Volta

 

A eticidade como proposta irrevógavel na teoria educacional de Rousseau

 

Gláucia Lima de Souza

Universidade Estadual do Ceará

 

Falar de educação, no contexto proposto por Rousseau é buscar se apoderar de toda a dimensão ética que comporta as obras do autor. É fundamental se aperceber que Rousseau contextualiza no decorrer de seus escritos as peculiaridades que validam a real educação, que só pode ser pautada na honradez do conceito ético que viabiliza a lapidação do indivíduo.

Rousseau, então, nos convida a iniciarmos uma criteriosa reflexão acerca das singularidades que justificam esta educação, que ao tomar uma perspectiva ética lança mão de uma possibilidade bem mais eficaz do que a que minimiza a educação a traços reprodutores de adestramentos inválidos, ao contrário, Rousseau eleva a educação à fonte irrevogável de tornar o indivíduo sujeito de sua própria vida, ou seja, a educação na ótica rousseauniana é uma chamada a aclamação da autonomia do ser, observando que seu papel não se restringe há um repasse mecanicista de conteúdos, mas o encontro dos conteúdos necessários com o exercício crítico da ética imprescindível para conduzir o ser humano ao que ele pode ser de melhor.

Para tanto, Rousseau dinamiza em cada etapa da formação do sujeito, os inevitáveis aspectos que tão margem a esta educação, que deve ser respeitada como uma herança de identificação do sujeito, que permite fazê-lo tutor de si mesmo e parte integrante do meio de forma eficaz. Cada momento deve ser explorado como escala necessária para o aprimoramento do indivíduo. Contudo, deve-se observar que somente o que for útil e necessário é o que será objeto colaborador da educação do sujeito, a fim de propiciar o que lhe respalde enquanto ser humano.

A Educação rousseauniana é esta que viabiliza a autonomia do sujeito, onde este se encontra no ápice de sua integridade, pois busca fundamentar-se no que for bom e útil, naquilo que lhe conduzirá á uma formação concisa e abastada de valores. Sendo assim, Rousseau compele a educação seu valor ético e faz dela o mecanismo mais eficaz de engrandecimento do indivíduo.

A irrevogabilidade da proposta lançada por Rousseau na educação, é a dinamização de vários campos que permitem a instrução eficaz do indivíduo, para isso Rousseau atribui a educação um aparato de condições, que nos permitiria, realmente, o exercício da mesma. A educação toma uma direção ética, não estando restringida a um caráter de adestramento acadêmico. Ao contrário, Rousseau nos instiga a uma perspectiva diferente no que tange a consistência da educação, apresenta a educação com a respeitabilidade na formação do indivíduo à medida que acolhe pontos fundamentais para esta formação; como a educação da sensibilidade (sentimental), a educação moral, a educação intelectual, a educação sensorial, a educação manual e social, a educação do ser moral, a educação religiosa, a educação sexual e a educação política, de forma que todos os conhecimentos do indivíduo pudessem ser seus realmente. Quando Rousseau cita: “Homens, sedes humanos” ou “Nunca é cedo demais para dar ao homem, ao adolescente, à criança o sentido das suas responsabilidades e portando para lhe confiar a responsabilidade de sua própria educação”, o que ele nos fomenta é esta, inevitável, responsabilidade sobre o ser que somos e nesta dimensão o “humano” toma toda a questão ética e moral, sai da exclusividade dos preceitos biológicos e aparelha-se de ferramentas que dizem respeito à formação do sujeito enquanto ser humano, com as roupagens que viabilizariam tal condição, o que de fato só é possível na dimensão da ética e moral. A ética vem a ser este alicerce da educação real do indivíduo e Rousseau propõe isto, pois o que comunga com a educação só poderia ser o que contribuísse para a lapidação de um indivíduo virtuoso. É isto que move o interesse de Rousseau, o indivíduo educado é o indivíduo ético e necessariamente o indivíduo virtuoso. Contudo, a proposta educacional rousseauniana não pretende com isto desmerecer de forma alguma a formação acadêmica, mas ver esta como um recurso e um instrumento bem utilizado na mão de um indivíduo bem educado, ou seja, de um sujeito ético.

