Volta

 

Rousseau e Kant: a hipótese da história (1)

 

Daniel Omar Perez

Pontifícia Universidade Católica do Paraná

 

 

A hipótese de Rousseau: seus elementos.

 

Jean Starobinski, no seu livro Jean-Jacques Rousseau a transparência e o obstáculo, apresenta uma leitura da história elaborada em Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens como sendo constituída por uma linguagem de reflexão conjetural que acaba traçando o desenvolvimento de uma narrativa. Segundo Starobinski, este relato teria a particularidade de suplantar a história bíblica por uma estrutura análoga. Como um ato religioso, a história rousseauniana seria uma revelação do humano. “Rousseau recompõe um Gênese filosófico em que não faltam o jardim do Éden, nem a culpa, nem a confusão das línguas” (Starobinski 1991, 295). Essa semelhança e esse paralelo indicam também uma contraposição. A narrativa rousseauniana instaura a dupla operação de anular a Bíblia (ou colocar seu testemunho entre parênteses) e retomar os traços de um discurso mais mundano, que parte de uma imagem teórica da figura do homem. Essa imagem desenha aquilo que se tornará “ser histórico”, o ponto de partida para a explicação de uma questão: a origem da desigualdade.

Do mesmo modo que alguns dos seus antecessores, Rousseau procura reconstruir a origem “por via de subtração e de negação” (Starobinski 1991, 297). Despe o homem moderno para encontrar o homem em estado de natureza, tira das suas proximidades todas aquelas máquinas artificiais de que está munido na sociedade européia, inclusive aquelas que parecem inatas, como os julgamentos morais, e o personagem começa a se contornar.

Na paisagem de uma floresta um habitante em particular se destaca dentre todos os outros. A silhueta daquele ser, ainda sem história, caracteriza-se pelo seu modo de deixar de ser animal. O ponto específico dessa diferença está na interioridade da ação: O homem executa as suas operações como agente livre -escrevera Rousseau- onde o animal rejeita ou escolhe por instinto o homem o faz por um ato de liberdade. Assim, ele pode inclusive agir em seu próprio prejuízo.

Não é a capacidade de combinar idéias o que diferencia o homem da besta, mas o sentimento de poder querer. Não é o pensamento, um ato que pode ser explicado fisicamente a partir dos sentidos, mas o espírito aquilo que distanciará as condutas dos homens daquelas realizadas pelos outros habitantes da mata. Rousseau compara-o com os outros animais e descobre a habilidade que se sobrepõe à força bruta: a faculdade de aperfeiçoar-se. A saída da animalidade estaria orientada pela própria criação humana que leva à passagem do instinto de conservação e do impulso de simpatia para o aprimoramento da linguagem articulada, as regras formais do direito, da moral, etc.: o começo da história.

Uma suposta natureza humana (e a suposição aqui tem o estatuto da suspensão do dado empírico), em estado virtual, seria a condição de possibilidade, mas não a razão suficiente, para o desenvolvimento e a realização da vida em sociedade: a própria história. Os fatores externos, as circunstâncias cotidianas entram em uma relação de transformação com e do próprio homem. É por isso que Rousseau pode afirmar que embora o homem não seja naturalmente mau as suas estruturas sociais possam sim ser más. É nessa tensão entre o homem singular e as relações sociais que se decide o movimento da história onde –nas palavras de Rousseau- “o forte pôde resolver-se a servir ao fraco, e o povo a comprar uma tranqüilidade imaginária pelo preço de uma felicidade real”.

Os elementos de articulação são: o uso da razão e o trabalho. A partir daí o homem singular estabeleceria outra relação com a natureza que daria origem à história como progresso técnico. A queda se estabelece pelo conhecimento como a experiência do fruto da árvore proibida. Uma bondade amoral (paradisíaca) (como estado anterior à própria possibilidade de julgamento), que estaria na origem do homem, é abandonada em uma relação diretamente proporcional ao progresso técnico da sociedade (a queda), quanto maior é o desenvolvimento técnico da sociedade maior ainda é a degradação moral dos indivíduos.

 

 

A articulação rousseauniana entre ficção e documento na história

 

Em Alegorias da leitura Paul de Man questiona qualquer tentativa de ler Rousseau em sentido literal. Seu objetivo nesse texto é desvendar o uso de uma linguagem figurativa na construção do discurso. Para mostrar que sua hipótese de trabalho não é insólita ele busca apoio no modo em que deve ser compreendido um item em particular: o “estado de natureza”. E ainda acrescenta que “a maioria dos comentadores concorda que, pelo menos até certo ponto, esse é um estado que `não existe mais, talvez nunca tenha existido e provavelmente jamais virá a existir’” (de Man 1996, 160).

