A Biblioteca de Obras Raras (Bora) recebe, até 5 de novembro, a exposição “O Universo (que outros chamam a biblioteca)”, da artista Olívia Niemeyer. A mostra, inaugurada em 2 de outubro, faz parte da programação da Semana do Livro e convida o público a refletir sobre o valor simbólico e estético dos livros antigos. A visitação é gratuita e pode ser feita de segunda a sexta-feira, das 9h às 17h.
A proposta da exposição nasceu de uma relação afetiva entre a artista e os livros. Ao herdar o acervo do pai, que costumava comprar bibliotecas inteiras e raridades jurídicas, Olívia se viu diante da questão do que fazer com volumes já deteriorados pelo tempo. “Herdei muitos livros, muitos deles já muito estragados. A questão era o que fazer com isso. Então decidi fotografar, observar de perto o que se deteriorava e descobrir a beleza naquilo que restava”, contou a artista.

As imagens que compõem a mostra exploram detalhes dos livros de marcas deixadas pelos anos. O olhar de Olívia revela a materialidade do livro como testemunho de tempo, memória e passagem. “Fotografei os detalhes das páginas, as texturas, as encadernações danificadas. Às vezes abria um livro, via aqueles buracos feitos por insetos e achava lindo o que o tempo faz com o papel”, relatou.
O processo de criação contou com a orientação técnica da fotógrafa Isabela Senatore, que auxiliou na definição da luz e da composição. O resultado é uma série de fotografias que se relacionam com citações de Jorge Luis Borges, espalhadas pela exposição. A escolha do escritor argentino não foi por acaso. Para Olívia, a ideia de que “uma biblioteca é um universo” resume o sentido da mostra. “Quando entro em uma biblioteca e vejo aquela quantidade infinita de livros, penso que não há fim. É um universo mesmo, e se um dia tiver fim, será uma tragédia”, comentou.
A relação de Olívia com a Bora começou a partir da doação de parte de seus livros, o que despertou o interesse da equipe pela possibilidade de transformar o gesto de preservação em uma experiência estética. “A BORA trabalha com a preservação e o acesso. As fotos da Olívia dialogam com isso, porque tratam do livro como objeto histórico, mas também o transformam em obra de arte”, explicou Danielle Thiago Ferreira, coordenadora técnica da biblioteca.

A montagem, adaptada para o espaço da biblioteca, foi desenvolvida por Isabella Nascimento Pereira, supervisora da área de tratamento, pesquisa e difusão da BORA, que destaca o diálogo entre o ambiente e as imagens. “O espaço já tem uma atmosfera de memória, então as ampliações no fundo preto e os textos de Borges criaram uma ambientação muito forte”, observou.
A mostra também inclui um vídeo com texto da antropóloga Fabiana Bruno, docente do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH), ampliando a leitura das obras. Para Olívia, o trabalho é um convite à contemplação e ao respeito pelos livros, sem aprisioná-los à ideia de objeto intocável. “O que espero é que as pessoas sintam respeito pelos livros, mas não aquele respeito que imobiliza. A tradição é para ser louvada, difundida e ultrapassada. É isso que mantém tudo vivo”, refletiu.
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