Rousseau clama pela criteriosidade que comporta a educação e inválida qualquer possibilidade de ate-la a uma intolerável função desconstruidora da autonomia e autonomia exige eticidade no tramite comportamental; por esta razão a educação é este acessório imprescindível para firmar tal condição ao sujeito. Cada estágio do processo cronológico do indivíduo é respeitado, a fim de atender as condições que lhe permite assegurar um conhecimento conciso. Nada pode ser desmerecido que comprometa o engrandecimento do sujeito; que passa pelas etapas filtrando todas as peculiaridades que lhe compele a autonomia.

A visão rousseauniana acerca da educação, disponibiliza uma respeitabilidade eficaz para o trato da formação do indivíduo. Rousseau propõe que desloquemos o centro da gravidade da reflexão filosófica da razão, sugestionada pelo movimento iluminista, para o sentimento e com isto viabiliza como objeto a ser visado e visitado não o mundo exterior, mas o mundo interior, compreendendo que tal condição não dicotomiza a questão de maneira irrevogável, ao contrário, sugere o vinculo e a implicabilidade de ambos na passagem da atitude teórica para valorização moral e a perspectiva ética.

O traço significativo da proposta rousseauniana, reside nos caminhos práticos que ele procurou apontar para que o homem alcançasse a felicidade. Felicidade esta que, no contexto rousseauniano, podemos encontrar enquanto indivíduos na teoria pedagógica do Emílio ou Da Educação e no âmbito da sociedade através da constituição da extenuação dos problemas políticos do Contrato Social. Como podemos ver, a atmosfera que ronda as obras de Rousseau são fincadas na mesma estirpe que sela a imprescindível condição de se formar o homem. As obras de Rousseau se fundem num grande pacto de beneficência ao homem, na medida que o entende como a razão suprema de tudo, como verdadeiro tutor de si mesmo e como objeto indiscutível de primazia sobre o resto.

Emílio é um ensaio pedagógico que traça em linhas gerais o que deveria ser seguido como objetivo para fazer da criança um adulto bom, ou melhor, evitar que se torne um adulto mau, pois na concepção rousseauniana o homem é bom por natureza, na medida que a natureza é por assim dizer pura e completa, não necessitando de algo que lhe complemente. No entanto, esta semente do bom que trazida no âmago de cada homem, pode ser abalada na medida que não constitui o terreno propício para a germinação e enraizamento desta fonte. Cabe-nos neste momento gerenciar toda esta possibilidade de assentamento desta nascente que determinará o cumprimento da natureza. Um dos pressupostos de Rousseau é atribuir a civilização à responsabilidade pela origem do mal. O estado civil rompe com esta possibilidade de efetuar a prática da natureza na medida que condiciona os homens a coadjuvantes de si mesmos, incapacitando-os a protagonistas de suas histórias. A inviabilidade de se atribuir a honradez fundamental na formação do homem dissemina no estado civil como condição irrevogável, haja vista no estado civil limitamos a natureza do homem a um aparato de condicionamentos infundantes que exterminam a autonomia deste. A civilização adere a um conformismo aniquilante que minimiza suas potencialidades a um aparelhamento medíocre que subordina sua natureza a um resquício, inviável, de sobrevivência no âmbito social. O que Rousseau pretende é nos conceber uma perspectiva honrosa de nós mesmos, na medida que sofistica nossa formação com a respeitabilidade que esta merece.