Com efeito, a leitura literal, já caduca, traz mais problemas do que soluções para a compreensão de Rousseau. O texto fica inconsistente e ingênuo, pronto para ser descartado da lista de escritos sérios sobre história e política. Mas –adverte-nos de Man- afirmar que esse estado é ficcional também não resolve qualquer problema, “o problema foi simplesmente deslocado, pois nesse caso qual é a importância dessa ficção em referência ao mundo empírico?”. “Como podem uma ficção pura e uma narrativa que envolve realidades políticas tão concretas como propriedade, lei contratual e modos de governo aglutinar-se numa história genética cuja intenção é desnudar as fundações da sociedade humana?” (de Man 1996, 161). É exatamente essa também a nossa pergunta.

Se concedermos o argumento de que não é um texto literal, então: como podemos sustentar uma ficção na construção de uma história que pretende nada menos do que explicar a desigualdade? Como pode Rousseau articular o dado empírico e a ficção literária sem estar escrevendo uma narrativa obstinadamente arbitrária em vez de uma história com sentido: a história da desigualdade?

A análise lingüística foi definitivamente feita por de Man, portanto, nós atenderemos a questões lógico-argumentativas que nos levarão a compreender os elementos e o estatuto daquela narrativa. Isto nos permitirá mudar o eixo literal/figurativo para o hipotético/documentado. Assim, aquilo que podemos chamar de ficção dá a sua entrada em um encadeamento de razões e a tarefa de Rousseau aparece como o labor de um filósofo que busca respostas a partir do questionamento dos fundamentos: do estatuto do próprio sentido.

 

 

A hipótese de Rousseau: a forma lógica.

 

No final da primeira parte do discurso sobre a desigualdade Rousseau dá um esclarecimento sobre a sua tarefa:

 

Confesso que os acontecimentos que tenho de descrever podendo sobrevir de inúmeros modos, só por conjeturas posso decidir-me na escolha. Mas, além dessas conjeturas se tornarem verdadeiras razões quando são as mais prováveis que se possam extrair da natureza das coisas e os únicos meios que possamos ter para descobrir a verdade, as conseqüências que eu quero deduzir das minhas conjeturas, por isso não serão conjeturais, porquanto, sobre os princípios que acabo de assentar, não se poderia estabelecer nenhum outro sistema que me fornecesse os mesmos resultados e do qual pudesse inferir as mesmas conclusões (Rousseau 1999, 84) (2).

 

Um fato, um acontecimento, uma situação histórica dada explica-se ou por uma cadeia causal empiricamente documentada ou por conjeturas, segundo Rousseau. Dada uma série de conjeturas (ou hipóteses explicativas) consideradas verdadeiras inferem-se conseqüências necessárias, também verdadeiras. Isto não nos fornece o relato de uma história propriamente dita, mas elementos de uma unidade coerente. E para marcar a diferença entre essa sua tarefa (filosófica) e a da história Rousseau declara ainda que “cabe à história, quando existe, apresentar os fatos que os ligam [que ligam dois fatos considerados bastante reais] e porque, faltando a história, à filosofia cabe determinar os fatos semelhantes que podem ligá-los, e porque...” (Rousseau 1999, 84). Trata-se de conjeturas que propõem fatos verossímeis para preencher lacunas e manter um fio condutor que possibilite sim à história, ou ao historiador, encadear fatos documentados em uma narrativa com sentido. A tarefa não é simples, porém, Rousseau mostra vários exemplos do uso do seu método.

Podemos ver um caso para poder avaliar seu alcance e nos decidir sobre a validade da sua aplicação:

 

É muito difícil conjeturar como os homens chegaram a conhecer e a empregar o ferro, pois não é crível que tenham imaginado por si mesmos extrair a matéria da mina e dar-lhe o preparo necessário para pô-la em fusão, antes de saber o que resultaria disso. Por outro lado, menos ainda se poderá atribuir essa descoberta a algum incêndio acidental, visto que as minas se formam em lugares áridos e desprovidos de árvores e de plantas, podendo-se até imaginar que a natureza tomara precauções para esconder-nos esse segredo fatal. Não resta, pois, senão a circunstância extraordinária de algum vulcão que, vomitando matérias metálicas em fusão, deu aos observadores a idéia de imitar essa operação da natureza. Precisa-se ainda supor, nesses observadores, muita coragem e previdência para empreender um trabalho tão penoso e imaginar, com tal antecedência, as vantagens que dele poderiam tirar, coisa que só tentariam espíritos já mais desenvolvidos do que esses deveriam (Rousseau 1999, 94-95).

 

Diante de um fato (é o caso aqui da utilização do ferro) avaliam-se diferentes possibilidades de explicação e finalmente escolhe-se a conjetura mais verossímil. A hipótese não se sustenta pela comprobação empírica necessária, senão quando se descartam os raciocínios mais improváveis chegando assim a um enunciado ou conjunto de enunciados que permita uma explicação coerente do próprio fato e da conexão com os outros. Deste modo, a conjetura tem uma força retórica capaz de sustentar o sentido da narrativa. Embora o enunciado não possa ser provado como verdadeiro é pelo menos verossímil.

Vejamos outro exemplo do funcionamento da escolha de hipóteses rousseauniana, desta vez, para explicar os governos:

 

Sei que muitos atribuíram outras origens às sociedades políticas, como as conquistas do mais potentes ou a união dos mais fracos. A escolha entre essas causas é indiferente ao que desejo estabelecer; no entanto, me parece mais natural pelas seguintes razões: 1º. Porque no primeiro caso, não sendo o direito de conquista, de modo algum um direito, não pôde fundamentar nenhum outro, ficando sempre o conquistador e os povos conquistados em estado de guerra entre si, a menos que a nação, reposta em plena liberdade, escolha voluntariamente seu vencedor como chefe; até então, como só se basearam na violência, umas poucas capitulações feitas, sendo consequentemente por si mesmas nulas, não pode haver nesta hipótese nenhuma verdadeira sociedade, nem corpo político, nem outra lei senão a do mais forte; 2º. Porque essas palavras forte e fraco são, no segundo caso, equívocas; porque, no intervalo que se encontra entre o estabelecimento do direito de propriedade ou do primeiro ocupante e o dos governos políticos, as palavras pobre e rico dão melhor o sentido desses termos, porquanto, com efeito, um homem não tinha, antes das leis, outros meios de dominar seus iguais senão atacando seus bens ou lhes transmitindo certa porção do seu; 3º. Porque os pobres, não tendo senão sua liberdade para perder, seria uma tremenda loucura da sua parte destituir-se voluntariamente do único bem que lhe restava, para nada ganhar em compensação; porque os ricos, ao contrário, sendo por assim dizer sensíveis em todas as partes de seus bens, era muito mais fácil causar-lhes mal; porque, consequentemente, tinham estes mais preocupações a tomar para defender-se disso, e, porque, por fim, é razoável crer-se ter sido uma coisa inventada antes por aqueles a quem é útil do que por aqueles a quem causa mal (Rousseau 1999, 101-102).

 

Não entraremos no mérito da questão, apenas assinalaremos para o processo formal que o filósofo executa. O procedimento de avaliação das teorias explicativas sobre o caso parte da formulação de teorias em enunciados e dentro destes enunciados analisa o significado dos conceitos. Assim, Rousseau descarta uma série de proposições até ficar com a mais razoável. Ele é taxativo em várias oportunidades: não se deve entender o relato do Discurso como um conjunto de proposições descritivas que demandem uma verificação histórica. Trata-se de um conjunto de raciocínios hipotéticos que visam esclarecer a natureza do assunto em questão. Trata-se de uma tarefa especulativa. Se quisermos entender a origem da desigualdade então devemos pressupor um estado de natureza a partir do qual desenvolver a cadeia de argumentos que permita explicar o estado atual. “É preciso notar que o estado de natureza não é um imperativo moral; não é uma norma prática, à qual seríamos convidados a nos adequar: é um postulado teórico, mas que recebe uma evidência quase concreta, pela virtude de uma linguagem que sabe dar ao imaginário todas as características da presença” (Starobinski 1971, 300). Com um estilo literário elogiável em uma construção retórica cuidadosa podemos dizer que Rousseau constrói um fio condutor hipotético para a narração de uma história real com sentido. A tarefa é imprescindível se quisermos (e Rousseau quer) não cair em afirmações apressadas e infundadas. Estas afirmações são as conclusões às quais deveríamos chegar, e de fato Rousseau chega, com o desenvolvimento argumentativo de um discurso que se articula em uma hipótese verossímil. Com efeito, a hipótese não funciona como primeiro motor senão que se espalha por toda a obra articulando o tramado da história que nos permita alcançar o objetivo pelo qual dita história está sendo reconstruída. Sem rodeios: o genebrino está menos preocupado por construir uma narrativa da história dos homens que por compreender o sentido de seu próprio tempo. Ou melhor, o filósofo quer enxergar a história por vir a partir desta história hipotética elaborada no segundo Discurso, que só é válida na medida em que permita compreender a atualidade: o fundamento ou a legitimidade da desigualdade.

A hipótese se justifica pela função que desempenha na tarefa do pensar. Isto é explícito, fundamentalmente, nas páginas finais do livro, mas é possível ver a hipótese em ação em vários fragmentos.

 

 

A hipótese de Rousseau em ação: uma história social das doenças.

 

No prefacio do Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens Jean-Jacques Rousseau se queixa do estado em que se encontram os conhecimentos humanos na sua época. “O mais útil e o menos avançado de todos os conhecimentos humanos parece-me ser o do homem e ouso afirmar que a simples inscrição do templo de Delfos continha um preceito mais importante e mais difícil que todos os grossos livros dos moralistas” (Rousseau 1999, 43) (3). Rousseau nos propõe uma espécie de retomada do “conhece-te a ti mesmo” após ter reconhecido o paradoxo que aparece quando “... à força de estudar o homem, tornamo-nos incapazes de conhecê-lo...” Sugere uma reflexão sobre a sua natureza (e isto aqui não significa um fisiologismo, muito pelo contrário) antes que um estudo sobre suas características e, neste sentido, relativiza o valor da medicina como um saber útil para os nossos cuidados. Cito Rousseau:

 

A extrema desigualdade na maneira de viver; o excesso de trabalho de outros; a facilidade de irritar e de satisfazer nossos apetites e nossa sensualidade; os alimentos muito rebuscados dos ricos, que os nutrem com sucos abrasadores e que determinam tantas indigestões; a má alimentação dos pobres, que frequentemente lhes falta e cuja carência faz que sobrecarreguem, quando possível, avidamente seu estômago; as vigílias, excessos de toda sorte; os transportes imoderados de todas as paixões; as fadigas e o esgotamento do espírito, as tristezas e os trabalhos sem-número pelos quais se passa em todos os estados e pelos quais as almas são perpetuamente corroídas – são, todos, indícios funestos de que a maioria de nossos males é obra nossa e que teríamos evitado quase todos se tivéssemos conservado a maneira simples, uniforme e solitária de viver prescrita pela natureza. Se ela nos destinou a sermos sãos, ouso quase assegurar que o estado de reflexão é um estado contrário à natureza e que o homem que medita é um animal depravado (Rousseau 1999, 61).

 

Neste parágrafo Rousseau relaciona doença, estrutura social e pensamento mostrando que o problema das enfermidades não poderia ser reduzido a qualquer estudo bacteriológico. Doença e modo de vida em sociedade estão tão ligados para Rousseau que ele ainda nos convida a fazer a história das doenças seguindo a história das sociedades civis. Essa é uma tarefa que Michel Foucault aceitou e realizou com brilhantismo na história da medicina, da psiquiatria e da criminologia (4). Rousseau não parte da pressuposição de um homem dado, senão que propõe entender a natureza do homem como a tarefa de uma filosofia que se interroga desde a atualidade e é a partir dela busca reconstruir o sentido da história.

 

 

A hipótese de Rousseau em ação: uma história das subjetividades

 

A hipótese de Rousseau também nos faz ver a relação entre aquilo que denominamos homem e a sociedade na qual habita como uma relação constitutiva. O leitor –citamos Rousseau- “compreenderá que o gênero humano de uma época não sendo o gênero humano de outra, esta é a razão porque Diógenes não encontrava um homem, pois ele procurava entre seus contemporâneos o homem de uma época já passada” (Rousseau 1999, 114). O enunciado nos propõe uma natureza dinâmica. A alma humana muda a sua natureza porque mudam suas necessidades. Os desejos e as paixões atuais são obras das relações sociais e não tem qualquer fundamento nem uma natureza fisiológica estática. Escrevera Rousseau: “o homem selvagem e o homem policiado diferem de tal modo, tanto no fundo do coração quanto nas suas inclinações, que aquilo que determinaria a felicidade de um reduziria o outro ao desespero” (Rousseau 1999, 114).

Embora se trate de deduzir “apenas pelas luzes da razão” da natureza do homem o progresso da desigualdade a hipótese de Rousseau nos convida a pensar o homem contemporâneo não como uma abstração, mas como o efeito do estabelecimento da propriedade e das leis, das relações sociais e das instituições. Desde os Discurso... até Nova Eloísa o homem aparece como a decorrência do que poderíamos chamar hoje de políticas sociais (educação, ciência, artes, direito).

Não é por meio de uma especulação cartesiana que chegamos a pensar o ponto de partida, mas pela utilização de um procedimento lógico-retórico sobre a leitura e interpretação de fontes históricas e científicas. A fonte de Rousseau está em testemunhos, relatos de viagem e estudos de história natural (a constatação disto está nas notas do apêndice do Discurso). Com isso constroem-se conjeturas (hipóteses) e se estabelecem derivações. A verdade do cálculo é substituída pela verossimilhança do discurso e a narrativa histórica encontraria, deste modo, o seu sentido.

 

 

A relação Kant-Rousseau

 

Está certamente documentado que uma das leituras mais importantes de Kant era sobre os livros de Rousseau. Não é conjetura que uma influência poderosa causou a escrita rousseauniana sobre o trabalho kantiano. Não é interpretação nem hipótese senão doutrina o enunciado que afirma ver em Rousseau o principal interlocutor de Kant em matéria de Antropologia, Direito e História. Porém, isto não implica necessariamente a assimilação do primeiro pelo segundo. Apesar da imputada filiação também podemos encontrar as diferenças que respondem a dois programas de trabalho filosófico irredutíveis. Neste sentido, citamos aqui dois estudos da relação Kant-Rousseau. O primeiro é o de Guy Lafrance (1997) que mostra a relação no tema da antropologia. O segundo é o de Aylton Barbieri Durão (2004) que expõe as duas concepções no que refere ao âmbito do direito. Nosso trabalho avançará na área da história, porém, do mesmo modo que os autores anteriores, também não buscaremos o lugar em que Kant cita Rousseau, mas o modo em que confrontam (5).

 

 

A hipótese de Kant

 

Nos textos de Kant também se busca uma hipótese para estabelecer um fio condutor a priori que permita pensar o sentido da história. A tarefa está colocada explicitamente em 1784, 1785 e 1786 com os textos Idéia para uma história universal do ponto de vista cosmopolita, Resenha do livro de HerderIdéias para a filosofia da história da humanidade” e Começo conjetural da história humana.

A pergunta que surge nos escritos é: como poder entender os fenômenos que se nos aparecem aleatoriamente e como sem nexos? Como entender a trama de acontecimentos que se desenha a partir das ações humanas? A resposta é a elaboração do conceito de Intencionalidade da Natureza. Aí está o conceito hipotético-teleológico que nos permitiria redigir uma história com sentido (6). Mas como não se trata de qualquer intencionalidade é preciso ver a tarefa de elaboração desse conceito nas suas duas faces: uma positiva, no texto de 1784 e 1786, onde Kant apresenta o significado do conceito; e outra negativa, no texto de 1785, onde Kant mostra o limite do possível fio condutor por meio de uma crítica contra Herder. È como se os textos se articulassem em uma operação de desarticulação da fundamentação metafísica (em 1785) e de articulação de fundamentação crítica (em 1784 e 1786). A final não é qualquer conceito que pode ser denominado com o título de fio condutor a priori, especialmente depois de ter redigido a Crítica da razão pura e a Fundamentação da metafísica dos costumes, onde Kant critica o modo de propor princípios e usar conceitos da metafísica tradicional e propõe as condições de possibilidade de proposições com sentido (teórico e prático).

 

 

O labor negativo

 

Na resenha do livro de Herder Idéias para a filosofia da história da humanidade Kant discute em tom irônico (porém incisivo) contra a metafísica. A importância da leitura desta resenha se funda em que se apresenta um exemplo concreto de tudo àquilo que Kant considerava um erro em esta matéria. O escrito não deixa dúvidas, ele declara que a filosofia da história da humanidade que se deriva da escrita de Herder está longe da pontualidade lógica na determinação dos conceitos e da diferenciação e verificação dos princípios. De acordo com Kant, o texto de Herder se oferece como um olhar abrangente elaborado com muita imaginação e povoado de idéias peculiares. Com efeito, a narrativa herderiana introduz conceitos e analogias verdadeiramente curiosas. Porém, antes de observar a particularidade das idéias de Herder é preciso dizer: acaso a construção da figura de um homem em estado de natureza, como costumavam fazer os filósofos mais renomeados, não era também uma idéia peculiar? A pergunta aqui é: qual é o limite entre uma narrativa da história e um escrito imaginativo, entre um fio condutor a priori ou uma hipótese válida para poder explicar o nexo entre os acontecimentos e uma “idéia peculiar”?

Kant relata que no início do livro Herder situa o homem entre os habitantes dos planetas do sistema solar e depois passa a considerar sua posição na Terra. Isto leva o escritor a sugerir um fim comum para “todas aquelas criaturas que tenham alcançado a maturidade em tantos e tão diferentes mundos gêmeos”. Dentro desse mundo o homem é considerado o resultado de uma história natural dos cristais e da vida, da terra e dos animais e das plantas. Dentro desse mundo heterogêneo a própria forma esférica da Terra motivaria a unidade da diversidade.

Outra idéia curiosa de Herder é a relação que estabelece entre o tipo de solo e a influência sobre o caráter dos povos que o habitam. Também a vida das plantas é utilizada para fazer analogias com a vida do homem e comparações entre o amor sexual e a floração.

Herder também especula sobre a origem da vida, dos impulsos e dos pensamentos. As criaturas engendram os estímulos vivos da inanimada vida das plantas mediante a disposição dos órgãos. Destes estímulos surgem os impulsos vitais e da sensação deles surge o pensamento. Herder postula um princípio orgânico da natureza para explicar a formação de cada caso: formativo na pedra, impulsivo nas plantas, sensitivo ou artisticamente estruturado que passa dos animais aos homens. O homem de Herder teria obtido a razão como resultado da sua posição ereta (7) e com ela toda sua humanidade: amor materno e sexual, simpatia, a regra da justiça e da verdade, a decência e a religião.

Mas a idéia mais curiosa é a da introdução da hipótese de forças espirituais que operariam sobre a matéria organizando e aperfeiçoando toda a criação, inclusive o homem. A alma humana e a realização da própria humanidade no homem seriam os resultados de forças espirituais (Kant, 1983, vol. X, 781-9). Em relação com isto, no inicio da segunda parte do seu texto, Kant escreve: “Deve se provar, evitando toda investigação metafísica, a natureza espiritual da alma humana, sua perseverança e progresso na perfeição a partir da sua analogia com as formações naturais da matéria, principalmente na sua organização” (Kant, 1983, vol. X, 790).

Com efeito, a hipótese das forças invisíveis quer explicar aquilo que não se compreende com algo que se entende menos ainda. Do âmbito da natureza podemos apreender leis mediante a experiência, diz Kant, “mesmo quando as causas permaneçam desconhecidas”, porém, no que se refere aos espíritos carecemos de toda experiência. Diante disso o filósofo não tem como justificar suas pretensões e, por desespero apela para a poesia que no discurso filosófico se transforma em metafísica dogmática (Kant, 1983, vol. 10, 791-2).

