A cerimônia de lançamento da Semana do Meio Ambiente Unicamp 2024, na manhã desta quinta-feira (06/06), foi marcada pela abertura de uma cápsula que continha uma carta de intenções de sustentabilidade enterrada, há dez anos, na Praça da Paz. O ponto central do documento, elaborado em 2014 por um grupo de funcionários, estudantes e professores da Universidade, consistiu na pergunta: “Que Unicamp queremos?”. O evento também contou com o plantio de oito árvores nativas do Brasil. As atividades dos dois dias de programação da semana, nos dias 6 e 7 de junho, acontecem na Praça da Paz e no auditório do Grupo Gestor de Benefícios Sociais (GGBS).
“A carta foi um mapa da trajetória rumo à Unicamp sustentável. E a cápsula simboliza a semente que nós plantamos”, disse a coordenadora de Meio Ambiente da Prefeitura do Campus de Barão Geraldo, Maria Gineusa de Medeiros e Souza, que fez a leitura da carta retirada da cápsula. “Dessa forma, em um trabalho de construção colaborativa, a partir da identificação dos valores do grupo, foi possível elaborar uma visão de futuro para a Unicamp e elencar as ações necessárias para a realização dessa visão”, diz um trecho do documento.
A coordenadora elencou alguns resultados das ações realizadas nos últimos dez anos, a maior parte delas executadas pela prefeitura do campus de Campinas. Entre elas estão os transformadores de água e energia, que passaram a ser ecológicos, a instalação de placas fotovoltaicas – sob coordenação do professor Luiz Carlos Pereira da Silva, do programa Campus Sustentável – e o trabalho realizado com os resíduos, incluindo os perigosos, que tiveram todo o manejo mapeado, desde a segregação até a destinação final. Com relação aos resíduos recicláveis e não recicláveis, realizou-se nos últimos cinco anos um trabalho com as unidades para diminuir a quantidade de material enviada para aterros sanitários.
Comprometimento e continuidade
“Nesses dez anos, em todas as unidades, foi criado um plano de gestão de resíduos. Hoje não falamos mais que o resíduo vai do berço ao túmulo. Falamos que vai do berço ao berço, por meio de uma economia circular. Nós queremos isso para a Universidade, que haja esse olhar, por meio da sensibilização, dentro e fora dos cursos. Estamos evoluindo. A palavra que define tudo isso é comprometimento”, disse Souza, segundo quem, nesse período, muitas pessoas deixaram-se sensibilizar pelas questões socioambientais.
Para o professor Sandro Tonso, da Faculdade de Tecnologia (FT), também integrante do grupo que elaborou a carta há dez anos, além das diversas ações na área de gestão, as ações na área do ensino mostraram-se fundamentais. “Nós formamos muita gente e precisamos formar com essa mentalidade, em qualquer área de conhecimento.” O professor destacou ainda que, nesse período de dez anos, houve a criação da Comissão Assessora de Mudanças Ecológicas e Justiça Ambiental (Cameja), da Diretoria Executiva de Direitos Humanos (DEDH), da qual ele faz parte. “Criar um grupo que pensa direitos humanos e direitos ambientais como uma só questão é muito inovador. Somos um exemplo para muitas universidades”, disse Tonso durante a abertura da cápsula. “O importante é que haja continuidade.”
O jardineiro Sebastião Martins Vital, de 86 anos, que estava presente dez anos atrás, quando a cápsula foi enterrada, recuperou o invólucro, nesta quinta-feira. Ele trabalhava em 2014 na Divisão de Educação Infantil e Complementar (Dedic). “Foi um trabalho muito bonito. Estávamos muito otimistas. Agora vamos avaliar as ideias daquela época. Na minha opinião, houve dificuldades, mas houve também muita coisa boa. E muita coisa boa ainda vai acontecer.”
Semana 2024
A Semana do Meio Ambiente, uma realização da Diretoria Executiva de Planejamento Integrado (Depi), é organizada pela Coordenadoria de Gestão Ambiental e de Resíduos (Geare), em parceria com a prefeitura de Campinas e a prefeitura da Cidade Universitária, com o apoio do GGBS. Com o tema “Carta de Intenções – Mapa da Trajetória rumo à Unicamp Sustentável – Os avanços de 2014 a 2024”, a Semana do Meio Ambiente Unicamp 2024 foi oficialmente aberta pela reitora em exercício, Maria Luiza Moretti, pelo secretário municipal do Clima, Meio Ambiente e Sustentabilidade de Campinas, Rogério Menezes de Mello, e pelo diretor-executivo da Dipe, Douglas Soares Galvão.