Rousseau propõe o que na antiguidade clássica vimos em Sófocles, que criou dois personagens de nomes Antígona e Creonte, que representavam  respectivamente, duas leis, ou melhor, dois princípios de organização, que são: a lei do sangue (natureza) e a lei dos homens (sociedade). Rousseau segue o mesmo princípio através do Emílio e do Contrato Social, contudo sobre um novo ângulo, onde antecipa a dialética entre a moralidade e a eticidade, ou seja, entre a consciência moral do sujeito e sua objetivação num sistema de valores éticos integrados na estrutura do estado.

Com a percepção da natureza como o que provém o bom na concepção rousseauniana; o homem possui em si a semente desta natureza, o que não o exime da necessidade de lapidar-se e conduzir-se para o bem. O projeto educacional de Rousseau se fundamenta nesta vertente, onde preservar esta semente do bom é o regimento imprescindível para a formação eficaz do indivíduo. Por esta razão, a teoria educacional rousseauniana agarra-se a duas evidências indiscutíveis, que comportam dois aspectos, ou seja: o desenvolvimento das potencialidades naturais do indivíduo e seu afastamento dos males civis.

Emílio, como todos os indivíduos, nasce com a matéria prima para produzir uma formação consistente e digna. Numa analogia simplória, podemos utilizar a semente que tem a possibilidade e a capacidade, intrínseca, de produzir uma boa árvore e gerir bons frutos, contudo esta conseqüência depende do adubo que dispensamos à mesma. O que tentamos discorrer sobre esta questão é que na proposta rousseauniana a educação permeia as questões morais e éticas que tem como objetivo possibilitar que o indivíduo tenha julgamentos corretos e justos, que não sejam pervertidos pela passionalidade inconsciente. O educador permite que este princípio inato do bem seja favorecido, sempre permeado pela razão; compreendendo os momentos específicos de cada idade, que indica o grau de desenvolvimento mental já alcançado.

A inteligência é promovida para o desenvolvimento, através da lapidação do bem inato do sujeito, ou seja, lapidar esta semente do bom que trazemos intrinsecamente em nós, a fim de desenvolver todas as potencialidades do corpo e da alma no indivíduo. O exercício desse bem lapidado entre os outros sujeitos e o enraizamento do bem por meio de tudo que nos cerca (objetos e vivências) nos propiciando experiências como fator colaborador, subscreve em nossa estrutura o que há de mais valoroso.

A educação negativa de Rousseau contextualiza a viabilidade de se deixar o indivíduo agir. Fazer uso. Agir em seus órgãos, seus sentidos e em suas faculdades, permitindo e fornecendo ao mesmo o sentimento de sua própria existência. Para tanto, é preciso se sentir livre para agir, para usar e experimentar de tais questões. Tudo deve convergir para a promoção do sujeito, cada etapa deve visar tal objetivo. Então, deste o primeiro contato dos sentidos e do corpo com suas possibilidades até a educação destes. Assim como a lapidação dos mesmos. Tudo aspira para a preservação e alicerçamento do homem em sua natureza.

O que é mais relevante nesta proposta educacional é a reciprocidade ética e moral que ela insere. Razão e coração, homem e sociedade, moral e política são as perspectivas que dinamizam a educação rousseauniana. Tais proposições são alicerces indispensáveis na fundamentação educacional de Rousseau, que servi-se da lei natural, da liberdade, dos sentimentos e da razão para a formação do indivíduo, sendo Rousseau identificado como o filósofo que aponta na lei natural a predisposição para o bem e a justiça. Predisposição esta, que pode ser desvirtuada pelo nosso livre arbítrio ou pelo dos outros, assim como pode ser corrigida e consolidada pela razão que se irmana com os sentimentos, entendendo desta forma que a educação da razão é necessária para a educação moral.

Através da obra Emílio iremos apreciar os aspectos morais referentes a Rousseau no âmbito da educação. Percorrendo então o discurso Rousseauniano sobre o desenvolvimento das potencialidades do indivíduo, bem como a educação da consciência moral de um cidadão efetivo. Rousseau transcende a filosofia grega e sobrepõe a lei da natureza e a lei dos homens relacionando-as.