Kant rejeita ainda o “fio condutor fisiológico” que estabelece a relação entre a posição ereta do corpo humano, o desenvolvimento da sua figura e do seu cérebro e a finalidade outorgada a essa organização como racional. Segundo Kant, esse é outro vôo metafísico que não pode ser sustentado. Não é da natureza humana (no sentido fisiológico) que podem se derivar as suas habilidades racionais e, em conseqüência, as manifestações da sua história.

A crítica de Kant contra Herder mais do que ser em favor de uma outra teoria ou de uma nova teoria da história é uma correção de caráter lógico-semântica. Na tentativa de relacionar espírito e matéria, forma e finalidade Herder usa conceitos cujo procedimento de doação de sentido não se sustenta (Kant, 1983, vol. X, 793-4). Kant está convencido de que “os materiais para uma antropologia e o método da sua utilização para ensaiar uma história da humanidade no conjunto da sua determinação” não devem ser buscados nem na metafísica, nem no gabinete do fisiologista. Apenas podem ser encontrados nas ações dos homens, que é como ele manifesta seu caráter.

De um modo bem diferente Herder postula ainda a hipótese de uma natureza humana que na sua formação como ser racional e moral foi instruído por outras naturezas: os Elohim. Sem critério, a introdução de uma figura se sucede com a outra. O procedimento de introdução de hipóteses ad hoc e o desdobramento de analogias é tão generoso que desborda os limites do próprio texto. Segundo Kant, “um sistema levantado sobre uma base tão vacilante, adquirirá a aparência de uma hipótese ruinosa” (Kant, 1983, vol. X, 801). Deve-se advertir que não se trata de que Kant seja contrário à idéia de levantar uma hipótese de início, algo assim como uma conjetura ou mesmo uma ficção genealógica. Muito pelo contrário, em Começo conjetural da história humana, de 1786, afirma-se que é perfeitamente aceitável uma conjetura respeito do primeiro começo (Kant, 1983, vol. IX, 85).

Naquele escrito, a conjetura que permitiria falar do início da existência do homem postula um ser ereto, do ponto de vista fisiológico nem melhor nem pior do que ele é até agora, com capacidade de falar relacionando conceitos e de adquirir por si mesmo várias habilidades. Segundo Kant, o homem fala, não por uma questão fisiológica ou uma necessidade biológica, mas para comunicar sua existência. Diz Kant: não vejo qualquer outro motivo a não ser o desejo de dar a conhecer sua existência (Kant, 1983, vol. IX, 87) (e assim, poderíamos dizer ainda, realizar sua própria história). Do mesmo modo, as habilidades adquiridas não se derivam absolutamente de um instinto. Escreve Kant:

 

É um atributo da razão produzir, de modo artificial, com a assistência da imaginação, não somente sem um impulso correspondente da natureza, mas ainda contra esse impulso, desejos que recebem no princípio o nome de concupiscência, com os quais chega a se tecer  aos poucos um conjunto de inclinações supérfluas e inclusive contrárias à natureza, com o nome de voluptuosidade (Kant, 1983, vol. IX, 88).

 

Isto, segundo Kant, poderia ser entendido como uma ação livre, a partir da qual o homem descobre nele uma faculdade para escolher por si mesmo um modo de vida (8). Com esta descoberta logo viria a angustia e a inquietação de como obrar. A liberdade coloca ao homem na beira do próprio abismo (Kant, 1983, vol. IX, 87). Após colocar a razão perante o instinto do alimento (donde aparece a comparação e a substituição e, portanto, o conhecimento), o segundo passo foi se colocar perante o instinto sexual (onde aparece a abnegação e a honestidade formando o ser como criatura moral) (9); em terceiro lugar apareceu a atitude expectante diante do futuro e com isto a capacidade de se propor fins e ,em quarto e último, a razão se coloca diante do próprio homem que se reconhece a si mesmo como fim da natureza. Assim, o homem pode e deve se governar a si mesmo e sair do seio maternal da natureza, não porque tenha uma razão instrumental e o resultado do seu cálculo seja infalível, mas porque ele pode se colocar fins e se considerar o fim da natureza. Deste modo, a razão “impulsiona o homem a tomar com paciência o esforço que odeia, e continuar o trabalho que desaprecia e esquecer a morte...” (Kant, 1983, vol. IX, 92).

Com a razão (como sistema de fins) surge o progresso do homem por meio do trabalho que se realiza na espécie. Kant entende que o conceito de espécie do homem significa o conjunto de uma série de gerações indefinidas no tempo, e afirma que é possível pensar que esta série se aproxima na linha da sua determinação de modo assintótico. A determinação do gênero humano no seu conjunto é um progresso incessante e sua realização é uma mera idéia, porém, útil para a meta que devemos cumprir segundo o propósito da providência (Kant, 1983, vol. X, 805-6).

