Ao
receber um pedido da repórter Patrícia Cançado, da Revista Forbes
Brasil, para conceder uma entrevista sobre propriedade industrial,
o professor Nelson Durán afirma que desconhecia a informação
de que era o recordista em registro de patentes entre os pesquisadores
de universidades brasileiras. “Quando a repórter explicou o
motivo da entrevista, fiquei surpreso”, revela. Chileno naturalizado
brasileiro, aos 58 anos, Durán detém 25 dos 240 registros feitos
por universidades do País. O número, segundo o pesquisador,
corresponde ao decênio 1991-2001. Sua primeira patente foi registrada
nos Estados Unidos no início da década de 1990, enquanto desenvolvia
sua tese de doutorado em Porto Rico.
As
informações pesquisadas pela Forbes Brasil constam do Science
Citation Index, o maior banco de dados científico do mundo.
As outras patentes registradas correspondem a projetos desenvolvidos
com os grupos de pesquisa que coordenou e que ainda orienta
como professor aposentado convidado e voluntário do Laboratório
Químico Biológico do Instituto de Química. A aposentadoria saiu
em 1998, mas a necessidade de acompanhar os projetos e a satisfação
profissional fizeram com que Durán aceitasse continuar na universidade
como voluntário. O professor reconhece o mérito de seus alunos
no recorde de registros de patentes. As idéias registradas envolvem
desde alunos de iniciação científica até doutorandos graduados
em biologia, bioquímica, química e engenharia química. Ao todo,
ele já formou em torno de 35 doutores e 25 mestres. “Tenho sorte,
meus alunos são muito bons”, reconhece. Para requerer uma patente,
o pesquisador precisa certificar-se de que sua idéia pode ser
qualificada como uma invenção com possibilidade de aplicação.
“São
os requisitos básicos para solicitar o registro. As pesquisas
registradas no Instituto Nacional de Propriedade Industrial
(Inpi) por Durán estão igualmente divididas entre as duas linhas
de pesquisa do laboratório: a de novos fármacos e a de biotecnologia
ambiental. Ele declara que os registros correspondem tanto a
procedimentos quanto a produtos. O produto não precisa ser necessariamente
novo. Existem casos em que o pesquisador modifica a fórmula
de um medicamento e este apresenta maior eficácia no tratamento
de uma determinada doença. “Aqui no instituto já foram desenvolvidas
drogas para chagas, tuberculose e câncer”, declara Durán. Um
convite da Universidade de São Paulo (USP) trouxe Nelson Durán
ao Brasil logo após a graduação realizada nos Estados Unidos
em 1975. Após o trabalho de três anos como professor convidado
na USP, o pesquisador decidiu fixar residência no Brasil e foi
contratado pela Unicamp, em 1978.
A
infra-estrutura do Laboratório Químico Biológico deve muito
à sua contribuição e dedicação à pesquisa. “Contribuí para montar
o laboratório”. Além de ser recordista em pedidos de patentes,
Durán é autor de 476 papers publicados, na maioria, em veículos
internacionais, muitos dos quais ele é consultor. Poliglota
(domina bem os idiomas espanhol, inglês, italiano e português),
ele é coordenador latino-americano do Latin American Coordinator
International Unesco Experet Council on Chemistry of Vegetal
Resources (Cocver), um conselho internacional de biomassa da
Unesco. Durán espera que o recorde descoberto em agosto deste
ano inspire outros pesquisadores brasileiros. A publicação da
pesquisa inibe a possibilidade de pedir registro da idéia. O
professor acredita que, na Unicamp, particularmente, o trâmite
não é tão complicado e, muitas vezes, o pesquisador perde a
oportunidade de proteger sua idéia, precipitando-se na publicação.
“É preciso conscientizar as pessoas a defender suas idéias.
A universidade tem papel importante para mostrar isso”, declara.
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Unicamp
faz a sua parte
Dados
apresentados pelo professor Douglas Zampieri, coordenador do
Escritório de Difusão e Serviços Tecnológicos (Edistec), armazenados
no Cience Citation Index, comprovam que em procedimentos acadêmicos
o Brasil se iguala à Coréia. Quanto ao domínio de patentes,
o número ainda é pequeno, as universidades detêm apenas 0,2%
do total de pedidos depositados no Inpi. Mas as discussões sobre
propriedade intelectual e industrial estimulam a procura de
pesquisadores pelo serviço do setor de marcas e patentes do
Edistec, garante Zampieri. Mas dentro do cenário que se apresenta,
a Unicamp tem feito sua parte e é apresentada como a universidade
brasileira que mais depositou pedidos de patentes, um total
de 187, das quais 42 já foram concedidas. Segundo Zampieri,
se for contabilizado o número de patentes antigas que caíram
em domínio público, pode-se dizer que a universidade, em toda
a sua história, depositou mais de 200 pedidos. A concessão de
uma patente, informa Zampieri, pode demorar até cinco anos,
até que seja realizado e aprovado um exame técnico do produto
ou do procedimento apresentado como invenção. Entre a concessão
e o deferimento da patente, o pesquisador espera mais dois anos.
Mas em um mês a idéia está protegida, prazo em que o Edistec
tem conseguido registrar o pedido. “A partir do momento em que
é registrada, a idéia está protegida”, afirma Zampieri.
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