Em 2003, com a advento da internet, um docente da área de cardiologia da Faculdade de Ciências Médidas (FCM) da Unicamp apostou na difusão de imagens de ecocardiografias realizadas no Hospital de Clínicas (HC) da Unicamp, e isso mesmo com uma velocidade média de conexão no Brasil de 100 kb/s. Um ano depois, a tecnologia digital 3G chegava ao país oferecendo velocidades de até 2 Mb/s, algo, porém, restrito a poucas cidades. Campinas assegurou sua participação nessa melhororia graças ao seu polo tecnológico e à presença ali do CpqD-Telebras.
No início dos anos 2000, a velocidade de conexão média da internet era de apenas 56 kb/s. Os usuários precisavam esperar bastante tempo para baixar arquivos, mesmo os mais leves. Baixar softwares ou jogos pesados, por sua vez, revelava-se uma tarefa árdua que poderia levar dias ou semanas.
Em 2005, segundo o Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (Ibope), só 11,03 milhões de pessoas tinham internet em casa e o tempo de navegação mensal era de 15 horas e 14 minutos, o mesmo tempo que muita gente, hoje, gasta com essa atividade diariamente.
O médico cardiologista José Roberto Matos Souza, então pós-graduando pela FCM, elaborou a proposta de divulgar atividades e vídeos em português na web tratando de ecocardiografias e da área de cardiologia da Unicamp. Passados 20 anos, o site já recebeu mais de 1,5 milhão de visitas e quase 600 mil visitantes interessados em cerca de 30 mil textos (entre artigos científicos e comentários técnicos sobre a ecocardiografia) reunidos na plataforma. “O primeiro vídeo de imagens de um exame em 2D levou horas para subir no servidor”, lembra.
“Ao criar uma página para a divulgação científica da área de cardiologia da Unicamp e o incentivo de discussões técnicas, tenho certeza de que, modestamente, já podemos contabilizar alguns avanços importantes, que nos animam a pensar em desafios maiores como a chegada da inteligência artificial”, afirma Souza.
O professor relata, entre muitos exemplos, um caso de doença valvar grave reumática mitral que chegou ao site por meio de um médico de Angola. A análise e a troca de experiências em torno do caso mostrou-se fundamental para o colega do continente africano.
Souza lembra que, com a criação de um perfil no YouTube, o canal ganhou ainda mais notoriedade, registrando, até agora, mais de 30 mil visualizações em cerca de 400 vídeos de exames realizados no HC. Em 2012, as discussões sobre o assunto passaram a acontecer também na plataforma Facebook e, em 2015, no X (antigo Twitter).
Otávio Rizzi Coelho, que até o ano passado, antes de sua aposentadoria, era o professor mais antigo da área de cardiologia da Unicamp, não mediu esforços para elogiar o pioneirismo do professor Souza, pensando também em um contexto das preocupação com a difusão dos conhecimentos práticos da ecocardiografia.
“Em resposta às transformações ocorridas nos primórdios da internet, o professor José Roberto Matos Souza lançou mão dessa ferramenta para proporcionar, a um grande número de cardiologistas, os avanços dessa tecnologia de estudo anatômico do coração, fundamental para o exercício da especialidade e para as pesquisas. Hoje o site sobre ecocardiografia é um dos mais importantes do país”, ressaltou Coelho.
A rede mundial de computadores, diz Souza, permitiu, por exemplo, que uma técnica de ecoestresse – exame realizado em uma bicicleta horizontal para identificar doença nas coronárias – criada pela área de cardiologia da Unicamp atraísse alunos de todo o país.
“Até o momento, já foram efetuados 68 cursos de treinamento na modalidade que hoje domina os serviços de ecoestresse do país e que é chamada de Ecoestresse Echotalk/Unicamp. Juntos com os residentes formados aqui, temos mais de cem serviços distribuídos em todo o Brasil praticando o método”, ressalta o cardiologista.