A quarta edição do Colóquio Internacional organizado pelos núcleos de estudos Exodus e Grupo de Estudos em Didática da Literatura (GEDLit), do Instituto de Estudos da Linguagem (IEL), começou nesta segunda-feira, 6 de outubro, e segue até quarta-feira (dia 9), com debates sobre o tema “Exclusões no mundo moderno e atual: Estratégias de representação artístico-literárias”. A escritora pernambucana Marilene Felinto, prêmio Jabuti de autora revelação em 1983 com seu livro de estreia, As Mulheres de Tijucopapo, abriu a programação com a palestra “Literatura e marcadores sociais – o novíssimo engajamento”. No final da tarde, Felinto fez uma sessão de autógrafos de seu mais recente livro, Corsária.
A autora, que completará 68 anos em dezembro, destacou a importância do evento. “A única segurança que tenho para estar aqui hoje é a minha idade. Se eu fosse mais jovem, talvez não teria aceito o convite para abrir esse colóquio, que reúne pessoas tão qualificadas que, além de pensadores e intelectuais, são professores que persistem na defesa da universidade como instituição pública e democrática, que resiste à sanha privatista e ao massacre dos índices de produtividade”, declarou.


Para Felinto, é crucial discutir o momento da literatura atual. “Há um estranhamento aos modos de produzir, ler, divulgar e avaliar a literatura nos dias de hoje. Não estou aqui para falar da minha literatura, mas sobre como tenho tido que proteger meu texto literário da captura pelos chamados movimentos identitários, de me proteger disso que chamam de abordagens pelo engajamento”, afirmou, fazendo questão, porém, de destacar seu apoio aos movimentos identitários. “Eu sei o que é exclusão e o que é pertencer a essas parcelas.”
Em Corsária, a autora retorna com uma protagonista forte, como em seu livro de estreia. Desta vez, a história acompanha a saga de uma mulher negra que deixa uma vida confortável nos Estados Unidos para voltar ao Brasil em busca de sua ancestralidade. O livro trata de temas que ainda dominam a história cotidiana do país, como o racismo, a pobreza, a exploração e a migração. “Não faço militância na minha literatura, mas os marcadores sociais estão presentes no meu texto”, admite.

O professor aposentado do IEL Francisco Foot Hardman, que assina a orelha do livro, celebrou a presença de Felinto e a nova edição do colóquio. “Começamos o projeto em 2019 com o Exodus, em 2021 fizemos o evento de maneira virtual e, em 2023, retomamos o formato presencial, já com a parceria com a GEDLit, coordenado pelas docentes Daniela Birman e Cynthia Agra de Brito Neves. O fato de ainda estarmos aqui é um certo milagre, ainda mais recebendo uma escritora tão ilustre”, afirmou.
“Nossos temas norteadores são bem amplos. Nesta edição, além dos convidados, temos nossos pesquisadores e alunos da pós-graduação mostrando trabalhos diversos, como a escrita de mulheres sobre a ditadura; o resgate de uma série de romances do povo brasileiro, organizada por Jorge Amado nos anos 1950; a narrativa oral das mulheres ribeirinhas do Alto Xingu; e a violência urbana na literatura, entre outros temas, que contribuem para esse grande guarda-chuva de excluídos de várias formas. Como o professor Foot bem define: os barrados no baile”, conta Birman, professora de literatura brasileira do Departamento de Teoria e História Literária do IEL.
Assista aos vídeos da transmissão online.
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