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Atualidades

Pesquisadoras da Unicamp discutem patrimônio, cultura e a cidade na COP30

Aline Vieira de Carvalho, do Nepam, participou de painel sobre mudanças climáticas e patrimônio cultural brasileiro; as docentes Silvia Franco (FEF) e Emília Rutkowski (Fecfau) abordarm lazer e natureza

selo cop30

Além dos espaços oficiais da COP, a Blue e a Green Zone, que ocupam o Parque da Cidade, em Belém, uma série de eventos relacionados à Conferência se espalha pela cidade. Um deles é a FreeZone Cultural Action, espaço aberto ao público que concentrou, além do debate climático, uma programação cultural abrangendo apresentações de música e dança com quatro temas: floresta em pé; vida embaixo d’água, matrizes energéticas e transição justa.

Foi neste espaço que a pesquisadora Aline Vieira de Carvalho, do Núcleo de Estudos e Pesquisas Ambientais (Nepam), participou do painel “Mudanças climáticas e o patrimônio cultural brasileiro”, no dia 15 de novembro. Também participaram o diretor do Departamento de Patrimônio Imaterial do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), Deyvesson Israel Alves Gusmão, a coordenadora do coletivo Arte Manguê Marajó, Cilene Oliveira Andrade, e Dulcidéia Palheta, mestre de carimbó e professora da Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA).

Os painelistas destacaram a necessidade de incluir a cultura e o patrimônio nas discussões sobre a mudança climática, tanto na dimensão das ameaças a que manifestações culturais estão sujeitas pela mudança do clima – por exemplo, quando a coleta de argila para fabricar as peças de cerâmica marajoara é afetada por alterações nos ciclos dos rios e das chuvas –, quanto na dimensão de integrar a valorização do conhecimento tradicional e ancestral à busca de soluções de mitigação e de adaptação. “É fundamental criar formas de enfrentamento a partir do patrimônio e da cultura, e isso passa por políticas públicas que viabilizem um pacto civilizacional”, considerou Vieira. “Vivemos em sociedade e somente pela política pública é possível garantir que o interesse público se sobreponha aos interesses individuais”, afirmou.

Painel destacou a necessidade de incluir a cultura e o patrimônio nas discussões sobre a mudança climática
Painel destacou a necessidade de incluir a cultura e o patrimônio nas discussões sobre a mudança climática

Cúpula dos Povos

O mais tradicional evento paralelo à COP é a Cúpula dos Povos, organizado por movimentos da sociedade civil com objetivo de dar voz a comunidades afetadas pelas mudanças climáticas e propor soluções baseadas na justiça ambiental.

A Unicamp também participou da programação da Cúpula dos Povos, no campus da Universidade Federal do Pará (UPFA). No dia 13, as pesquisadoras Silvia Cristina Franco do Amaral, da Faculdade de Educação Física da Unicamp (FEF), e Emília Rutkowski, da Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo (Fecfau), compuseram a mesa redonda “Lazer e Natureza em disputa: racismo ambiental e decolonialidade”. Também participou a professora da UFPA e da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Olga Lucia Castreghini de Freitas, que coordena o grupo Foco na COP30.

A atividade foi proposta pela Adunicamp, pelo Núcleo de Altos Estudos Amazônicos (NAEA) e pelo grupo Foco na COP 30. Formado por pesquisadores da UFPA e de outras instituições, o grupo pretende contribuir para as discussões sobre desenvolvimento urbano sustentável na Amazônia.

O impacto das obras e reformas realizadas em Belém para a COP 30 na população local, o direito a espaços de lazer dignos e inclusivos e a necessidade de construir equipamentos urbanos que dialoguem com a realidade ambiental, social e cultural da Amazônia foram alguns dos temas discutidos na mesa.

De acordo com a Secretaria de Comunicação do governo do Pará, mais de 30 obras prepararam a capital para sediar a COP, entre elas a criação de novos espaços turísticos e de lazer, como o Parque da Cidade, com quadras poliesportivas, pista de caminhada e de skate, ciclovia e áreas verdes. Conforme explicou Amaral, os espaços de lazer urbanos são também palco de disputas. “De modo geral, os planos urbanísticos reproduzem modelos europeus, o que muitas vezes silencia ou desconsidera necessidades da população local”, afirmou.

Rutkowski também criticou a adoção de modelos europeus de parques, defendendo que esses espaços devem emergir das características locais. A pesquisadora da Fecfau destacou a necessidade de nos “apropriarmos das Américas como americanos” e de criar espaços de lazer coerentes com nossas especificidades. Ainda segundo Rutkowski, é fundamental aquilombar os espaços, ou seja, apropriar-se, decidir, permanecer e cuidar do território. “Mesmo que as reformas feitas em Belém não tenham sido originalmente construídas com ou para a população, elas podem e devem ser apropriadas por ela.”

Porta de entrada para a Amazônia brasileira, Belém tomou lugar de destaque no cenário nacional e internacional desde o anúncio, em 2024, de que seria a cidade-sede da COP.

Para Freitas, a escolha de Belém desloca o olhar para uma região que representa 60% do território nacional, mas que historicamente tem pouca voz nas relações de poder do país. “Cercada por rios, estamos em uma cidade com uma forte relação com as águas, o que exige modelos de organização urbana diferentes dos padrões sudestinos onde, em geral, acontecem os grandes eventos”, destacou. “Ao longo da preparação para a Conferência, observamos uma verdadeira batalha do Brasil contra o Brasil, com discursos que tentaram desqualificar a cidade como sede da COP”, complementou. Na opinião de Rutkowski, sediar a COP 30 em Belém foi um acerto do governo brasileiro, pois expõe à comunidade internacional uma face fundamental do país: a Amazônia.

O Raimbow é o barco do Greenpeace que participou intensamente da Cúpula dos Povos
O Raimbow é o barco do Greenpeace que participou intensamente da Cúpula dos Povos

Marca brasileira nas COPs

A primeira Cúpula dos Povos aconteceu na Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, a Rio 92, como um evento alternativo à Conferência. Desde então, movimentos sociais, ONGs e representantes de comunidades indígenas, ribeirinhos, quilombolas e outras se reúnem neste evento paralelo à Conferência.  A programação deste ano foi encerrada ontem (16). A organização da Cúpula entregou ao presidente da COP30, o embaixador André Corrêa do Lago, a Carta Final. O documento coloca o trabalho de cuidado no centro da vida, reconhece o feminismo como parte essencial da resposta às crises e destaca a sabedoria ancestral dos povos originários, a criatividade dos territórios e a força espiritual como fundamentos de soluções para a crise climática.

Foto de capa:

Além dos espaços oficiais da COP, a Blue e a Green Zone, que ocupam o Parque da Cidade, em Belém, uma série de eventos relacionados à Conferência se espalha pela cidade
Além dos espaços oficiais da COP, a Blue e a Green Zone, que ocupam o Parque da Cidade, em Belém, uma série de eventos relacionados à Conferência se espalha pela cidade
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