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Refugiados terão processo seletivo à distância para ingresso na Unicamp

Anúncio foi feito durante Fórum Permanente, organizado pela Cátedra Sérgio Vieira de Melo; edital deve ser lançado no início de 2025

Fórum Permanente foi organizado pela Cátedra Sérgio Vieira de Mello
Fórum Permanente foi organizado pela Cátedra Sérgio Vieira de Mello

A Unicamp vem se destacando na promoção do acesso à educação superior para pessoas refugiadas por meio da Cátedra Sérgio Vieira de Mello (CSVM). Durante o Fórum Permanente Imagens e Apagamentos do Refúgio Contemporâneo, realizado no dia 13 de agosto, a presidenta da CSVM, Ana Carolina Maciel, anunciou que está em fase de tramitação legal uma nova modalidade de ingresso na Universidade que será oferecida às pessoas em situação de deslocamento forçado. “Esse será um processo de prova online, algo bastante inovador porque vai possibilitar que possamos acolher pessoas que ainda não estejam no Brasil”, explicou.

Em declaração, o diretor da Comissão Permanente para os Vestibulares (Comvest) da Universidade, José Alves, explicou que a Comissão, bem como a Diretoria Acadêmica estão participando das etapas de tratativas para que haja uma seleção para os estudantes refugiados. As vagas, em questão, serão subtraídas daquelas oferecidas como remanescentes. “Será lançado um edital no primeiro semestre de 2025, cujo objetivo é oferecer maior transparência aos processos de seleção da Universidade, considerando que devemos ter um primeiro ato, que seria uma prova de conhecimentos e depois a análise pelas coordenadorias de cursos e as situações que envolvem as peculiaridades do atendimento às pessoas em situação de refúgio”, declarou.

José Alves esclareceu que a prova de seleção será oferecida em inglês, português e espanhol para que os candidatos possam escolher qual língua teria mais familiaridade. “A Comvest está trabalhando e aperfeiçoando seus métodos para poder ter toda a segurança e credibilidade em mais este desafio de criar um novo vestibular”, afirmou

A Universidade já conta com um processo de ingresso simplificado para refugiados, mas ainda não há a possibilidade de realizar uma prova à distância. “Depois que a pessoa ingressa em nosso sistema, temos uma rede de suporte oferecida por meio de uma parceria com o centro de línguas, que tem o curso de português como idioma de acolhimento, do serviço de atendimento psicológico, de bolsas de permanência e do atendimento no Centro de Saúde da Comunidade, que oferece consultas ambulatoriais e vacinas.”, esclareceu Maciel.

Atualmente, a Unicamp conta com alunos provenientes de países como Síria, Irã, Cuba, Congo, Rússia, Afeganistão e Serra Leoa, entre outros – um grupo que “vai se diversificando de acordo com as crises humanitárias que lamentavelmente parecem não ter um horizonte de término”, disse Maciel.

A presidenta da CSVM Ana Carolina Maciel: processo inovador que possibilitará acolher pessoas que ainda não estejam no Brasil
A presidenta da CSVM Ana Carolina Maciel: processo inovador que possibilitará acolher pessoas que ainda não estejam no Brasil

Acolhimento e Integração

O Fórum Permanente Imagens e Apagamentos do Refúgio Contemporâneo reuniu acadêmicos, ativistas, jornalistas, artistas e membros do poder público e do terceiro setor com o objetivo de ampliar a visibilidade do tema e mobilizar esforços para expandir as ações de acolhimento.

“O mundo contemporâneo enfrenta riscos significativos, com disputas de poder que agravam a questão dos refugiados. Como instituição, temos o dever de dar atenção a esses problemas”, declarou o reitor da Unicamp, Antonio José de Almeida Meirelles, que participou da mesa de abertura do evento no dia 13 de agosto. “Gostaria de parabenizar a cátedra e a Pró-Reitoria de Extensão, Esporte e Cultura por criarem espaços de reflexão profunda e desenvolverem atividades que acolhem essas pessoas”, disse.

A programação do evento contou com uma apresentação musical da artista palestina Oula Al-Saghir, mesas de debate em torno dos temas “Perspectivas de Acolhimento e Integração no Refúgio Contemporâneo” e “Protagonismo Migrante em Produções Artístico-Culturais” e um bate-papo com o jornalista Yan Boechat, que trabalhou em algumas das principais regiões de conflito do mundo.

Além do reitor, participaram da mesa de abertura o pró-reitor de Extensão, Esporte e Cultura, Fernando Coelho, a chefe de gabinete adjunta, Adriana Nunes Ferreira, a presidenta da CSVM, Ana Carolina de Moura Delfim Maciel, a diretora do Institut Convergences Migrations (ICM), Marie Caroline Saglio, e a diretora do Departamento de Direitos Humanos e Cidadania da Secretaria Municipal de Desenvolvimento e Assistência Social da Prefeitura de Campinas, Marnen Viccari Barbosa.

Apresentação musical da artista palestina Oula Al-Saghir durante Fórum Permanente Imagens e Apagamentos do Refúgio Contemporâneo
Apresentação musical da artista palestina Oula Al-Saghir durante Fórum Permanente Imagens e Apagamentos do Refúgio Contemporâneo

Deslocamento forçado

A CSVM, presente na Unicamp desde 2019, é uma iniciativa do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur) em cooperação com universidades. Atualmente, a cátedra atua em 45 instituições brasileiras, e o projeto está em expansão para outros países.

Os dados mais recentes da Acnur mostram que o deslocamento forçado atingiu níveis históricos em todo o mundo. Segundo relatório da agência, 120 milhões de pessoas (número que, provavelmente, configura uma sub-representação) precisaram fugir de suas casas em decorrência de perseguição política, conflitos armados, crises humanitárias ou catástrofes naturais.

“Há um montante expressivo de pessoas impedidas de se deslocar nesse exato momento, vivendo em um limbo devidamente consentido pela sociedade contemporânea”, disse a também historiadora Maciel, avaliando que os deslocados têm suas vozes invisibilizadas por uma ausência de política efetiva de memória. “Essa é uma questão em que temos sempre pensado, em nossas pesquisas, com nossos alunos.”

Expressão artística como ferramenta de protagonismo

Nesse contexto, o fórum foi também palco para o lançamento do programa Rede ArteRefúgio, que está com inscrições abertas para seu primeiro ciclo.

O programa é voltado para artistas visuais migrantes, em qualquer estágio da carreira, que tenham sido impactados por experiências de deslocamento forçado ou que abordem a temática em sua produção.

A rede pretende realizar uma exposição de artes visuais e um ciclo de acompanhamento artístico, com atividades desenvolvidas em conjunto com estudantes e pesquisadores da Unicamp.

As inscrições podem ser realizadas no site do programa, que também traz mais informações sobre as atividades previstas.

O Rede ArteRefúgio se insere no contexto das ações da CSVM na Unicamp, em parceria com o grupo de pesquisa CineRE Trajetórias sem Fronteira. O projeto foi contemplado no edital Proeec-PEX 2024.

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