
Ao pensar sobre o trabalho final de graduação (TFG) com o qual gostaria de trabalhar durante o último ano do curso de Arquitetura e Urbanismo na Unicamp, Júlia Hendler escolheu se dedicar a uma forma de melhorar a própria Universidade, em especial a Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo (Fecfau): desenvolveu como projeto um novo edifício para a faculdade, que ficou em primeiro lugar no Prêmio Joaquim Guedes, láurea concedida pela própria instituição.
Ingressante no ensino superior em 2019, Hendler atualmente é mestranda na mesma faculdade, após ter obtido o bacharelado no ano passado. Quando ainda desenvolvia o TFG, sob orientação da professora Ana Tagliari, a arquiteta tinha como principal objetivo apresentar à banca avaliadora algo que fosse viável e representativo do desejo de seus colegas graduandos e professores. “Tive receio de não entender as demandas de quem usa o atual espaço da Fecfau”, relembra. “Mas, no fim das contas, idealizar um prédio do zero me fez contemplar questões atuais, sinto que consegui identificar uma ideia compartilhada entre docentes, alunos e pesquisadores de Arquitetura e Urbanismo em terem um lugar próprio para estudo e demais atividades de ensino.”
Longe de uma crítica ao atual prédio da Fecfau — ao qual agradece pelos seis anos de formação acadêmica —, Hendler prefere considerar o projeto como um exercício livre de reflexão a respeito do cotidiano acadêmico, uma sugestão de aprimoramento de um espaço público como a Unicamp. “Obviamente, precisaria ser um prédio a ser erguido no próprio campus. O local escolhido me pareceu o ideal pela proximidade com o departamento dos professores da Fecfau, o Restaurante da Saturnino, além da conexão entre a avenida Albert Einstein e a rua do prédio atual”, explica.

Hendler também se valeu de diretrizes da própria Universidade sobre a ocupação do campus. “Levei em conta a ideia de adensar o que já existe ao invés de sugerir a construção de um edifício que estivesse longe e, além disso, que não dialogasse com a vocação do quarteirão”, explica. “No fim, o projeto seria adequado do ponto de vista da própria Universidade.”
Para Tagliari, outra virtude do projeto defendido pela orientanda é permitir a socialização entre os possíveis frequentadores do espaço. “Trata-se de um espaço de estudo convergente, ou seja, que viabiliza a interação de qualidade entre alunos, professores, funcionários e pesquisadores”, afirma. A docente da Fecfau ainda elogia a viabilidade do projeto. “O trabalho se vale de estruturas simples, de blocos de concreto, é completamente viável e factível.”
A própria pesquisa de Tagliari a respeito de circulação e do conceito de promenade architecturale (passeio arquitetônico, em tradução livre) serve de ponto de partida para Hendler, que também participou de uma iniciação científica orientada pela professora. “O edifício em si seria um caminho de ligação entre duas vias importantes da Unicamp”, conclui.

Pedagogia construída
Hendler inspira-se, entre outros, em Vilanova Artigas, uma das principais referências brasileiras em arquitetura e responsável pelos projetos da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP e do Estádio do Morumbi, de propriedade do São Paulo Futebol Clube. Valendo-se também da proposta do prédio da Escola de Design de Melbourne, a arquiteta aplicou em seu projeto o conceito de pedagogia construída. “Por meio do uso de estruturas expostas, é possível aos estudantes observar a própria Escola como um objeto didático”, informa o memorial acadêmico referente ao TFG, destacando como é permitido a quem esteja na edificação notar os elementos que a compõem.
Tal como no exemplo da instituição australiana, em que sistemas de hidráulica, elétrica e climatização encontram-se visíveis, o projeto da atual mestranda segue a mesma lógica: um espaço em que seja possível apreender a ideia do projetista. “Em termos gerais, é a noção de não se esconder os elementos construídos. Tudo o que se utilize precisa estar visível. Por exemplo, no meu projeto há a ideia de não se utilizar forros em determinados ambientes. Os materiais também precisam estar dispostos de forma que quem visite o espaço entenda como os elementos estão ligados. Ou seja: não maquiar nada”, finaliza.
Acesse ao trabalho completo elaborado por Júlia Hendler: