Uma iniciativa revolucionária de alta tecnologia desenvolvida no Brasil, única na América Latina, que traz benefícios à saúde pública e privada, especialmente em tratamentos de câncer e na produção de insumos de medicina nuclear. Trata-se do projeto do Centro Avançado de Oncologia especializado em protonterapia, fruto de uma parceria entre o Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM) e a Unicamp, que foi apresentado nesta segunda-feira (4) à secretária de Saúde do Estado de São Paulo, Priscilla Perdicaris. O investimento inicial é de R$ 300 milhões, e o local para a instalação deve ser definido nos próximos dias, em área da Unicamp.
Na primeira reunião presencial de trabalho junto à Secretaria, realizada no Salão Nobre da Reitoria da Unicamp, com a presença do reitor Antonio José de Almeida Meirelles e da coordenadora-geral Maria Luiza Moretti, Perdicaris disse que vê boas perspectivas de construção do centro e aguarda novas reuniões para viabilizar a iniciativa.
“Acho que é um projeto inovador para o estado de São Paulo, que representa um grande avanço para a área da saúde, com a produção de radiofármacos e protonterapia, e com equipamentos que viabilizam essa produção. Estou feliz com essa perspectiva. É um investimento muito importante, e a Secretaria Estadual da Saúde fica à disposição para viabilizar esse centro, reforçando a parceria com a Unicamp”, afirmou Perdicaris após a apresentação do projeto. “Precisamos reduzir nossa dependência externa na área da Saúde”, completou a secretária.
De acordo com Maurício Etchebehere, assessor docente da Diretoria Executiva de Administração (DEA), que coordena o grupo da Universidade envolvido no projeto, há cerca de um ano e meio a Unicamp foi consultada por pesquisadores do CNPEM sobre a possibilidade de parceria. “É uma tecnologia quase 100% nacional, um projeto único na América Latina, que pode mudar de forma radical o panorama de fornecimento desse material”, disse.
Benefícios para o SUS
“O maior benefício é poder fornecer um tratamento que ainda não é oferecido no Brasil, no Sistema Único de Saúde (SUS) ou fora dele, que é a protonterapia. O segundo benefício é aumentar a quantidade de insumos de medicina nuclear que hoje é difícil de conseguir. Isso terá impacto assistencial, por isso é muito importante a parceria com a Secretaria de Saúde”, acrescentou Etchebehere. Fazem parte da equipe do CNPEM Fernando Bacchim e James Citadini, entre outros.
Segundo Etchebehere, já foram realizadas visitas ao Ministério da Saúde, em Brasília. “É um projeto complexo, com impacto na pesquisa, na produção de insumos e na assistência aos pacientes de câncer”, afirmou o assessor, que vê a necessidade de buscar recursos federais e estaduais.
Segundo Oswaldo da Rocha Grassiotto, diretor executivo da Área da Saúde da Unicamp, a reunião foi formalizada para dar conhecimento ao estado sobre o desenvolvimento do projeto. “A Unicamp entra com sua capacidade técnica, científica e assistencial, e o CNPEM utiliza a sua capacidade de inovação e de desenvolvimento de tecnologia, com o grande acelerador de partículas (Sirius), que é um dos três maiores do mundo e que permite e facilita esse processo de produção. Esta foi uma primeira reunião de trabalho, e já temos uma comissão encarregada de fazer essa condução”, disse Grassiotto.
“Esse trabalho colaborativo visa desenvolver maior capacidade de produzir insumos na área de tratamento por radioisótopos, além de equipamentos para tratamentos de protonterapia, que é um tipo de radioterapia muito sofisticada que não existe na América Latina e que ainda não é utilizada clinicamente no Brasil”, resume o diretor, que avalia o projeto como revolucionário e com potencial de impactar uma área carente no Brasil, que é a de insumos de medicina nuclear.
Multipropósito
Durante a reunião, o reitor destacou o caráter multipropósito e econômico da planta. “O centro pode fazer a protonterapia, em outro momento pode produzir radioisótopos, além de diagnósticos, com um único equipamento. Ele reúne terapia, produção e diagnóstico”, reforçou Meirelles, que identifica nessa parceria uma grande chance de sucesso. “As parcerias da Unicamp com o CNPEM têm dado muito certo. Nesse caso, eles não têm hospital onde testar, e nós temos, além da nossa expertise em pesquisa e inovação.”
O Centro Avançado de Oncologia poderia reduzir em 12 vezes os gastos com internação e em cinco vezes os gastos com exames complementares, disse a médica nuclear da Unicamp Elba Cristina de Camargo Etchebehere, pesquisadora do Centro de Inovação em Câncer com Ênfase em Metais e Teranóstico (CancerThera), um Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão (Cepid) da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
A médica nuclear fez a apresentação do projeto para Perdicaris e para a coordenadora do Controle de Doenças da Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo, a epidemiologista Regiane Cardoso de Paula, que sugeriu uma nova reunião e falou da importância de uma “amarração bem-feita com a Vigilância em Saúde”. A equipe se comprometeu a elaborar um cronograma do processo e encaminhar à Secretaria.
Baixa toxidade
Entre as vantagens da tecnologia de protonterapia, Elba Etchebehere falou da baixa toxidade para o corpo do paciente. “A radioterapia, ao ser aplicada, irradia em uma grande área, causando efeitos colaterais em outros órgãos do corpo, enquanto a protonterapia deposita toda a energia no tumor, sem irradiar para o corpo do paciente, sem toxidade. Por esse motivo, a protonterapia está crescendo em todo o mundo”, explicou. “No Brasil, ainda somos insuficientes em medicina nuclear”, afirmou. Segundo a médica, a tecnologia já é usada em países como China e Estados Unidos. Durante sua apresentação, ela mostrou o exemplo do MD Anderson Cancer Center da Universidade do Texas.
Para a coordenadora-geral, o Centro Avançado de Oncologia é um projeto que simboliza uma das formas de retorno à sociedade que a Universidade deve oferecer. Moretti também falou da importância do desenvolvimento de tecnologia nacional e do impulso à pesquisa e ao ensino. Com a realização do projeto, o Brasil se tornaria referência nessa tecnologia na América Latina e impulsionaria a indústria nacional. A Argentina também tem um projeto para instalar um centro de protonterapia, vendido para a iniciativa privada.
A comissão de profissionais da Unicamp envolvidos no projeto reúne representantes do Hospital de Clínicas (HC), do Hemocentro e do Hospital da Mulher Caism. Além de Oswaldo da Rocha Grassiotto, Maurício Etchebehere e Elba Cristina de Camargo Etchebehere, também participaram da reunião Erich de Paula, vice-diretor da Faculdade de Ciências Médicas (FCM); Plinio Trabasso, assessor docente Coordenadoria Geral da Universidade (CGU); José Luiz Proença Modena, assessor docente da CGU; Ciro Garcia Montes, superintende do Gastrocentro; João Renato Benini, superintende do Caism; Elaine Ataide, superintende HC e Margareth Castro Ozelo, coordenadora da Divisão de Hematologia.