Encontramos uma proposta educacional formulada para retificar e refazer a sociedade do século XVIII. A base fundante da teoria moral de Rousseau reside numa lei moral inata, mas a consciência moral pode ser importunada por duas vias: uma via externa que seria as vicissitudes do estado civil “alimentada” pela hipocrisia. E uma via interna referente às paixões.

Portanto, a educação é ponto determinante para não deixar esta lei moral inata sucumbir. Assim, Emílio será instigado a uma educação moral, mas uma educação que aparelha-se na imprescindibilidade de ser desenvolvida corretamente. Iniciando-se com uma educação corporal perpassando os sentidos e também o intelecto, surgirá um homem em seu sentido mais honroso. Corpo exercitado a cada dia e mente, por conseguinte, perpassando pelo esclarecimento necessário para a aquisição da autonomia. Assim, o corpo e a mente serão observados para que possam sempre estar em “equilíbrio”. Aspecto fundante desta proposta educacional rousseauniana.

Inserindo-nos e baseando-nos na educação rousseauniana, iremos então acompanhar os pontos essenciais desta proposta educacional, que sub-jaz nas questões morais e éticas que objetiva a formação de um homem com idéias “justas e claras”, onde estas provêm dele mesmo, ou seja, o conhecimento que lhe assiste é fruto de sua natureza que manteve-se enriquecida e fortalecida, às quais, o permitirão ser um verdadeiro homem, um cidadão livre, capaz de manter sua integridade e conseqüentemente sua autonomia.

Rousseau ao promover esta educação para a razão, inicia com o nascimento da criança, uma vez que os fatores referentes ao desenvolvimento da inteligência devem ser aplicados desde os primeiros momentos da infância. A educação é uma necessidade básica para que se possa preservar o coração do indivíduo dos sentimentos viciosos, onde a bondade e a justiça se fazem inatos. É preciso educar para que o indivíduo possa ver o mundo a sua volta a partir de seus “próprios olhos”, e não se permita contaminar pela sociedade imperante que reduz a autonomia do indivíduo ao adestramento castrador, sendo capaz de agir somente pelos desígnios de sua própria razão.

Rousseau identificou três pontos que promoveriam o desenvolvimento, da inteligência, estes seriam a educação da natureza, a educação promovida pelo próprio homem e a educação a partir de nossas próprias experiências. Assim, o filósofo genebrino vai ao longo dos cinco livros componentes do Emílio, discorrer a respeito das peculiaridades implicativas que permitirão conduzir este a uma educação que o contaminará da ciência de si mesmo lhe fornecendo os subsídios vitais para tomar a tutela de sua existência.

O educador irá compreender os momentos específicos de cada idade que indica o grau de desenvolvimento mental já alcançado. Trata-se de um processo educacional aplicado de acordo com a idade do educando. Cada período corresponde a determinado intervalo de idade, e a este referem-se ações especificas, às quais o educador deve praticar para bem conduzir o educando. Mas notadamente ao que Rousseau destacou como primeira regra que o educador deveria considerar: “deixar agir”, a educação negativa proposta por este, que não priva o educando, na medida que não reprime o sujeito. A segunda regra exercitar e desenvolver faculdades e órgãos, demanda uma observação da natureza.

É indispensável se salientar que tanto esmero e dedicação a esta educação do indivíduo, que perpassa o aspecto físico, intelectual e moral do educando idealizado por Rousseau, será fundamentalmente para notabilizar o verdadeiro cidadão que deverá sê-lo; seu sentimento de justiça, sua bondade e pureza verdadeiras serão benéficas para muitos. Então, tudo deve ser cuidadosamente considerado a fim de promover um alicerçamento do que há de virtuoso para enrijecer o caráter deste indivíduo aspirado pela atmosfera rousseauniana, visando a formação de um sujeito autônomo.

