Oscilando entre o otimismo quixotesco e o pessimismo rodriguiano, eles mostraram que estão bem-informados, sabem o que querem e estão dispostos a oferecer sua parcela de contribuição à sociedade. Em contrapartida, só esperam duas coisas do país: mais investimentos em educação e o fim da corrupção nos órgãos públicos. Ao contrário do que muita gente imagina, os estudantes do ensino médio, que compõem uma parcela significativa da população, mantêm os olhos bem abertos e sabem avaliar com clareza os vários cenários do quadro atual que, na sua avaliação, apresenta como principais desafios a serem superados a crise ética na política, a desigualdade social e a violência.
“Sou otimista quanto ao futuro porque acho que ainda tem jeito de mudar, mas a corrupção precisa acabar e o governo tem de investir mais em educação”, diz Danúbia Borges Rovena, que estuda em escola parti
cular e veio de Rio Verde, em Goiás, numa viagem de ônibus que durou quase dez horas. Aos 16 anos, ela atribui boa parte dos problemas do país à crise ética na política, mas nem por isso foge à autocrítica: “Os jovens sabem o que está acontecendo, têm o poder nas mãos, mas não fazem nada”, admite a estudante, que se diz fanática por esportes e pretende cursar arquitetura.
Impunidade – “É vergonhoso. Cada dia aparece um escândalo novo e a gente tem de conviver com isso”, protesta Rafael Alves Cavacini, que tem 17 anos e cursa o ensino médio num colégio particular em Mogi Guaçu. Atento aos sites que tratam de temas políticos, ele acredita que a principal causa da corrupção no país é a impunidade. “E o problema tende a crescer cada vez mais porque ninguém faz nada”, comenta.
“Veja só o caso do mensalão”, aponta outro estudante, Fernando Tiago da Maia, 17 ano
s, que faz o ensino médio numa escola pública de Americana. Com ar sério, ele vai relacionando um a um os escândalos políticos nos últimos meses. E não se contém ao recordar a máfia dos sanguessugas, que desviou recursos públicos destinados à compra de ambulâncias: “Pô, meu, aquele dinheiro era para ser investido na saúde”. O estudante, que trabalha numa banca de revistas, lê diariamente tudo que se passa no país. “Mesmo assim mantenho o otimismo, porque se a gente não pensar positivo a situação nunca vai mudar”, pondera Fernando, que pretende prestar vestibular para ciência da computação.
Para boa parte dos estudantes ouvidos pelo Jornal da Unicamp, a corrupção acaba alimentando outros males, ou pelo menos impedindo a solução de problemas cuja gravidade afeta milhões de brasileiros. Um dos mais citados é a violência urbana. E sua conseqüência imediata, segundo eles, é o medo generalizado. Não se trata de exagero, levando-se em conta que só em 2005 a violência matou 103.946 pessoas no Brasil, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
No país das balas perdidas e das facções que comandam o crime de dentro dos presídios, a cultura da violência está mais que disseminada, mas os estudantes dão sinais de que não estão dispostos a engolir a situação. “As autoridades fecham os olhos e fingem que não é com elas”, diz Wagner de Oliveira Júnior, 17 anos. Aluno da rede pública em Campinas, ele também faz curso técnico de dança e pretende prestar vestibular para artes cênicas. “Os governantes e os políticos deveriam sair nas ruas para sentir o que a população enfrenta”, completa.
“Sinto medo de ir a alguns lugares em certos horários”, relata Fernanda Cagnin, 17 anos, que estuda no Colégio Técnico de Limeira (Cotil). “Se o governo investisse mais em educação, certamente a violência seria reduzida”, acrescenta. Embora admita não acompanhar muito de perto os escândalos políticos, ela diz que sente na pele a crise ética instalada nos círculos do poder. “Sinto que a situação está crítica e que d
e alguma forma todo mundo está sendo afetado”.
Se a violência preocupa os jovens, eles também sabem apontar a sua principal causa: a desigualdade social, que concentra nas mãos dos 10% mais ricos cerca de 50% da renda nacional, contra menos de 1% destinado aos 10% mais pobres. “Está havendo um embate de classes no Brasil”, sentencia Erli Júnior, 18 anos, que faz o ensino médio em escola pública na capital paulista. “Quem trabalha seis horas, ganha R$ 10 mil, e quem trabalha 12 horas, ganha R$ 400,00. É uma diferença incrível”, analisa.
Erli, que já estudou no Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), trabalha numa empresa de informática e pretende cursar engenharia da computação, acredita que a divisão entre ricos e pobres tende a aumentar cada vez mais. “Os ricos não querem saber dos pobres”. Apesar do tom crítico, o estudante se diz otimista quanto ao futuro do país. “A política está piorando cada vez mais, mas nós, os jovens, estamos estudando para tentar melhorar”.
Já Fernanda dos Reis Domingues, 18 anos, acredita que o país está no rumo certo. “O governo está tentando reduzir a pobreza e isso deverá fazer diferença no futuro”, vaticina. Aluna da Cooperativa do Saber, um cursinho pré-vestibular fundado há doze anos por ex-alunos da Unicamp, ela concorda que a desigualdade social ainda é o principal problema do Brasil, mas se diz otimista. “Acho que haverá uma mudança na história”. Leitora de sites noticiosos, sua principal fonte de informação, ela critica o trabalho da imprensa. “A mídia está voltada só para a classe alta”.
Carla Cristina Silva Santos, 16 anos, que estuda à noite numa escola pública em Sumaré e durante o dia trabalha como babá, vai na mesma linha. Ela também aponta a desigualdade social como o principal desafio a ser superado e não duvida que o país possa fazê-lo. “Tenho esperança que as coisas possam melhorar”, arrisca. Mas confessa não detectar sinais de mudança no curto prazo. “Sou otimista na fé mesmo”. Seu sonho é cursar faculdade de administração.
Se entre os estudantes ouvidos há otimistas e pessimistas, também não faltam os que ainda não têm uma opinião formada sobre o futuro do país. Para muitos, entre duvidar e acreditar, o melhor mesmo é se divertir e deixar o tempo passar. Sara Paulino Ferreira, 16 anos, estudante de escola pública em Amparo, se diz otimista, mas não sabe explicar por quê. Enquanto não descobre o motivo, passa os dias entre a sala de aula e o computador no seu quarto. Qual seu site preferido? O do grupo mexicano RBD, sucesso entre adolescentes do mundo inteiro. Quer cursar medicina.
“Sei lá, acho que ainda dá para mudar”, analisa Maria Antonieta Carone, de 16 anos, que estuda em escola pública no município de Indaiatuba. Bruna Toda, 15 anos, aluna de escola particular em Campinas, desenvolve a mesma linha de raciocínio. “Não estou pessimista nem otimista, acho que pode melhorar mas não acredito que haverá uma mudança. Espero que melhore”. Maria Antonieta quer se formar em moda. Bruna vai prestar economia.
Ajeita os óculos escuros, passa a mão pelo cabelo rastafari, deixa o olhar perder-se no vazio e dispara: “o maior problema do Brasil é a corrupção”. Em seguida, faz um ar de fastio e completa: “está demais”. Aos 18 anos, Sebastião Donizeti Papini divide o tempo entre o curso técnico de programação em Indaiatuba e os ensaios da banda “Nonsense”, onde atua como baterista há três anos. Mas nem por isso deixa de acompanhar diariamente, pela internet, jornal e televisão, o panorama político do país. E não está gostando do noticiário. “Estou decepcionado com a classe política”.
vindos de 618 escolas em sete Estados, puderam circular livremente pela Universidade e travar contato com atividades de ensino e pesquisa.
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