Volta
Rousseau e os conflitos pós-modernos
Washington Martins
Universidade Federal de
Pernambuco
Nossa comunicação é dedicada aos vinte
e um anos de existência do MST (Movimento dos sem Terra).
Se, para Rousseau,
é na razão do homem natural que podemos encontrar razão social, o bom senso
e a boa vontade do governante (legislador), deve, antes de instituir as
leis, examinar as condições existenciais do povo para verificar sua aptidão
para elas; método que, numa sociedade contemporânea de massas, basicamente
de consumidores, pode ser chamada como “pesquisa de opinião”. O legislador
deve ter como critério a prudência de saber que toda lei deve buscar
corresponder à verdadeira natureza do povo a quem governa,
restaurando a paz e a abundância entre todos.
Rousseau pensa um
estado natural onde impera a abundância a partir do comparativo de que os selvagens
não lutam entre si para sobreviverem. Esse conceito é transportado por
Rousseau para o estado social e tem, sem dúvida, sua utilidade na
eliminação dos conflitos da escassez de oportunidades no âmbito da
alimentação, moradia e trabalho, que, a nosso ver, na sociedade contemporânea,
se reflete em
questões como a da reforma agrária (propriedade
comunal), da crise do trabalho (exclusão
social) e livre oferta do
mercado globalizado (abundância).
Rousseau, ao
focalizar a natureza como paradigma social ,
proclama o cultivo da terra, o ethos primitivo da propriedade comum, do homem
rural da civilização e a importância do campo e da floresta como o palco verdadeiro para o progresso . Seu
discurso natura, evidencia ser a atividade agrícola, a principal ação do
governante de garantir progresso e independência econômico-social de seu
povo. Rejeitando, portanto, uma economia nacional baseada na indústria e no
comércio, a qual, nos dias hodiernos, ampliou a cultura do consumismo;
Rousseau vai fazer a defesa do trabalhador rural nos moldes de que esses tenham
condições de permanecerem no campo, e não abandonarem a terra em troca de
promessas de boa vida na cidade. Como afirma nessa passagem do Discurso
sobre a Origem da Desigualdade:
O abandono dos campos, fruto dos impostos exorbitantes que
abatem sobre o agricultor, gera legiões de mendigos que se estendem como
nuvens de insetos
Rousseau sempre
foi comedido com a possibilidade da entrada do capitalismo na vida do
campo, visto que sua visão de agricultura era a de subsistência,
devendo-se, portanto,em sociedades de considerável população, produzir para
consumir, em prol de uma vida simples, pacata, onde cada família gerasse
seu sustento em um pedacinho de terra, longe de uma conseqüência drástica
de falta de equidade onde um considerável número de indivíduos se
transforma em catador de lixo,
favelado, disputando espaço com
urubus.
O discurso de
Rousseau se monta numa manifestação da luta que, ao longo do tempo,
enfrenta o trabalhador rural contra o capitalismo, do mesmo modo que hoje
fazem os ecologistas frente ao incontrolável tecnologismo
na rejeição ao alimentos transgênicos.
Se em Hobbes a conservação se dá pelo soberano, em Rousseau esta se dá seja
com a terra, seja com uma atividade profissional qualquer, como bem expressa
no seu Projeto de Constituição para Córsega:
Que seu trabalho lhe proporcione o necessário para subsistir
ele e a sua família.
Se
é verdade que o pensamento
naturalista de Rousseau representa uma vanguarda, também é verdade que seu pensamento
econômico vai representar aquilo que seja dos mais ortodoxos e
conservadores para a sociedade do século XVIII que pedia abertura do
capital. Um exemplo disso é que O seu Discurso sobre Economia Política,
escrito para a Enciclopédia, não foi publicado na Enciclopédia por Diderot
pela dimensão de idéias arcaicas, sendo, portanto, solicitado um novo
artigo ao fisiocrata Boulanger. As idéias
econômicas de Rousseau são tão conservadoras que ele chega a defender a
permanência da Corvéia, coibindo o avanço do imposto monetário que a maior
parte dos camponeses já defendia para uma melhor distribuição da riqueza da
nação oitocentista, longe do centralismo do
feudalismo.
Na Nova Heloisa, o genebrino propõe
uma comunidade utópica que proclama um certo isolamento
com o exterior. A Clarens, a comunidade cidadã, nem tanto aberta, não necessitaria de
promover comércio de importação e exportação visto que as transações seriam
quase de troca. A comunidade, portanto, não se globalizaria, tornando-se
estática, conformista, e atrasada tecnicamente. Esse lado não globalizante
de Jean-Jacques Rousseau vai seguir a Fénelon
rejeitando a Ilustração que vinha por defender uma abertura de mercado com
a mínima intervenção do Estado. Projeto ilustrado de larga dimensão que era
abraçado por pensadores como Sayès, Voltaire, e por
ministros intelectuais da fazenda, ao nível de um Turgot,
pensando em um Estado mais integrador entre o público e o privado, do que
mero interventor ou controlador. Agricultores, pensadores e ministros
voltados, portanto, a um pensamento em defesa da extensão da agricultura em
grande escala, sob a direção de empresários inovadores (burgueses.capitalistas),
para a conquista de uma modernização no campo e a sua respectiva interação
com a cidade, cujos postos de abastecimento interagiriam com diversos
recantos comerciais do mundo.
Se por um lado, pode-se entender Rousseau
como um comunista utópico ou como um socialista agrário, a verdade é que
ele faz um combate da contradição em criticar a propriedade privada no Discurso
Sobre a Origem da Desigualdade entre os Homens . E, por outro
, vai no Discurso sobre Economia Política defender a
propriedade como sagrada, ao estilo da sociedade mercantilista de Locke.
Mais ainda: é no Contrato Social que ele diz que a propriedade
somente existe no estado civil; contudo, no Discurso sobre Economia Política,
a propriedade é defendida como o verdadeiro fundamento da sociedade civil.
Se, de certa
forma, o tripé trabalho/suficiência/utilização
formam o eixo da propriedade privada em Locke, em Rousseau serão somente o
trabalho e utilização.Vaughan diz que Rousseau
passa do liberalismo da teoria de Locke a uma forma extremista de
coletivismo.Isso porque o sentido de abundância vai ser direcionado no
sentido de ter o suficiente para preencher as necessidades dos
habitantes. Diz Rousseau no final do
livro I do Contrato Social:
Pode também ocorrer que os homens comecem a se unir antes de
não possuir coisa alguma e que, apoderando-se depois de um
terreno suficiente para todos, o desfrutem em
comum ou o repartam entre eles, preferencialmente em partes iguais,
preferencialmente segundo proporções estabelecidas pelo soberano. Seja qual
for a forma desta aquisição, o direito que tem
cada particular sobre sua propriedade está sempre subordinado ao direito
que tem a comunidade sobre todos; sem o qual não haveria nem consistência,
nem vínculo social, nem força real no exercício da soberania.
No Brasil, o
Movimento dos Trabalhadores sem Terra – MST –, que surgiu na cidade de
Curitiba no começo de 1984, a partir de um encontro de trabalhadores,
partícipes, em sua maioria, da ala progressista da Igreja Católica,
controla atualmente cerca de 750 acampamentos espalhados pelo Brasil afora,
exige do Governo Lula
políticas de reforma agrária e o cumprimento de assentamentos
para as famílias que neles se integram.
Ao completar,
portanto, a sua maioridade, o momento deve significar o ganho de novas
responsabilidades, justificada por ser uma época de crise (krino), uma etapa de “decisão”. Quais seriam as
decisões para os seguintes questionamentos?
1. Como refletir
sobre o momento histórico do surgimento do MST que aconteceu quatro anos
antes da Constituinte da Nova República e de cinco do desmoronamento da
União Soviética?
2. Hoje, estaria o
MST em consonância ao atual momento histórico onde o governo Lula canta a
conquista das maiores super-safras de grãos, com
maiores índices de exportação de produtos em grande parte agrícolas?
3. Os
assentamentos conquistados pelo MST contribuíram de alguma forma, na conquista de uma
agricultura de subsistência à maneira como pensava Rousseau? Ou, de que maneira tais
possessões contribuíram para a ampliação do superávit brasileiro na balança comercial
internacional?
4. Será que o
conceito de movimento mais ousado da América Latina, vai realmente
significar um movimento de irreverência aos padrões atuais de um mercado
globalizado ou vai significar abuso de poder?
5. Possuiria o
movimento atual de reforma agrária no Brasil realizado pelo MST um caráter
de identidade e ideológico como, no seu tempo e no seu lugar, legitimamente
possuíram as Ligas Camponesas dos anos 60?
A posição em
que hoje se encontra o movimento agrário brasileiro nos faz lembrar o
conservadorismo rousseauniano latente de sua época muito especificamente à
questão do entendimento do significado de propriedade privada,
principalmente no que toca à observação do contexto do Século XVIII.
