| Edições Anteriores | Sala de Imprensa | Versão em PDF | Portal Unicamp | Assine o JU | Edição 370 - 3 a 9 de setembro de 2007
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Por que o CD está com os dias contados

RAQUEL DO CARMO SANTOS

O engenheiro eletrônico e  especialista em marketing Márcio Tonelli: novos padrões de consumo (Foto: Antoninho Perri)O avanço da microinformática e das redes de telecomunicações a partir dos anos 1980 causou um forte impacto no mercado de música, particularmente na comercialização de CDs. Passada a euforia inicial das gravadoras, quando as pessoas trocavam suas coleções de vinil pela nova mídia, observa-se hoje uma situação de estagnação e crise. O tempo passou, as tecnologias se popularizaram e o público mudou seu comportamento de consumo.

Apenas nichos consumirão o produto

Na opinião do engenheiro eletrônico e especialista em marketing Márcio Tonelli, o CD, ao menos na forma como é consumido, está com os dias contados. “Não é um decreto de falência, como muitos defendem, mas acredito que este tipo de mídia não atende mais as exigências desta geração. Vai ser um mercado de nicho”, prevê.

Para Tonelli, as gravadoras precisarão encontrar um novo caminho, pois a realidade do mercado não possibilita mais a venda de CDs como fonte principal de renda. Na opinião do especialista, o mercado tradicional perdeu o poder de controle e de distribuição musical. Hoje, muitos programas facilitam o download de músicas e, embora o cenário de música esteja em alta, incluindo-se a venda de DVDs e os shows, a comercialização de CD está cada vez mais em baixa.

“A garotada e mesmo os adultos não possuem uma relação sentimental com o CD, como acontecia por exemplo, no século passado, com os discos de vinil”, explica Tonelli. Ele afirma que é natural “baixar” uma música dos programas disponíves ou comprar faixas específicas para ouvir em Ipods, MP3 players ou nos computadores. Outra questão é o atrativo das experiências inusitadas proporcionadas por shows.

Este panorama do cenário musical foi retratado pelo engenheiro em sua dissertação de mestrado apresentada no Instituto de Artes (IA), sob orientação do professor José Eduardo Paiva. No trabalho, Tonelli prevê, num futuro próximo, a reconfiguração do CDs. Em sua opinião, os produtos serão lançados como opção para um público específico.

“Acredito que 90% da população irá adquirir arquivos de músicas ao invés de comprar um CD. É muito mais prático”, prevê Tonelli, que possui 1,6 mil CDs, mais de 300 títulos em vinil e um problema sério de espaço para acomodar o acervo. Para ele, o mercado atenderá um público específico, que poderá ser formado por colecionadores, por exemplo. Quadro parecido com o que ocorre em relação ao vinil, em que uma parcela muito pequena da população insiste em guardar de recordação.

Aplicativo – O trabalho de Márcio Tonelli inclui ainda o desenvolvimento de um aplicativo on-line para criação de ringtones (toque para celulares). Denominado MobiDJ, o aplicativo será acessado através do site de uma operadora de celular. A proposta é que o usuário do site crie sua própria música e descarregue no celular. “Não há algo do gênero no Brasil. As músicas são produzidas integralmente pelo usuário, que poderá ou não tornar disponível para o público em geral”, esclarece.

A produção de conteúdo na internet por parte do usuário está cada vez maior. Por isso, o engenheiro eletrônico que se especializou em desenvolver vídeos e games para computadores, fez um recorte para a música. O programa funciona como se fosse um estúdio digital em que o usuário tem a liberdade de criar uma melodia, mesmo sem conhecimento musical aprofundado.

Quando o autor da música descarrega o ringtone no celular, é debitado o valor correspondente em sua conta. A idéia de Tonelli seria tornar disponível a melodia inédita para que os interessados também pudessem realizar o download. O problema é que este tipo de ação eliminaria os direitos autorais, uma vez que o MobiDJ prioriza a democratização da produção musical. Mesmo assim, o engenheiro acredita no compartilhamento de informações como algo característico da internet. “A tecnologia permite uma produção independente, livre, anárquica e rebelde”, avalia.

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