Deste modo, Kant coloca um conceito teleológico (hipotético) tal como propósito da natureza ou intencionalidade da natureza (o termo alemão utilizado por Kant é Natuarabsicht) que lhe permite ordenar os fatos detrás para frente. Aqui a hipótese é um conceito heurístico que não se justifica como postulado teórico e sim como a possibilidade de poder pensar aquilo que é um fim racional da humanidade no âmbito da natureza.

Porém, esta noção de progresso acarreta um aparente paradoxo. Antes da razão não havia males nem vícios. O estado de natureza não reconhecia o julgamento. O estado de liberdade, no início é entendido moralmente como queda e fisicamente como castigo para Kant. Do ponto de vista do indivíduo isto tudo aparece como uma perda, perda do paraíso sem valorações morais, sem constrangimentos morais. Porém, do ponto de vista da espécie é uma conquista. Aquilo que é ruim ou mau para o indivíduo, porque o obriga a fazer aquilo que deve, pode ser entendido como um passo em direção ao progresso para a espécie. Escreve Kant:

 

Deste modo, é possível conciliar entre si e com a razão as afirmações do célebre J.J. Rousseau, comumente mal interpretadas e aparentemente diversas umas das outras. No seu escrito sobre a influência das ciências e naquele sobre a desigualdade dos homens, mostra com exatidão o inevitável conflito da cultura com a natureza do gênero humano, considerado como uma espécie física, em que cada indivíduo deve lograr sua determinação; mas em Emilio e em Contrato Social e em outros escritos trata mais uma vez de resolver o problema mais difícil: como deve progredir a cultura para desenvolver as disposições da humanidade, considerada como uma espécie moral, de acordo com a sua determinação, de modo que não seja diversa com a espécie natural. Conflito (que a cultura, segundo princípios verdadeiros de educação e do cidadão, talvez não tenha começado, nem menos ainda concluído) do qual surgem todos os males reais que sufocam a vida humana e todos os vícios que a desonram; pois, as tentações ao vício que aparecem como culposas para o indivíduo, são em si mesmas boas e adequadas como disposições da natureza, ainda que como disposições estivessem situadas no mero estado de natureza, padecem prejuízo com a progressiva cultura, que, pelo contrário, comete o prejuízo, até que a arte perfeita volte a ser natureza: no que consiste a última meta da determinação moral da espécie humana (Kant, 1983, vol. IX, 93-4-5; o destaque é meu).

 

Com efeito, há um esforço da humanidade, na espécie, realizado através do trabalho, para avançar na sua determinação moral conforme os fins estabelecidos pela sua própria razão (até ele próprio como fim da natureza), mas, por outro lado, existem as leis da natureza que se realizam nas inclinações de cada indivíduo. Kant resolve o problema de Rousseau mostrando como, por meio de um conceito heurístico, é possível elaborar o fio condutor de uma história da humanidade que integre de um modo não paradoxal, não apenas as ações dos homens bem motivados, seja por um sentimento de piedade ou seja pela lei moral, mas também (e aqui está a diferença) as ações dos homens mal motivados. Deste modo, Kant evita entrar no problema de uma história degenerada ou decadente, de uma história que deveria ter sido, mas não foi. Se bem o fim último da história em Kant é moral ele evita moralizar o fio condutor da narrativa histórica. Isto fica mais claro quando Kant introduz o direito.

Um dos exemplos colocados por Kant, que podemos citar para ilustrar, é justamente o da desigualdade entre os homens referendo-se a Rousseau. Em uma citação de rodapé do Começo conjetural... Kant comenta o conflito entre a determinação natural e a determinação moral e escreve:

 

A desigualdade entre os homens pode constituir um terceiro exemplo, mas não aquela referida aos dotes naturais o bens de fortuna, senão à própria desigualdade geral dos direitos humanos: uma desigualdade que Rousseau lamenta com toda razão, mas da qual a cultura não estará separada na medida em que avance, de algum modo, sem plano (o que é inevitável durante um longo tempo) e que, certamente, a natureza não tinha determinado para o homem; como lhe deu liberdade e razão, esta liberdade não podia se limitar senão por meio da sua própria legalidade geral e exterior, e que se denomina direito civil (Kant, 1983, vol. IX, 95 o destaque é meu).

 

Rousseau anuncia a origem da desigualdade no surgimento da sociedade, Kant aceita o argumento, mas busca uma resolução legal que pode ser pensada na sua realização a partir dos fins que a própria razão coloca. Mas não é só o direito o que está em jogo aqui, Kant entende que os mesmos males que aparecem com os povos civilizados impulsionam estes para a realização dos fins. Assim, o armamentismo, a brevidade da vida e o desejo nostálgico de voltar para uma ilusória idade de ouro, segundo Kant, são também parte dos mecanismos de progresso.

