A reitoria da Unicamp promoveu uma série de reuniões para abrir o que definiu como “canais de escuta”. Os encontros foram realizados com integrantes do Diretório Central dos Estudantes (DCE), no dia 25 de junho; de coletivos indígenas, no dia 9 de outubro; do movimento negro, no dia 13 de outubro; e de coletivos trans, nesta quinta-feira, 23 de outubro. O reitor da Unicamp, Paulo Cesar Montagner, destacou a importância de manter esses canais abertos. “O objetivo é escutar as pessoas da nossa comunidade para implantar projetos conjuntos, com ações claras”, explicou.
Para o coordenador-geral da Universidade, Fernando Coelho, a escuta é “extremamente importante” para que se busquem soluções e se implementem ações com rapidez e eficiência. “A ideia desse circuito de conversas periódicas servirá para agilizar os processos. Agora, faremos um levantamento das questões e das demandas para organizarmos os próximos passos. Vamos estabelecer um calendário, chamar as lideranças e os representantes dos grupos e implementar uma política de construção coletiva”, destacou.
Na reunião de abertura, representantes do DCE reivindicaram mudanças no funcionamento dos restaurantes universitários aos finais de semana, mais acessibilidade para as pessoas com deficiência e a renovação da moradia estudantil, entre outras demandas. “Há canais abertos em todos os níveis, e percebemos que há demandas bem caracterizadas e outras em comum a todos os grupos”, avaliou o coordenador-geral.

Maloca indígena
No encontro com os coletivos indígenas, estudantes de diversas etnias e cursos dos campi de Campinas e de Limeira apresentaram suas reivindicações. Uma delas é um espaço para convivência, cultura e espiritualidade – uma “maloca indígena”. “Reforçamos que nossa luta não é individual, mas coletiva, e carrega o compromisso de garantir que os povos indígenas continuem ocupando, transformando e enriquecendo os espaços da universidade”, afirma o documento entregue pelo coletivo indígena de Limeira.
Também foram debatidos temas como apoio às mães indígenas e serviços de saúde específicos. Segundo Coelho, um ambulatório indígena já está em discussão na Unicamp. “Há uma cátedra pensada sobre conhecimentos ancestrais na graduação e pós-graduação”, afirmou. A diretora executiva de Direitos Humanos da Unicamp, Elisdete Maria Santos de Jesus, que participou das reuniões, ressaltou que, no campo da saúde, “as portas estão abertas. Estamos nos mobilizando”.

Movimento negro
“Antes de mais nada, é preciso dizer: este é um encontro histórico”, disse o estudante de pós-graduação Robson Sampaio, no dia 13 de outubro, dia em que a reitoria se reuniu com representantes do Movimento Negro – no terceiro encontro da série de consultas à comunidade.
No encontro, o grupo de aproximadamente 15 estudantes, representantes de diversos coletivos, agrupou suas reivindicações em quatro temas: política de permanência, extensão voluntária, participação dos estudantes em órgãos de representação institucional e normas para a pós-graduação.
O grupo pediu, ainda, a criação da Pró-Reitoria de Ação Afirmativa – que, segundo os alunos, poderia canalizar e conduzir as pautas apresentadas no encontro. Segundo eles, diversas universidades públicas brasileiras já contam com esse tipo de regulação institucional.
Os estudantes pediram, também, maior abrangência das políticas de permanência, a fim de beneficiar não apenas alunos pretos e pardos, mas todos os estudantes pobres que hoje frequentam a Universidade.
Pediram ainda, melhorias nas condições da Moradia Estudantil e participação mais efetiva na política de ocupação da nova fase da Moradia – já que um terreno de 44 mil metros quadrados foi adquirido pela Universidade e terá capacidade para abrigar até 1,4 mil estudantes. Hoje, a Moradia acolhe mil alunos.
Os estudantes falaram também sobre mudanças nos sistemas de bolsa sociais e pediram maior proximidade da Universidade com as comunidades e populações que vivem nas regiões mais vulnerabilizadas economicamente.

Mobilização trans
Na reunião com coletivos trans, que contou com a participação de integrantes de grupos como o Núcleo de Consciência Trans (NCT) e o Ateliê TransMoras, foram reivindicados a implementação de um cursinho pré-vestibular voltado a alunos trans e o atendimento específico para essa população tanto no Centro de Saúde da Comunidade (Cecom) quanto no Centro de Atenção Integral à Saúde da Mulher (Caism), além de questões relacionadas à recepção dos estudantes aprovados por meio das novas cotas em cursos de graduação para pessoas que se autodeclaram trans, travestis ou não-binárias, com vagas disponibilizadas no Edital Enem-Unicamp – aprovadas em abril deste ano –, com demandas relativas à atualização de docentes e servidores, por exemplo.
A preocupação é receber os novos alunos com algumas questões já estruturadas, como, por exemplo, a implantação de banheiros de gênero neutro. Luá, da Frente Pró-banheiros Neutros da Unicamp, entregou uma minuta com o que considera “o mínimo” a se fazer para levar a proposta adiante. “Um projeto mais estruturado envolve reformas, mas, a princípio, o que precisamos é tornar os banheiros acessíveis, com placas e sinalização.”
O grupo tem organizado eventos para reforçar sua luta, como o “Ciclo (Trans)Formativo II: Banheiros em Perspectiva Trans-Referenciada”, com uma programação que teve início nesta sexta-feira (24 de outubro), dedicada a elaborar propostas para a criação de banheiros públicos trans-inclusivos, neutros e multigênero na Unicamp. “Reconhecendo que a permanência estudantil trans depende também da cultura material e da infraestrutura dos espaços, o ciclo articula pesquisa, militância e prática, com oficinas, palestras e rodas de conversa para debater gênero e espaço público.”
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