Foi inaugurado no sábado passado, dia 16/04/2011, o museu do Projeto Memória em Monte Alegre do Sul (SP). Idealizado e projetado por Roberto Pastana Teixeira Lima, pesquisador do CHAA, é um instrumento exemplar para o conhecimento da arquitetura do século XIX e inÃcio do XX naquela cidade. Significa uma contribuição importante para os estudos da história arquitetural mais ampla no Estado S. Paulo. Desdenhada durante muito tempo (e ainda hoje) pelos estudiosos especialistas (que se voltaram essencialmente para o século XVIII e para a modernidade), a produção desse perÃodo foi lamentavelmente abandonada e destruÃda. Ora, mesmo em exemplares modestos, ela expõe invenções na composição das fachadas, e testemunha de uma época em que construções individuais, públicas ou privadas, hamonizavam-se com a concepção urbana, coletiva.
O museu é concebido do modo o mais rigoroso e claro. As técnicas mais diversas, o papel das ordens, os elementos cromáticos, as funções de uso, são ilustrados não apenas por fotos, mas por fragmentos recuperados de edifÃcios demolidos. O conjunto não apenas informa, mas desperta a consciência pela preservação entre os visitantes, e é um admirável meio didático para as escolas.
Complementando o museu, foi publicado o volume Passeios da Memória, cuja autoria também é de Roberto Pastana Teixeira Lima. Diferente dos inventários editados pelos órgãos públicos de preservação, que se limitam a uma lista seca de bens tombados, o guia analisa, informa, explica, de maneira rigorosa. No Brasil até agora tem-se pouca noção do que significa um guia feito com parâmetros cientÃficos. Exemplos como o dos numerosos volumes da Guida del Touring Club, na Itália, mÃtica e antiga coleção de capa vermelha, verdadeira enciclopédia detalhada de todos os monumentos italianos, obra rigorosa e de referência, ou dos guias publicados pela AIA americana, até agora não encontraram equivalentes entre nós. O que temos, quando existem, são guias superficiais, lacunares, e pouco confiáveis no que concerne as informações.
Em sua escala local, os Passeios da Memória mostram o que poderia ser feito em cada cidade, se nelas houvesse investimento inteligente no campo do conhecimento e também da preservação. Uma pequena fachada, que figura ali, educa o olhar para a sua importância, e protege muitas vezes melhor do que uma imposição autoritária, valorizando, para todos, e particularmente para o proprietário, suas qualidades.
Jorge Coli |