Dos sem-terra do
tempo e lugar de Rousseau, o MST poderia tirar lições para uma revisão
crítica de suas estratégias de atuação, no sentido de se eximir, a nosso
ver, de uma certa semelhança no tocante ao caráter
extremamente ortodoxo, totalitário e anti-progressista. Lições que, por sua
vez, podem ser o estopim para uma mudança de comportamento para evitar, no
seu futuro, de ingressar em um terrível complexo de Peter Pan, ou seja, de se achar sempre jovem, sem nunca se
dar conta que envelheceu
A inquietação de
Rousseau era de um grito de luta diante da introdução da
máquina no campo, da minimização do esforço
humano, e a conseqüente extinção da vida de artesão, de lenta produção, incapaz de
acompanhar as necessidades de uma população que crescia assustadoramente.
Naquela época, o movimento dos sem-terra fazia-se por três matrizes:. Pela divisão de terras em lugar de concentração; pela
pequena propriedade em lugar da grande propriedade;pela
manutenção do sistema comunitário.
As teorias
igualitárias representam a resposta dos camponeses
mais humildes perante o processo de modernização rural. A partir de 1792, a
luta entre proprietários e os sem terra se intensificava pela adequação a
um novo sistema,de maneira que a abolição do
feudalismo não iria significar nenhum radical atentado para a extinção da
propriedade. Simplesmente a mudança seria unicamente simbólica, onde os
antigos proprietários deixavam de ser senhores para serem capitalistas.
Senão, vejamos os registros de Alfred Cobban
em sua obra Interpretación Social de la Revolución Francesa
sobre concessão de terras:
Categorias 1789 1812
Grandes proprietários 30% 42%
Burgos 16% 28%
Clero 20% 0
Camponês 0 12%
Nobreza 22% 12%
Naquela época,
como diz VALVERDE,
“dar aos sem-terra uma propriedade, equivalia à lei agrária, ao comunismo
de propriedade”. Os liberais aprovaram a divisão das terras comuns em 1793 mas nunca saíram do papel. A Revolução Francesa não
cumpriu com o que prometeu.
O grande pensador
genebrino vai, portanto, simbolizar a França rural formada por pequenos e
improvisados produtores que , limitados para uma
vidinha de cultivar, colher e comer, ao menos mantinham a dignidade do
trabalho para si. Rousseau e seus lavradores nem aceitariam
doações de cestas básica sem trabalho e nem a mesadas do Fome Zero. Ele
queria que cada cidadão vivesse de seu trabalho sem depender de ninguém.
Seu igualitarismo não se baseia na uniformidade, mas na proporcionalidade
pela via da natureza. Rousseau não buscava uma sociedade comunista ou um
igualitarismo absoluto. Locke, ao contrário, propunha uma sociedade
classista sobre o direito natural igualitário.
O discurso de
reforma agrária rousseauniano está à margem dos proprietários que viviam na
terra e dos que tinham a terra como um simples bem. É neste último que
acredito que os nossos movimentos de reforma agrária atacam. Mas se
Rousseau diz no seu Discurso sobre Economia Política que a
propriedade é um direito sagrado e o fundamento da sociedade, além de sua
ordem social (Constituição), seria lícito, então, a invasão de
terras e de bens públicos como até então vem sendo a tática principal do
MST?
No respeito à
Constituição, que é o fundamento de uma nação, não seria pela via
parlamentar o legítimo instrumento de luta para a reforma agrária? Com a
sua maioridade, não seria o momento do MST possuir representantes legítimos
que defendam suas bandeiras como o fazem os movimentos ecologistas, as
organizações religiosas etc.?