“Essa carta de intenções serviu como uma bússola para definir nossos valores em relação ao meio ambiente, entre eles a cidadania e o respeito”, afirmou Moretti, lembrando o fato de a iniciativa ter partido de um grupo de funcionários, docentes e estudantes, unidos com o propósito de construir um futuro mais verde e sustentável na Universidade. “A Unicamp está investindo na sustentabilidade. São questões que atravessam diversas gestões”, disse a reitora. “O planeta nos dá uma resposta para aquilo que nós fazemos com ele. E a resposta que nós tivemos no Rio Grande do Sul foi dramática, com 85% do Estado devastado”, alertou.
O diretor da Dipe também mencionou as inundações recentes no Rio Grande Sul como um exemplo de como as questões ambientais representam demandas urgentes. “Ao contrário do que se pensava há pouco tempo, cuidar do meio ambiente não é mais uma questão do futuro, para filhos e netos. É uma questão nossa atual”, disse Galvão. Um dos objetivos da Semana do Meio Ambiente conscientizar as pessoas a esse respeito, afirmou.
Projetos
Mello falou sobre o que ocorreu com o meio ambiente nos 250 anos de história de Campinas. Segundo ele, 68% da mata ciliar foi destruída, restando apenas 32%. “No ritmo de recuperação de 1% ao ano, levaríamos cerca de 70 anos para sanar o passivo que acumulamos enquanto sociedade nos últimos 250 anos. É importante olhar para o que fizemos para corrigirmos a rota”, afirmou o secretário. “É importante olhar de forma crítica a realidade e cobrar do poder público. Mas é importante também perceber que há uma evolução. E o melhor lugar para testar essa evolução é aqui, na Unicamp, porque vemos ações consistentes para um campus sustentável”, disse Mello.
O secretário citou como exemplo os projetos de energia solar fotovoltaica, de criação dos corredores ecológicos e de transporte sustentável (ônibus elétrico) “e diversas ações que se multiplicaram e ganharam corpo na última década”. Também destacou o projeto Comunidades de Energia, uma parceria da prefeitura com a Unicamp. “Em breve vamos instalar no bairro Satélite Íris – uma das regiões mais socialmente vulneráveis da cidade – uma usina solar fotovoltaica a fim de produzir energia para mais de 50 famílias. O projeto, financiado pelo Fundo de Meio Ambiente Campinas, com verba de R$ 1,5 milhão, vai servir de embrião.”
Plantio de árvores e poesia
O evento na Praça da Paz encerrou-se com o plantio de oito árvores nativas brasileiras. Segundo Lauro dos Santos, da Divisão de Meio Ambiente da prefeitura do campus, seis delas eram carobas (Jacaranda micranta), que podem chegar a até 20 metros de altura. “Temos poucas dessas espécies aqui, no campus, por isso estamos aumentando a presença delas na Praça da Paz. São muito visadas por periquitos e abelhas, entre outras espécies da fauna alada, que contribuem para a polinização”, disse Santos.
Durante o plantio da primeira árvore, Vital, que além de jardineiro também é autor de livros de poesia, declamou uma composição de sua autoria: “Do profundo da mente / eu tiro a semente / e eu saio ao mundo a plantar / eu planto o amor perfeito / a simplicidade das margaridas / as aleias coloridas / nos jardins de meus semelhantes / eu planto rosas perfumosas / orquídeas ondulantes / eu não paro de plantar / eu planto jardins raros / não importa que eles sejam caros / eu dou tudo de presente / rosa branca, vermelha, amarela / de todas as mais singelas / eu não paro de plantar / quanto mais lindo é o jardim / aumenta dentro de mim / o amor pelas flores que eu vejo em toda a gente”. Apesar de estar aposentado, Vital continua trabalhando com plantas e livros, especialmente na periferia de Campinas, onde cuida de hortas e jardins, como fazia na Unicamp.
Leia abaixo um trecho da carta de intenções elaborada e enterrada com a cápsula em 2014:
“Nós, um grupo de funcionários, alunos e docentes desta Universidade, fizemos um movimento para criar um coletivo com o objetivo de identificar nossos valores e nossos sonhos compartilhados, assim como ideias e ações, sentindo e pensando uma universidade sustentável. Nossa primeira ação coletiva foi a elaboração da Semana do Meio Ambiente, que teve como objetivo inspirar e disseminar um novo olhar, um novo sentido relativo às questões socioambientais, além de despertar nosso compromisso e envolvimento com a trajetória e construção de uma universidade mais sustentável.”