Por isso, o indivíduo terá somente um educador que o conduzirá rumo a uma educação moral, tendo por fim último o desenvolvimento da razão. O que é de imprescindível no tocante da obra do autor é a respeitabilidade pelos estágios necessários para fomentar o esculpimento dos valores que alimentarão e alicerçarão a conduta do indivíduo, que se encontrará sobre a condição de lapidação de tudo que vir a contribuir para o engrandecimento do mesmo.

Rousseau nos propõe isto, uma educação que migra dos estreitos moldes dos adestramentos padrões, para a autonomia dignificante que designa ao sujeito seu papel efetivo enquanto homem e enquanto parte integrante do meio.

Verificaremos na estrutura educacional rousseauniana, a indignação de se propor fornecer ao indivíduo apenas a mediocrização do que este não deve ser. Por esta razão, a educação em Rousseau compromete um legado eficaz, que instrumentaliza o indivíduo a ser tutor de si mesmo. Não é possível se desassociar da abordagem rousseauniana acerca da educação, da perspectiva ética e moral. Estas estão inteiramente engendradas na ótica rousseauniana na medida que evidenciam a indispensabilidade de se agregar ao indivíduo subsídios que edifiquem a formação do mesmo, subsídios que possibilitam o enriquecimento deste, transformando-o em tutor mor de si, orientando-se pelo discernimento qualitativo da condução do que este é.

Rousseau obriga-nos a enxergar a responsabilidade sobre a matéria prima da autonomia do sujeito, matéria esta que não pode ficar desmerecida na minimização dos processos de adestramento. A educação é este instrumento que aplicado de forma condizente com seu conceito dignificante possibilita angariar ao indivíduo seu posto integral de “ser”, de “ser humano”, não somente uma marionete que dimensiona seus passos pela obscuridade do caminho, mas que enxerga a dimensão de seu passos para o caminho que aspira.

Educar então é viabilizar no homem todos os preceitos que o deixa senhor de seus próprios caminhos, que o torna capaz de exercer sua função primordial de ser humano, ou seja, de elevar sua presença biológica a uma exigência ontológica, onde a existência do registro do homem autônomo, capaz de gerir-se com a maestria harmoniosa que a razão assim o permite.

As perspectivas encontradas no processo educacional rousseauniano, prescreve a grande importância da educação da natureza, que consiste não em ensinar a verdade e a virtude, mas em resguardar o coração do vício, do erro, para que o homem seja um homem verdadeiramente.

O homem, como o visto, é o problema ontológico central de toda a sua filosofia. É, em verdade, a natureza humana que se trata em restituir a si mesma, em todos os aspectos, para que assim o indivíduo esteja perfeitamente disposto às formas de vida exigidas pelas condições do estado social.

Então, a obra, o Emílio, é essencialmente uma filosofia da educação, que reconhece que as transformações do estado, só acontecem pela educação, pela preparação do homem respeitando suas respectivas fases de desenvolvimento. Assim, articula a necessidade da educação como uma educação boa e verdadeira que começa pelo afastar-se do indivíduo desse estado civil corrompido, onde a educação desemboca na prescrição da indispensabilidade da bondade e pureza natural do indivíduo.

Enfim, é necessário oportunizar ao indivíduo sua preparação e como tal, encara-lo a partir do ponto de vista da liberdade de um processo educativo, que transpassa a educação negativa até a educação positiva, respeitando os estágios necessários para sua formação. O homem em seu estado natural é bom, perfeito e feliz: vive uma vida simples, permanece totalmente livre e trata os seus semelhantes como iguais. Infelizmente o estado civil aniquilou a auto-suficiência do homem, criou necessidades fictícias e estabeleceu um sistema baseado na desigualdade e na escravidão. É preciso na educação do indivíduo, aproveitar-lhes as tendências naturais e dar-lhes livre curso e é essa educação que o indivíduo merece receber, talvez não seja ainda a ideal, porém não transporemos o equivoco de pensarmos que o fundamental para se gerir a educação seria sua restrição à transmissão de conhecimento. A educação está voltada em primazia, à formação do indivíduo. É fundamental fomentar a semente da originalidade do bom em nós e nesta perspectiva inserir a responsabilidade de nossa existência, através da respeitabilidade de nossa vivência.

