A 14ª edição do Fórum de Gestores Paepe (Profissionais de Apoio ao Ensino, Pesquisa e Extensão), realizada nesta quinta-feira (30), mostra uso consolidado e crescente de ferramentas de inteligência artificial em processos internos e administrativos da Unicamp.
O Fórum – que reuniu gestores de todas as áreas administrativas da Universidade – apresentou iniciativas de sucesso já implementadas no Hospital de Clínicas, na Diretoria Geral de Administração (DGA), na Procuradoria Geral (PG), na Diretoria Executiva de Tecnologia da Informação e Comunicação (Detic) e no Sistema de Bibliotecas da Unicamp (SBU). O evento de abertura contou com a participação do reitor Paulo Cesar Montagner e do coordenador-geral da Universidade, professor Fernando Coelho.
O SBU é uma rede composta por 30 bibliotecas, que reúne assinaturas de 73 bases de dados e 949 títulos de periódicos, além de um acervo superior a 1 milhão de livros, teses e outros materiais.
O Sistema de Bibliotecas vem incorporando a Inteligência Artificial (IA) em diferentes frentes de atuação, com quatro ações com foco na formação profissional, na análise de dados científicos e no aprimoramento de sistemas de informação.
A primeira iniciativa foi o programa de capacitação em Inteligência Artificial Generativa, voltado à formação de bibliotecários. O curso, pioneiro no SBU, abordou fundamentos, técnicas de solicitações (prompting) e aplicações práticas.


Na área de pesquisa, o uso foi na inferência de gênero da produção científica, que utiliza modelos da OpenAI para identificar o provável gênero de autores a partir dos nomes de pesquisadores. O projeto, desenvolvido em parceria com a Pró-Reitoria de Pesquisa (PRP), buscou mapear desigualdades de gênero na produção científica da Unicamp. Os resultados renderam uma publicação internacional e inspiraram a iniciativa “Mais Mulheres na Ciência”. Segundo o diretor do SBU, Oscar Eliel, o projeto está em expansão para outras universidades estaduais paulistas.
O terceiro destaque é o IA GeraTemas, ferramenta que realiza a classificação automática de publicações segundo seus temas e sua relação com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Embora utilize modelos de IA para identificar padrões e associações, os resultados exigem curadoria e validação humana para garantir precisão e coerência na atribuição dos temas. A tecnologia contribui para conectar a produção científica a pautas globais de desenvolvimento e impacto social.
Por fim, o SBU, em parceria com a Detic, está com um projeto para aplicar IA no Repositório Institucional da Unicamp, com o objetivo de aprimorar a busca e a recuperação da informação. A proposta está em estudo para aprovação no Planejamento Estratégico (Planes) Unicamp 2026–2030 e pretende aproximar a experiência de descoberta científica de modelos conversacionais e semânticos, tornando o acesso mais acessível, preciso e relevante.


Procuradoria Geral
Segundo a servidora Queren Padula Ferrette, na Procuradoria Geral, o uso de IA abriu duas frentes: uma de apoio à automatização e outra de apoio à tomada de decisão.
No primeiro caso, estão processos de criação de documentos padronizados, extração de dados para facilitar cadastros e gerar resumos, tiragens de comunicações processuais e verificação de duplicidade de informações. Na segunda, estão os processos de análise de complexidade de processos administrativos, análise de riscos de ações judiciais e extração de dados estratégicos atuais e históricos.
Hopsital de Clínicas
O Hospital de Clínicas da Unicamp conta com um sistema que tem como tarefa consolidar dados de prontuários de pacientes e fazer a gestão de documentos. Denominado de GedAi (Gestão Eletrônica de Documentos com Inteligência Artificial), a finalidade da solução é otimizar a gestão de documentos no ambiente hospitalar, tornando o acesso a informações administrativas e clínicas mais rápido e eficiente para os profissionais de saúde. A ferramenta consegue, ainda, oferecer respostas a pacientes em linguagem natural.
Segundo o servidor do HC Tiago da Silva Dias, outros dois processos estão em desenvolvimento. Um deles é o Consolida, que usa IA para reunir informações clínicas de pacientes atendidos no complexo Unicamp, integrando os diversos sistemas de informações para disponibilizá-los em tempo real para o profissional de saúde durante o atendimento ao paciente. O outro – ainda em desenvolvimento – atua nos processos de regulação de leitos.


Diretoria Geral da Administração
Órgão responsável pela gestão das funções administrativas da Universidade, a DGA atua em diversas áreas, desde questões relativas a aquisições e licitações, até contratos, convênios e patrimônio. O servidor Vinicius Rossi Niero conta que, ainda no ano passado, técnicos da DGA entraram em contato com a Detic para ver se seria possível criar sistemas que dessem maior agilidade a processos burocráticos, que exigem, por exemplo, elaboração de estudos técnicos, mapas ou análises de riscos.
Um levantamento preliminar feito pelo coordenador do Centro de Referências em Tecnologias de IA (CrefIA), o professor Leonardo Tomazeli, mostra que nove projetos com uso de IA estão em andamento nos órgãos internos e administrativos da Universidade. “Trata-se de um número bom, já que imaginávamos que menos gente estivesse usando”, disse ele. De acordo com Tomazeli, o Centro tem como função fazer capacitação e difusão da IA na Universidade. “Se alguém órgão quiser implantar processos com uso de IA, pode nos procurar. Se não conseguirmos fazer, vamos atrás de quem consegue”, promete.


Processos administrativos
O reitor Paulo Cesar Montagner participou da cerimônia de abertura do Fórum de Gestores e disse que o uso de IA se tornou um tema incontornável. “Discutir IA é algo inescapável. Não temos mais como fugir dela”, reconheceu o reitor. “O importante é que já temos ótimos exemplos do uso aqui em nossa Universidade”, afirmou. “Mas é importante também dizer que se trata de ferramenta, até mesmo porque, para nós, o grande fenômeno é mesmo o humano”, continuou.
Coelho lembrou que ferramentas de IA podem ajudar os gestores na condução de processos administrativos e, com isso, a Universidade deve ganhar eficiência. “Um Fórum como este fortalece a integração. Desejamos que o resultado seja uma melhoria significativa no trabalho de todos nós, e que isso possa se refletir nos objetivos-fim da Universidade – que é prestar o melhor serviço à sociedade”, finalizou.
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