 

 

Conclusão

 

É útil para o homem, de acordo com Kant, mas também de acordo com Rousseau, uma apresentação da história na qual não se coloque a culpa dos males na providência divina nem no pecado original, que condicionaria arbitrariamente todas as ações futuras. É útil para isso não cair em nenhum fisiologismo nem em qualquer messianismo. A saída é a elaboração de uma hipótese racional que se sustente na trama das argumentações ou no funcionamento dos mecanismos da razão. É preciso reconhecer que o mal surge do abuso da própria razão (Kant, 1983, vol. IX, 102) e não o resultado de um mecanismo natural oculto ou do destino. Mas, a diferença do modo de entender a hipótese, que se coloca como fio condutor da história, nos permitirá pensar em cada caso um modo diferente de resolução. Entretanto, a questão aqui é que a indagação dessa hipótese suspende a afirmação sem dificuldades de um sentido preestabelecido na história, colocando em litígio a possibilidade dos fundamentos do sentido da história.

 

 

Referências Bibliográficas:

 

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Turró, S. Tránsito de la Naturaleza a la Historia en la Filosofía de Kant. Barcelona: Editorial Anthropos, 1996.

 

 

Notas

 

(1) Este trabalho é o resultado parcial de uma pesquisa mais ampla sobre a possibilidade de sentido do conceito de história em Kant.

 

(2) Utilizo a tradução para o português de Lourdes Santos Machado publicada pela Editora Nova Cultural.

 

(3) O Oráculo de Delfos tinha uma inscrição com três preceitos: fala pouco, não te comprometas com mais daquilo que realmente podes fazer, conhece-te a ti mesmo. Michel Foucault em Hermenêutica do sujeito aborda a possibilidade de interpretação do terceiro preceito, por um lado, como meramente cognitivista transformando o si mesmo em objeto de estudo, por outro lado, como uma tarefa de indagação de si a partir de si mesmo. Deste modo, reconstrói a problemática desde os pitagóricos até os primeiros cristãos mostrando que a segunda interpretação foi predominante, deixando a segunda interpretação para a virada cartesiana, propiciada já pela teologia da época da escolástica, com a sua separação da espiritualidade e seu estabelecimento como saber lógico-especulativo. Mesmo assim, Foucault afirma, sem desenvolver, que a problemática do saber de si (não como mero objeto de estudo) reaparece na modernidade. Lendo extemporaneamente Rousseau podemos dizer que ele está indicando exatamente para esta mesma questão. Poderíamos ainda ampliar e dizer que isto também está presente em outros pensadores temporalmente mais próximos como Montaigne, Pascal, Gracián, Kant ou Schopenhauer. Um estudo destas características nos levaria a repensar a teoria do sujeito na modernidade.

 

Para um estudo mais aprofundado entre Rousseau e os antigos ver Arlei de Espindola A gênese da moralidade e a crítica do progresso em Jean-Jacques Rousseau e suas antecipações nas filosofias helenísticas. In PEREZ, D.O. (org) Ensaios de ética e política. Cascavel: Edunioeste, 2002 e também do mesmo autor Rousseaue Sêneca: natureza humana e crítica da sociedade. In 2005 de ALMEIDA MARQUES, J. O. Verdades e Mantiras 30 ensaios em torno de Jean-Jacques Rousseau. Ijuí: Editora Unijuí, 2005.

 

(4) Estou-me referindo à História da sexualidade, História da loucura, Nascimento da clínica, Vigiar e punir e os cursos da década de 1970 no Collège de France.

 

(5) Para observar pontos fundamentais da influência de Rousseau sobre Kant sugerimos o texto de Brigitte Geonget L’Influence de J-J Rousseau sur Kant: mythe ou réalite?que foi utilizado como texto introdutório à mesa redonda sobre o tema no colóquio de Dijon de 9-11 de maio de 1996, organizado pela Sociedade de estudos kantianos de língua francesa sob a direção de Jean Ferrari. Publicado em Ferrari 1997. Na obra de Kant haveria 79 ocorrências do nome de Rousseau e 29 citações às suas obras.

 

(6) Em outros textos demonstrei o caráter hipotético do conceito teleológico da história na década de 1780. Um deles é A história como romance em Kant publicado in VERARDI BOCCA, F. (org), Natureza e liberdade. Curitiba: Champagnat, 2005; o outro é Os significados da história em Kant, trata-se de um texto ainda inédito, porém, apresentado por partes em diversos eventos na Argentina e no Brasil. Outros autores também sustentam, de modos diferentes e com outros argumentos a noção de hipótese com relação ao conceito de história. Podemos citar dois: Ricardo Terra e Salvi Turro.

 

(7)  Ainda hoje essa hipótese é sustentada por arqueólogos.

 

(8) O termo em alemão Lebensweise é utilizado por Kant em várias oportunidades onde ele refere à moralidade.

 

(9) A relação estabelecida entre repressão sexual e moralidade ecoa (em sentido inverso) a teoria freudiana apresentada em Totem e tabu. No texto Idéia de 1784 Kant afirma que o progresso moral é provocado patologicamente. As duas idéias são muito sugestivas para um estudo da relação Kant-Freud. Lembremos que Kant é o filósofo mais citado por Freud.

 

 

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