléculas cíclicas de diversos ésteres, dão origem aos poliésteres, cada um deles com características químicas e físicas diferentes”.
Os polímeros sintetizados atendem a uma série de necessidades médicas. O tubo para regeneração nervosa é suturado entre as extremidades do nervo seccionado e funciona como guia durante o processo de regeneração. Já as membranas para periodontia permitem a recuperação da parte óssea, contendo o avanço da gengiva sobre ela. As membranas utilizadas como curativos para queimaduras, por sua vez, evitam a desidratação da pele.
As micro-esferas são usadas na encapsulação de medicamentos e permitem a liberação progressiva e controlada do fármaco. Os suportes para cultura de células são utilizados como moldes no interior dos quais é feita a cultura de células sadias. O tecido daí resultante pode ser utilizado para implante. É o que se faz, por exemplo, para reproduzir parte de um tecido danificado para posterior implante.
Em 1993, quando estas pesquisas foram iniciadas, quase ninguém trabalhava com isso no Brasil. Quando muito, lembra Eliana, contavam-se umas 20 pessoas que se dedicavam a desenvolvimentos de produtos para a área médica utilizando cerâmicas, metais e polímeros. Hoje, constata, cresceu muito o número de pessoas que trabalham na área.
Várias frentes A pesquisadora ressalta que o trabalho desenvolvido é multidisciplinar. “É impossível realizá-lo isoladamente. Os químicos desenvolvem e analisam os materiais e avaliam o tempo de degradação; médicos e biólogos realizam as análises histológicas; e engenheiros realizam a caracterização dos dispositivos do ponto de vista físico-químico, mecânico e morfológico, determinando o tipo de superfície desenvolvida”.
A docente lembra com orgulho que foi seu grupo que começou a pesquisar esse tipo de polímero no Brasil e a desenvolver dispositivos para a área médica. Há apenas uns quatro anos surgiram outros interessados. O grupo já registrou uma patente. “Agora, aguardamos empresas que se disponham a colocar no mercado nacional placas, parafusos, pinos e membranas. Face aos preços competitivos, eles podem até concorrer no mercado internacional”, afirma.