Os conhecimentos na proposta educacional rousseauniana não devem ficar instaurados e estagnados na transmissão mecanicista de conteúdos, mas na promoção destes conteúdos como conhecimentos concisos e abastados. A educação é este nivelador que ascende o indivíduo no ápice de sua potencialidade, voltando-o como fundamento da mesma.

A abordagem central que desvenda as peculiaridades que comportam o processo educativo rousseauniano é a permanência intacta do que instala no homem sua função maior, ou seja, sua responsabilidade enquanto ser humano e nesta condição viabiliza neste a imprescindibilidade de se tornar tutor de si mesmo, aferindo a seu comportamento conhecimentos próprios, que possam dignificar sua natureza.

Toda abordagem educacional rousseauniana nos inspira a um levante de primorosa ascensão do sujeito, que dignificava sua condição de humanidade por meio de um significado consistente e plausível que instaura neste, sua real possibilidade de felicidade. O que Rousseau nos sugere em seus escritos é a irremediável colaboração da educação do indivíduo como fonte de aspiração de sua auto-suficiência.

Nada em Rousseau propõe uma miniaturização do indivíduo, visto que o mesmo se cerca de relevantes preceitos que aquilatam no sujeito sua vivência dignificante. De fato, Rousseau contextualiza a necessidade de se aferir à dicotomia entre viver e existir, na medida que dispõem a existência o conceito de presença enquanto matéria e insere ao conceito de vivência a presença enquanto tutor de suas potencialidades. Entendo que a proposta em questão é gerir as potencialidades que semeiam o indivíduo em sua natureza, podemos então atribuir a cautela desta proposta no dever de preservação desta natureza, que é perfeita e completa e que necessita de ser alimentada com a culminância correspondente de sua essência. Esta preservação respalda a vivência do homem na medida que insere neste a respeitabilidade de sua condição maior.

A educação correta é aquela que é capaz de levar o homem a realização de seu maior objetivo, que é ser feliz e nesta dimensão a proposta educacional rousseauniana gira em torno da imprescindibilidade de conhecer sua própria natureza sem influência de uma falsa moral, portanto a verdade é o grande gerenciador que aferi nesta perspectiva a possibilidade de fortalecer o indivíduo de forma abastada. A felicidade é condição efetiva daqueles que são fortes e na teoria rousseauniana ser forte é conceber harmoniosamente a preparação de sua natureza, ou seja, viabilizar o controle de suas paixões e almejar seus desejos e sonhos a sua capacidade de realiza-los.

Para que o indivíduo seja forte é preciso que respalde em si suas reais necessidades e não se encharque de vicissitudes permissíveis a uma alma pequena. Este ardoroso trabalho se constitui a cada pequeno detalhe da formação do sujeito e é exaustivamente alicerçado sobre a ótica da verdade. O amor à verdade é algo que dinamiza esta visão educacional e impõe a esta a     efervescência da honradez de uma formação. A verdade é a grande bússola que contextualiza a educação rousseauniana, que adere a cada estagio do educando proposições que oficializem a atmosfera de dignificação desta.

A idealização desta proposta educacional rousseauniana nos remete a parâmetros de eficiente condução de pilares que sedimentarão uma constituição mais enriquecedora para o indivíduo. O ser humano em Rousseau é respeitado enquanto fundamento de sua natureza e esta somente o promove ao engrandecimento. Cabe-nos então, conduzir tal natureza como um navegador aplicado conduz sua navegação, ou seja, pressupondo-se sempre como exímio navegador para transpor as eventuais contingências do caminho, assim como lapidar-se em cima destas. Tudo deve contribuir para o aquilatamento moral do indivíduo. Esta é a condição fundante desta visão educacional rousseauniana.

