O professor da Faculdade de Educação Física (FEF) da Unicamp Evandro Lázari embarca em sua 35ª participação como treinador da seleção brasileira, desta vez no Campeonato Ibero-Americano de Atletismo em Cuiabá, de 10 a 12 de maio. Logo em seguida, ele ruma para Portugal, em período de preparação de atletas para os Jogos Olímpicos de Paris, a serem realizados de 26 de julho a 11 de agosto deste ano.
Após 22 anos de carreira como preparador de atletas de velocidade e barreiras, o currículo extenso de Lazári contempla duas participações olímpicas (Tóquio 2020 e Rio 2016), 13 campeonatos mundiais, quatro Jogos Pan-Americanos, além de diversas competições e premiações ao redor do mundo. Agora, ele está entre os técnicos cotados para comandar a delegação brasileira de atletismo em Paris.
Desde 2020, Lázari integra o time de docentes da Unicamp, trazendo a experiência da pista para a sala de aula. Porém, sua relação com a Universidade teve início bem antes, como estudante de graduação (2002), mestrado (2011) e doutorado (2017). Ainda enquanto graduando, ele já orientava equipes universitárias na pista da Unicamp, local importante para sua carreira. “Meu primeiro atleta a ir para os Jogos Pan-Americanos, em 2007, no Rio de Janeiro, treinava aqui”, conta. Para o professor, a aproximação entre teoria e prática é necessária para o aperfeiçoamento do esporte brasileiro.
Esporte de alto rendimento na Universidade
Pensando em estreitar esses laços, Lázari aposta em uma série de iniciativas relacionadas ao esporte de alto rendimento. Por meio de um Acordo de Cooperação entre a FEF e o Instituto Vanderlei Cordeiro de Lima (IVCL), retomado em 2023, ele acompanha seis atletas que, ocasionalmente, utilizam a pista de atletismo da Unicamp e que foram objeto de análise da tese de doutorado do docente. O convênio visa a desenvolver pesquisas para contribuir para o treinamento de alto desempenho na modalidade. “Acredito que dois a quatro deles têm chances de ir para os Jogos de Paris. A equipe brasileira de atletismo será definida no dia 30 de junho”, esclarece.
Entre tais atletas, estão Tiffani Marinho e Marlene Santos, que, no final de 2023, realizaram treino na pista da FEF sob orientação de Lázari. A primeira é pentacampeã brasileira e tetracampeã sul-americana nos 400 metros rasos, competidora nos Jogos Olímpicos de Tóquio e vice-campeã mundial no revezamento 4×400 metros misto no Mundial de Revezamentos de 2021 na Polônia. Já a segunda é medalhista de prata nos 400 metros com barreiras dos Jogos Pan-Americanos de Santiago 2023 –primeira medalha do Brasil na história da prova –, vice-campeã dos Jogos Mundiais Universitários de 2023 em Chengdu, na China, e campeã no revezamento 4x400m rasos feminino nos Jogos Pan-Americanos Júnior em Cali, na Colômbia, em 2021. Ambas são atletas vinculadas à equipe da Organização Funilense de Atletismo (Orcampi), parceira do IVCL, que treinou na pista da Universidade de 2005 a 2010.
Atualmente, uma das bandeiras do professor é a reforma da pista de atletismo da FEF para padrões internacionais, a fim de ampliar o treinamento de atletas no espaço. Isso diminuiria a distância entre profissionais e alunos, aperfeiçoando a formação profissional e facilitando a realização de pesquisas. “Com isso, conseguimos trazer a realidade do esporte de alto rendimento para a Universidade e também motivar quem está iniciando no esporte. Os atletas se beneficiam da nossa estrutura, e diversos cursos da Unicamp também podem se aproveitar da presença deles, além da FEF, como a Engenharia de Alimentos e a Medicina, por exemplo”.
Segundo Lázari, este é um sonho que já é realidade em outros países, como em universidades dos Estados Unidos. “É uma via de mão dupla: o ambiente acadêmico ter mais contato com a prática, e os profissionais práticos também entenderem mais a teoria, porque ainda há muito empirismo no treinamento de alto rendimento”, opina. A proposta de melhoria da pista deu início a uma parceria entre a Unicamp e a Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt) com a meta de capacitar futuros treinadores. “Estamos tentando inserir mais ciência no esporte brasileiro. Nosso objetivo, a longo prazo, é criar um curso de especialização em atletismo, o que ainda não existe no Brasil”.
Em um trabalho em andamento, uma equipe de alunos e professores da Unicamp esteve presente no Campeonato Sul-Americano de Atletismo de 2023, em São Paulo, para avaliar e traçar um perfil dos atletas da delegação. O diagnóstico foi encaminhado para a Confederação. Outro projeto da CBAt, em colaboração com o Comitê Olímpico Brasileiro (COB), foi a publicação, em 2022, do “Modelo de Desenvolvimento Esportivo do Comitê Olímpico do Brasil”, que contou com a participação de três docentes da FEF entre seus 16 autores: Evandro Lázari, Júlia Barreira e Larissa Galatti.
Como especialista em Gestão do Esporte pelo COB (2019) e treinador de atletas e equipes medalhistas em diversas competições — incluindo a equipe campeã mundial do revezamento 4×400 metros misto no Campeonato Sub-18 de Atletismo de 2017, no Quênia —, Lázari defende que o atletismo do Brasil está em pé de igualdade, em termos de estrutura e conhecimento, com os grandes competidores internacionais. “Falta melhorar nossos objetivos e o profissionalismo de toda a cadeia, é um trabalho educacional e cultural”, afirma. Para ele, os futuros educadores físicos interessados em seguir no alto rendimento devem ter perseverança e resiliência. “A maioria dos alunos chegam à Universidade pensando no alto rendimento, mas descobrem que não é tão simples. É um trabalho demorado, um meio pequeno. Se você gosta, tem que acreditar no seu sonho e correr atrás.”
Comunidade esportiva
Em outra frente de trabalho, o professor Evandro Lázari também coordena o projeto de extensão que, pelo terceiro ano, oferece às comunidades interna e externa da Unicamp, de seis até 80 anos de idade, aulas de atletismo por meio da Codesp/FEF. Atualmente, o projeto conta com 250 alunos dos grupos de corrida, atletismo infantil e atletismo adulto. “É uma forma de devolver para a comunidade o trabalho desenvolvido na Universidade dentro da área do esporte”, afirma. Ele complementa que está em fase de planejamento outro projeto social para inserção de crianças no atletismo, por meio da Lei de Incentivo ao Esporte.