A Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp e a organização social Saúde, Alegria e Sustentabilidade Brasil (SAS Brasil) lançaram, nesta quarta-feira (8), o primeiro laboratório de ensino e inovação social em saúde digital do Brasil. O encontro contou também com a presença da secretária de Saúde Digital do Ministério da Saúde, Ana Estela Haddad.
Denominado Living Lab (laboratório vivo, em tradução livre), o novo espaço será um polo de disseminação de modelos assistenciais a partir de plataformas de telemedicina e de soluções em saúde móvel e digital. O laboratório permitirá a realização de consultas e exames remotos, o compartilhamento de informações, a colaboração entre os profissionais de saúde e a interação com os pacientes que estejam em localidades diferentes são algumas das possibilidades. Instalado no Instituto de Otorrinolaringologia Cirurgia de Cabeça e Pescoço (IOU) da Unicamp, o Living Lab realizará atendimentos, oferecerá cursos livres e treinamento, além de promover projetos de extensão voltados para a área de Saúde Digital. O espaço contará com recursos da Organização Panamericana de Saúde (OPAS), do Ministério da Saúde, de empresas privadas e de verbas oriundas de emendas parlamentares.
Com carretas adaptadas, dotadas de equipamentos para atendimento remoto, a SAS Brasil faz expedições itinerantes em regiões onde o acesso a médicos especialistas é limitado ou inexistente. Nessas caravanas, são oferecidas até 20 especialidades de saúde. No atendimento, um enfermeiro lotado em um posto de saúde no interior do Ceará, por exemplo, realiza procedimentos transmitidos a um médico no Rio de Janeiro. Esse profissional analisa os dados enviados e interage com a enfermeira e o paciente, exatamente como faria numa consulta presencial.
Diminuir o absenteísmo
O professor do Departamento de Tocoginecologia da FCM Rodolfo Pacagnella diz que o novo laboratório melhorará o acesso das pessoas aos serviços de saúde, reduzirá filas e diminuirá o absenteísmo — o não comparecimento do paciente à consulta. “Hoje, o absenteísmo gira em torno de 30%, mas em algumas áreas chega a 50%. E, muitas vezes, as pessoas deixam de comparecer à consulta não por irresponsabilidade, mas por dificuldades de deslocamentos”, explica. Segundo Pacagnella, a pandemia mostrou a necessidade de aprimorar o acesso aos serviços de saúde. “Já sabíamos disso antes, mas, depois da pandemia, concluímos que as estratégias de teleatendimento deveriam ser ampliadas”, disse o professor. “Foi aí que pensamos numa parceria com a SAS Brasil, que é uma startup de empreendedorismo social que trabalha justamente com a ampliação do acesso à saúde. Queremos a construção de projetos de pesquisa e de educação em telessaúde.”
Já a diretora e cofundadora da SAS Brasil, Sabine Zink, diz que o laboratório vivo inaugurado na Unicamp será um espaço para pesquisa, com testagem e validação de novos protocolos que poderão ser ensinados e disseminados entre estudantes e profissionais de saúde. Além disso, o espaço também permitirá atendimentos. “A ideia é desenvolver cursos e formar alunos em saúde digital, colaborando com a Unicamp e com a FCM nas disciplinas voltadas para essa área”, afirma. “Por isso, trata-se de um laboratório vivo, em que podemos mostrar na prática como a saúde digital pode acontecer.”
Para o reitor da Unicamp, professor Antonio José de Almeida Meirelles, a Universidade tem grande interesse em participar de projetos que possam envolver orgãos públicos, organizações sociais e empresas. “Podemos transformar este país se conseguirmos criar arranjos colaborativos como esse”, disse Meirelles. “Sem esse modelo de arranjo, não teremos desenvolvimento com inclusão, que é o que queremos.”