Já a interpretação
que se dá à reforma agrária pós-moderna é de um simples movimento de cunho
político cuja ideologia é a luta contra o capitalismo. Neste caso, nossas
políticas de reforma agrária aproximam-se do ideal rousseauniano por
defender não a propriedade do produtor e seus meios de produção, mas o
pequeno lote de terra. Seria isso suficiente para uma sociedade globalizada
que se dá basicamente pela emergência de novas tecnologias e de um mercado
financeiro transnacional
Trabalho, suficiência e utilização é o
eixo da propriedade privada em Locke. Já para Rousseau, é somente trabalho
e utilização. Qual a relação existente entre o que se pensa sobre as
políticas de reforma agrária e o que se planeja para minimizar a crise
planetária do trabalho? Não estaria a terra sendo tratada como um valor de
moeda? Não seria o caso de se tratar pela via da diversidade regional? O
norte se refere a terras improdutivas, o nordeste
pela histórica estrutura latifundiária que vem desde os tempos das
Capitanias Hereditárias. De São Paulo para baixo, terras de emigrantes, o
MST não tem logrado muito sucesso, porque aqueles proprietários carregam
consigo a cultura dos liberais europeus do século XVIII, tanto de
agricultura de subsistência, como de demanda de produção, ou melhor, de
atingir uma profunda modernização no campo, substituindo a exploração em
pequena escala, de métodos primitivos, como o arado manual, pela grande
exploração e a utilização de métodos modernos. Somente a extensão da
agricultura em grande escala, sob a direção de empresários empreendedores,
competentes e inovadores, cujos assentamentos passam de geração à geração, assegura o volume de mercadorias que
necessita o país. Muitas vezes, me pergunto se realmente existe nos
assentamentos já conquistados pelo MST algum cultivo de hortas, frutas ou de
práticas avícolas e pecuaristas.
O trabalhador rural é
portanto o homem que exerce as diversas atividades da lavoura,
trabalhando na limpeza da terra, na plantação, no corte, na colheita e na
distribuição. O trabalhador rural, como diz Octavio Ianni,
no seu estudo Relações de Produção e Proletário Rural, “o
trabalhador rural é o elo mais fraco na cadeia do sistema produtivo que
começa com a sua força de trabalho e termina no mercado internacional”.
Então, qual o trabalho do trabalhador do MST?
O MST aproxima-se
das idéias rousseaunianas no que se refere à defesa da propriedade privada
limitada, à rejeição à propriedade privada ilimitada/capitalista,
à rejeição ao desenvolvimento do capitalismo no campo e à defesa da
propriedade comunal.
Com relação às
divergências de idéias, penso que o movimento de reforma agrário brasileiro
distancia-se de Rousseau nos aspectos referentes às invasões e ocupação de
terras e espaço público quando uma Constituição legitima o direito da
propriedade privada e pública. Deve-se, também, levar em conta que trabalho
e utilização, tão defendidos por Rousseau, não parecem ser na prática do
MST os eixos finais de luta.
Nas democracias
ocidentais, há uma crescente preocupação porque o problema político não é
“representativo”, no sentido de que não consegue refletir a diversidade da
população. A representação insuficiente dos grupos historicamente
desfavorecidos é já um fenômeno geral. Entretanto, o tema dos direitos
especiais de representação, preso à pertinência grupal, resulta complexo,
porque, às vezes, esta representação especial se defende não por questões
de opressão, mas como corolário ao auto-governo.
Assim, a cultura da modernidade vai se
assentar em valores do industrialismo, nas
esferas do produtivismo e do progresso material
indefinido para um crescimento exponencial consubstanciando. Assim, uma
inter-relação fundamental, protagonizada com base no capital, no Estado nacional, nas
classes de trabalho, sociedades de trabalho; cujas formas de ação se
apresentam como taxas de benefícios. A cultura da modernidade caracteriza-se
por ser informativa, cooperativa, de contínua competição moral e normativa
politicamente. Rousseau, de certo modo, antecipou o alerta para uma crise
social de
traços semelhantes ao do nosso tempo.
No atual quadro de estudiosos que tratam
da desigualdade a partir da equidade, Rawls
recupera Locke e Rousseau mas nada descobre. Em
lugar do igualitarismo,
refere-se a uma justiça que minimize diferenças. Sua teoria é
um tratado para superar o utilitarismo, voltando sempre ao Contrato Social
e a Kant. A este último, ele considera a ética kantiana uma ética perfeita,
porém, que não se tem na prática; até insinuar que o utilitarismo é talvez a única teoria ético-política
que funciona. Portanto, o que propõe Rawls é uma
teoria deontológica com prioridade da justiça.
Concordando com Hans Kelsen,
o ser humano é um ser contratual, vai defender que uma sociedade bem
ordenada é aquela que aceita uma concepção pública com a justiça. Mas o
núcleo de Rawls é a liberdade igual para todos e
as desigualdades como princípio das diferenças. O sujeito da justiça são as
instituições e os bens primários compostas sobre as liberdades básicas;
liberdades de movimento e de trabalho, possibilidade de ocupar posições de
responsabilidade, capital, riqueza e bases sociais para a auto-estima. A
questão não é distribuir a renda, mas o poder.
