“O espaço da periferia ganhou hoje novos contornos, articulando-se inclusive de forma diferente daquela observada há alguns anos”, explica a demógrafa. Segundo Izabella, o estudo de indicadores selecionados, baseados no último censo do IBGE, revela a existência de uma periferia bastante heterogênea, tanto no perfil socioeconômico e demográfico da população, como na capacidade de cada assentamento de se organizar politicamente reivindicando, assim, junto ao poder público, melhores condições urbanísticas e habitacionais.
No Parque Oziel, por exemplo, observa-se uma renda domiciliar per capita de 0,80 salário mínimo mensal, enquanto que nos bairros Cohab Vida Nova e Ocupação Vila Vitória, a renda é de 0,54 salário mínimo. “É uma diferença significativa, tendo em vista as características semelhantes entre os assentamentos e a distância em relação à média municipal, que é de 2,30 salários mínimos mensais”, afirma Izabella.
Outro ponto que chama a atenção da pesquisadora é a notória precariedade da forma de inserção no mercado de trabalho. “É muito grande o percentual de trabalhadores nas regiões estudadas que oscilam entre o desemprego e o trabalho informal nos serviços básicos que compreende atividades de baixa qualificação como serventes, ajudante geral e ambulantes”, afirma Izabella. Enquanto a média de Campinas nestas categorias fica em torno de 48%, no Parque Oziel, na Cohab Vida Nova e na Vila Vitória chegam a mais de 70%.
Em contrapartida, em áreas mais antigas, cujo adensamento da população já está mais consolidado, como é o caso da Cohab Padre Anchieta e região dos Amarais, os trabalhadores formais técnicos e do comércio possuem médias maiores ou pouco menores daquelas observadas na cidade. Na Cohab Padre Anchieta e ocupação Padre Josimo, a média é de 19,2%, sendo que a média campineira é de 19,8% de trabalhadores nestas condições. Na região dos Amarais, a média observada é de 16,1%.
Com relação às taxas de crescimento da população, a heterogeneidade fica ainda maior, evidenciada pela forma pontual que se observa no crescimento populacional na periferia do município, no período entre 1991 a 2000. Nos Amarais, a população decresceu a taxa foi de 0,9% negativo. Já no Parque Oziel, foi de 106,4%, enquanto na Cohab Vida Nova, de 116%. “Se considerarmos que estes dois últimos assentamentos surgiram ao longo da 1990, essas taxas de crescimento podem ainda ser consideradas maiores”, destaca a demógrafa.
Para a seleção das áreas que fariam parte do estudo foi utilizada uma categorização proposta pela Prefeitura Municipal de Campinas, que classifica as diferentes formas de assentamento popular, segundo a sua regularidade fundiária. Nesse âmbito, favelas são consideradas regularizáveis ou em processo de regularização. As chamadas ocupações são aqueles assentamentos que não apresentam condições de regularização.
Outra categoria proposta pela Prefeitura são os Núcleos Habitacionais, assentamentos que já passaram pelo processo de regularização fundiária, em que o título de propriedade ou concessão de uso já foi entregue aos residentes do local.
O estudo também contemplou áreas institucionalizadas, que são aquelas em que a Companhia de Habitação de Campinas (Cohab) implementa unidades habitacionais e os loteamentos comercializados pela iniciativa privada, com aprovação prévia da prefeitura.
A pesquisa foi financiada pela Capes/CNPq e faz parte do projeto, em desenvolvimento no Núcleo de Estudos da População (Nepo) da Unicamp, denominado “Dinâmica intrametropolitana e vulnerabilidade sócio-demográfica nas metrópoles do interior paulista: Campinas e Santos”. O estudo é coordenado pelo professor José Marcos Pinto da Cunha.