Nesta constância de buscar o que possa aferir valor a essência do indivíduo, a natureza como patrona tutelar da completude perfeita, apresentasse como a perspectiva linear que inspira o sujeito ao desbravamento de sua continua projeção de fincar-se no que é de sua natureza, ou seja, no que é bom. Para tanto, Rousseau agrega a educação o seu sentido mais aquilatador, que é o que disponibiliza uma concretude de percepção de si mesmo que irrevogavelmente atente a imprescindibilidade de uma formação consistente, fazendo que este sujeito esteja submetido a si mesmo, sendo sempre comparado a ele mesmo, a fim de atender as exigências de sua natureza que predispõe a ele uma contínua busca pelo bom que faz-se em sua essência.

O desejo, a necessidade e a força são componentes que se fundamentam por si só, através da equilibrada harmonia existente na disposição de cada um na educação rousseauniana. Nada é desproporcional na tarefa cautelosa de gerir as condições que a natureza oferece. Tudo toma o ritmo da necessidade de se ater tal conhecimento na alma e desta forma o educando vai enrijecendo sua formação que baseasse na viabilidade de uma condição que respeite o que é bom.

Portanto, cada detalhe que permeia a educação rousseauniana é um brinde a perspectiva de exaltação ao bom que compõe nossa essência e cada passo proposto deve conspirar para o enrijecimento deste princípio que alavanca o homem no seu posto de direito e na sua condição de ser humano. Assim, Rousseau nos impregna de abastadas considerações que nos permitem reavaliar o grau de comprometimento que atribuímos ao cerne da questão educacional e o quanto negligenciamos seus fundamentos imprescindíveis para alicerça-la de forma concreta e consistente.

Nosso filósofo genebrino vasculha, a cada especificidade que dimensiona o indivíduo o roteiro certeiro para substabelece-lo de suas potencialidades, que arraigadas a sua essência aguardam a faísca desabrochadora de sua auto-suficiência. Serve-lhe do banquete de virtudes que o podem tutelar a si mesmo, satisfazendo a honradez que compele a vivência.

Guiar-se pela originalidade latente do bom que permeia o indivíduo, o fortalece de um possível corrompimento que lameia seu registro histórico e diminui sua função enquanto ser vivente. A projeção rousseauniana acerca do indivíduo nunca é pautada na realização de uma existência desaborosa, mas sim numa vivência plenificadora, capaz de realizar o que é importante. E o que é importante esta sempre subscrito pela ótica do BEM. Rousseau em suas obras maestras regeu uma sinfonia de aclamação ao sujeito, de rejeição a leviandade no trato com a vivência e de insustentabilidade de negligenciar todas as potencialidades do indivíduo. Portanto, desperdiçar a pulsão vital que nos afere a competência de nós é privar-nos de algo que nos fornece o cabedal para a honradez. A criteriosidade embutida em cada lance dos escritos rousseaunianos somente respaldam a procedência articulativa dos componentes que permitem a sincronia eficaz da veracidade contida neste processo educativo e fazem deste um grande aliado da emancipação no qual destina o indivíduo.

Assim educar é um trabalho que migra para a atmosfera da eticidade que respalda tal empreitada. A ética funciona como atributo indispensável para gerir a funcionabilidade de uma proposta educacional e Rousseau contextualiza esta questão com a respeitabilidade e a criteriosidade de um pesquisador que aferi a cada instante preceitos que revelam-se como o sustentáculo desta dimensão que constitui a educação. Educar é prover o homem dele mesmo, prover este de sua natureza, que é boa, a fim de enraíza-lo em seus fundamentos. Educar é dispor no homem sua autoridade enquanto autônomo e sujeito de si mesmo e impreterivelmente capacita-lo no que é capaz de ser, ou seja, bom por natureza.

 

Início do documento