Hans Kelsen, principal filósofo político do século XX, faz
considerar a existência de uma filosofia como ordenamento internacional de
paz. Mais precisamente a teoria subjetiva de Kelsen
vai levar à discussão um ordenamento político-cultural centrado no microdomínio, no mesodomínio,
no macrodomínio. Particularmente,
não creio que seja uma utopia, mas uma conclusão lógica. Nem os meios nem
os fins da constituição de um ordenamento exigem que deva corresponder à
ordem do Estado. O processo de
soberania do Estado é cada vez mais independente e, se fracassou, é devido
a sua natureza e a sua servidão. Hoje não é como na época de Kant: é causa
de guerra. Por isso, existe o conselho de segurança da ONU. O Estado é,
então, uma forma incompleta e transitória de ordenamento político.
Entre Hobbes e
Rousseau estaria a prudência kantiana como termo
médio, na qual o direito seria insubstituível. A ética somente não pode ser
por si só, necessita do direito. Entre a democracia real e a democracia
ideal, Kant vai defender a democracia monárquica, tendo o indivíduo a
prudência de não agir contra a monarquia.Esse
modelo, por sua vez, é seguido por quase todas as monarquias existentes no
planeta.
Deste modo,
a principal virtude de um político será possuir estratégia fiel de vida
nas suas ações, como diriam Rorty e Apel. Não se trata, de acordo com Maquiavel, de que o
Príncipe pareça como deve ser. A pergunta de Kant é: quem controla o
controlador? Sua resposta é a lei que, no dizer de Rousseau, é o filho
gerado pelo amor da vontade geral. Do problema das democracias nacionais como:
o caso do Chile de Pinochet, o fim final assertótico
levado ao utópico, as discussões sobre a morte das utopias e da faculdade
de desejar, o voto em branco e o seu valor ético nos faz incapazes de prescindir das
ideologias e da condição do filósofo possuir o dever de ser profeta. Uma
previsão a partir da ética e do direito.
Crescer
a humanidade significa o aprimoramento contínuo do homem dentro de uma
estrutura social mais justa, em detrimento da crise demográfica, exclusão
social, crise ecológica etc.
A
crise com que convivemos desde a última década do século XX, pela ausência
de um futuro harmônico entre povos, conceitos, convicções e
responsabilidades, de tal sorte, faz camuflar o espírito de integração
virtual pelo ocaso de um tempo tecnológico.
De tal maneira, isso faz as pessoas se refugiarem em grupos e
guetos, eximindo-se ao
gosto de qualquer política comum, preferindo a defesa de seus
próprios interesses; é o que nos leva a admitir que a democracia deva ser repensada, não
apenas como um mero modelo sócio-político, mas, acima de tudo, como um estado de espírito, que, pela diversidade
cultural dos povos e sociedades, possa servir como alicerce para um novo
direcionamento da ordem política e econômica do globalismo
neoliberal.
Se a escassez do
racionalismo nos levou a um certo
irracionalismo irreverente, pela
indiferença a valores humanos, pelo apreço ao exagero de um individuísmo consolidado por uma sociedade consumista
de massas, é bem verdade que se torna profundamente prematuro aceitar o contemporâneo
como uma nova etapa da história da humanidade, tal como definida por alguns
como pós-moderna.
Se pós-modernidade
significará a assimilação por uma sociedade de tércios,
ou melhor, a que dois terços da população mundial, no âmbito do setor secundário,
terciário e dos excluídos,se sacrificam pelo
bem-estar de um terço; uma denominação como esta não pode valer a pena, vez
que seria como homologar a opção global pela desigualdade que, por exemplo,
Rousseau tanto se preocupou em seus escritos ao inspirar os teóricos tanto
do liberalismo, como do socialismo. Não importa se democracia social e
democracia liberal de hoje em dia, pertencente a
árvore genealógica dos momento da Revolução Francesa, sejam quase a mesma
coisa pois ambas, semelhantemente, privatizam etc;
mas, o que não devemos esquecer jamais é que o século XVIII ainda tem muito
a nos ensinar e a nos orientar sobre diversos pontos desse relativismo de pós-modernidade, ou
ultra-modernidade ou até - para os que prefiram denominar - hiper-modernidade.
E é nos escritos de combate de Rousseau que poderemos talvez encontrar a
luz do fim do túnel para a crise política, social e de meio ambiente que testemunhamos. A
reforma agrária é uma delas.
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