Uma palestra da antropóloga e professora da University of Southern California (Estados Unidos) Andrea Ballestero, cujo trabalho discute o uso da água e suas implicações legais e as relativas aos direitos humanos, abriu na tarde desta terça-feira (23), na Unicamp, a XV Jornada Latino-Americana de Estudos Sociais da Ciência e Tecnologia (Esocite 2024).
Organizada pelo Departamento de Política Científica e Tecnológica (DPCT) e o Programa de Pós-Graduação em Política Científica e Tecnológica (PPG-PCT) do Instituto de Geociências (IG), a Esocite é considerada um dos mais importantes eventos da área no continente.
Confira a programação no site.
Na edição deste ano, a jornada faz uma defesa enfática da democracia e reafirma compromissos com a busca pela igualdade social, econômica, de gênero e étnico-racial, defendendo a inclusão, a diversidade e o meio ambiente.
O tema geral do evento deste ano, (Re)Fazer a Ciência e a Tecnologia na Democracia, se desdobra em seis grandes linhas temáticas, que tratam de questões como a contribuição da ciência e da tecnologia em meio às crises da democracia no continente latino-americano, as novas tecnologias e as agendas científicas globais e locais.
Esta é a quarta vez que o congresso ocorre no Brasil e a segunda vez que ocorre na Unicamp. A edição anterior aconteceu em 2000. O evento coincide também com as comemorações de 45 anos de fundação do IG.
A professora da Unicamp Janaina Pamplona da Costa, presidente da Associação Latino-Americana dos Estudos Sociais da Ciência e Tecnologia (Esocite) e coordenadora do comitê organizador da Esocite 2024, lembra que, quando da fundação do IG, há 45 anos, o Brasil e outros países da América Latina estavam sob regimes ditatoriais violentos. Costa observou então que as ameaças de rompimento com o estado de direito voltaram a assombrar o Brasil nos últimos anos.
“E foi nesse contexto, às vésperas do segundo turno das eleições de 2022 no Brasil, que conversamos sobre como seria importante realizar um evento como este na Unicamp. Um evento que falasse de democracia e que tivesse os olhos voltados para a nossa região”, afirmou. “É nesse sentido que o tema do evento, (Re)Fazer a Ciência, busca contribuir para a defesa incondicional da democracia e todas as garantias que ela nos traz ou pode nos trazer”, argumentou a professora.
O reitor da Unicamp, Antonio José de Almeida Meirelles – que participou da cerimônia de abertura da jornada –, disse que as instituições responsáveis pela ciência, tecnologia e inovação precisam estar próximas das estruturas da sociedade, como empresas, organizações sociais e órgãos públicos.
“Uma das grandes virtudes da ciência, tecnologia e inovação é que ela aumenta o cobertor e torna viável a implantação de políticas de inclusão social e, com isso, dá maior base para que a democracia se fortaleça”, afirmou.
O reitor fez ainda um alerta a cientistas, pesquisadores e estudantes. “Vocês têm de pensar decisivamente nesse desafio. As oportunidades são imensas, mas a gente tem de transformar essas oportunidades em uma agenda que, definitivamente, coloque a inclusão social e a justiça como a meta do desenvolvimento científico e tecnológico. Isso tem de ser possível. E nós temos de ser capazes de dirigir essa evolução.”
Para o professor Marko Monteiro, coordenador da pós-graduação do IG e integrante da comissão organizadora da jornada, a Esocite 2024 é especial por muitas razões.
“Nós temos muito orgulho do IG. A história do instituto é entrelaçada pela história da política científica brasileira e da América Latina”, disse. “As ideias que resultaram na criação do IG são ideias que fazem sentido até hoje. Pensar o entrecruzamento de temas ambientais, de ciência, de tecnologia, de democracia, de relações de poder, de desenvolvimento, de inovação. Tudo isso compõe a história do IG e a história da associação latino-americana. E este encontro caminha no sentido de celebrar essas ideias e ampliar essa discussão.”
Também participaram da mesa de abertura a secretária-geral da Esocite Brasil, Nilda Nazaré Pereira Oliveira, o diretor associado do IG, professor Emilson Pereira Leite, e a diretora associada da Faculdade de Ciências Aplicadas (FCA) da Unicamp, professora Milena Pavan.