Quais são as responsabilidades e as demandas da América Latina perante as crises ambientais? Com a aproximação da Conferência da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre Mudanças Climáticas (COP30), a realizar-se em Belém em novembro deste ano, as atenções mundiais estarão voltadas para as novas deliberações sobre o futuro do planeta, em que a América Latina deve ter um papel destacado, em proporção à sua importância para o clima e a biodiversidade global.
Recentemente, durante o Colóquio Internacional “Perspectivas de la Ecología en América Latina”, realizado de 23 a 25 de junho na Universidade Autônoma do México (Unam), na cidade do México, foi criada a Rede Latino-Americana de Ecologia (Relate), uma iniciativa conjunta de representantes de associações científicas de Ecologia de diversos países. A criação da rede foi anunciada com a leitura da Carta de Fundação no encerramento do Colóquio, que contou também com palestras e painéis de pesquisadores destacados da região e teve ampla participação de alunos e docentes, tanto de modo presencial como on-line.
O objetivo da Relate é promover intercâmbios e ações coordenadas de pesquisa e de posicionamentos conjuntos em foros políticos e sociais nos países da América Latina e Caribe, e mesmo em foros mundiais, como as Conferências (COPs) da ONU de Mudanças Climáticas e da Convenção de Biodiversidade.
A necessidade de articular cooperações vem sendo discutida em contatos informais e encontros entre sociedades latino-americanas há mais de 15 anos, sempre com a participação da Associação Brasileira de Ciência Ecológica e Conservação (Abeco).
De acordo com o ecólogo Thomas Lewinsohn, professor emérito da Unicamp e primeiro presidente da Abeco (2008-2013), a pesquisa em Ecologia na América Latina cresceu exponencialmente em volume e importância desde o final do século XX. “No entanto, os pesquisadores da região têm contatos e colaboram mais intensamente com instituições da América do Norte e Europa do que entre si”, destacou. A Rede será um canal estratégico para fomentar colaborações na região.
Biodiversidade e Ecologia
Segundo o pesquisador Felipe Melo, presidente da Abeco de 2022 a 2025, docente da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), o objetivo primordial da Rede é promover uma ampla discussão sobre os desafios e as oportunidades de fortalecer uma ciência ecológica que reflita a diversidade e as similaridades dos países da América Latina. “A Ecologia é uma ciência relativamente nova, com fortes raízes nos países europeus e nos Estados Unidos. No entanto, a maior parte da biodiversidade do planeta se localiza nos países do Sul Global, e vários países da América Latina são os mais biodiversos do mundo”, ressaltou.
A nova presidente da Abeco (2025-2028), Luisa Maria Diele-Viegas, primeira mulher a presidir a Associação, destaca ainda o papel da Ecologia latino-americana no cenário global: “O combate à atual crise climática e ambiental que enfrentamos exige uma abordagem transdisciplinar e decolonial, que valorize os saberes locais e promova soluções sustentáveis enraizadas nas realidades socioecológicas. A criação da ReLatE é fundamental neste processo, pois fortalece conexões regionais, rompe com lógicas científicas coloniais e promove uma ciência mais colaborativa, diversa e alinhada aos desafios do Sul Global.”
Relate – Primeiros Passos
As ações iniciais da Rede Latino-Americana de Ecologia, definidas na Carta de Fundação da entidade, serão: convocar sociedades e instituições de Ecologia dos demais países da região para integrar a Rede; realizar um fórum de trabalho durante a I Reunião Trinacional (Argentina, Chile e Uruguai), em Mendoza, Argentina, de 5 a 10 de outubro deste ano; organizar a primeira reunião da Rede Latino-Americana de Ecologia, no México, em 2026, junto ao X Congresso Mexicano de Ecologia.
Participaram da fundação da ReLatE diretores das sociedades ecológicas científicas da Argentina, do Brasil, do Chile, do México, do Uruguai e da Venezuela, além de representantes das comunidades científicas de Cuba e da Colômbia. Neste sentido, a criação da Rede já teve efeitos positivos, por estimular os pesquisadores em Ecologia destes e de outros países da América Latina a se organizarem em associações nacionais.
Mais informações:
ReLatE email: relatecologia@gmail.com
Luisa Maria Diele-Viegas (presidente da Abeco 2025-2028 / e-mail: luisa.mviegas@gmail.com)
Felipe Melo, UFPE (presidente da Abeco 2022-2025 / e-mail: felipe.plmelo@ufpe)
Foto de capa:
