Ecologia com visão sistêmica

O sistema de produção de alimentos.

Uma primeira visão:

O beneficiamento dos alimentos permite preservar o valor nutricional e sua vida útil, além de agregar valor e fornecer estabilidade a produção. A preservação de alimentos pode ser feita artesanal ou industrialmente. Mesmo quando se faz a preservação industrialmente existem variantes: pode ser como rede de pequenas indústrias ou por meio de poucas indústrias grandes.

Observe nas figuras os campos de ação da indústria, do transporte, da distribuição, do consumo de alimentos e do tratamento de resíduos.

Uma segunda visão (mais ampla):

A natureza trabalha em ciclos de produção e consumo.. A produção de alimentos deve ser vista como um ciclo completo para sua análise e diagnóstico. A análise de ciclo de vida (LCA) com custos econômicos (ou com custos energéticos) permite observar as características peculiares da indústria de alimentos atual.


No caso de alguns produtos de exportação (soja em grão), a despesa de energia gasta no transporte entre continentes é de magnitude equivalente à energia utilizada na produção do grão. E o custo de tratamento de efluentes nos países que consomem soja como ração para criação animal é enorme, também equivalente em custo. Por outro lado, os produtores agrícolas dos países periféricos financiam em grande parte esse tipo de desenvolvimento agro-exportador. Desde várias décadas atrás o agricultor vê o preço do grão despencar e, conseqüentemente, sua margem de lucro cai. Ele é obrigado a perder capital biológico, social e econômico.

Fora isso, a pressão para vender muito para compensar o baixo preço provoca o aumento do tamanho das unidades de produção criando a perversa economia de escala do setor agrícola.

O sistema econômico e político vigente impede a evolução técnica rumo à eficiência pois não considera multas para pagar as externalidades (despesas repassadas a sociedade) nem incentivos para o agricultor ecológico (que poupa insumos e não polui).

Um outro modelo de desenvolvimento mais sustentável (seguindo as linhas mestras da Agenda 21), procuraria encurtar a distância entre a produção e o consumo e o planejamento da absorção do impacto ambiental pelos ecossistemas locais, para repassar ganhos ao produtor, favorecendo a descentralização da indústria e o emprego no meio rural. Desta forma, o agricultor e a rede social que ele suporta poderiam ser beneficiados, trazendo prosperidade à região e ao país.

O desafio é como estabelecer essa política alternativa? Como conscientizar nossos governantes da necessidade dessa política econômica alternativa?

Os profissionais universitários, tanto da área de alimentos como de outras áreas, devem ser esclarecidos sobre estas questões, pois freqüentemente serão chamados a opinar sobre políticas do setor público e do setor empresarial. Se eles não possuírem um conhecimento amplo (sistêmico) repetirão os equívocos das políticas atuais.

Enrique Ortega. DEA/FEA/Unicamp (20/02/2003)

Questões:

  1. Um sistema econômico socialista e ecológico só seria alcançado através de uma revolução social?
  2. Como reformular a educação no sentido de que sejam formados profissionais com visão ecológica?
  3. Que tipo de incentivos poderiam ser dados ao agricultor ecológico em um primeiro momento?
  4. Quais deveriam ser as penalidades aplicadas ao agricultor que opte pelo modelo convencional?