O Conselho Universitário (Consu) concedeu, nesta quarta-feira (8), o título de Professor Emérito da Unicamp ao médico argentino Luis Guillermo Bahamondes. Proposta pelos professores da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) Cassia Juliato, José Guilherme Cecatti e Sophie Derchain, a honraria é um reconhecimento da Universidade à contribuição de Bahamondes à academia, pelas pesquisas que desenvolveu e pelo impacto do seu trabalho no Brasil e no mundo.
Bahamondes nasceu em Córdoba, na Argentina, em 1946. Graduou-se médico em 1971 na Faculdade de Medicina da Universidad Nacional de Córdoba. Sete anos depois, foi admitido como professor assistente na Unicamp. O professor chegou à cerimônia acompanhado da esposa, Mariola, dos três filhos — Gabriela, Valéria e Emiliano — e dos três netos, Luis Fernando, Julia e Ana Raquel. Destacou a importância de uma ciência voltada para o indivíduo e focada na solução de problemas concretos da sociedade. “Fazer ciência com e para seres humanos é fundamental num país com tantas deficiências no tocante à saúde da mulher. Temos cifras ofensivas de mortalidade materna”, afirmou. “Sempre devemos nos perguntar qual é o benefício que nossas pesquisas vão produzir para a vida das pessoas. Fazer medicina aplicada é ajudar o alvo das nossas pesquisas.”
No evento, Bahamondes lembrou como o tema da saúde reprodutiva da mulher é negligenciado no Brasil. “Imagine que, num país de 210 milhões de habitantes, não há política de planejamento familiar, em nenhum dos níveis — municipal, estadual ou federal”, criticou. Também se disse preocupado com as gerações mais recentes e com a força “danosa” das redes sociais. “Nos meus 77 anos, já vi quase de tudo na viagem pela vida, mas hoje estou preocupado com as novas gerações, que correm o risco de serem envenenadas pelo sofisma dos novos profetas — os influencers, youtubers etc. As redes sociais vendem fumaça e ares de liberdade, mas que de liberdade não têm nada”, denunciou.
O professor João Luiz Pinto e Silva foi escolhido como padrinho do homenageado e fez uma confissão. “Se eu não tivesse sido convidado para ser seu padrinho, com certeza, iria trabalhar para boicotar essa cerimônia”, brincou ele. Silva lembrou os anos de 1970, quando conheceu Bahamondes no Uruguai, e falou sobre os impactos das ditaduras da América Latina daquele período e da amizade que, segundo ele, se consolidou ao longo do tempo.
O reitor da Unicamp, professor Antonio José de Almeida Meirelles, disse que a trajetória de Bahamondes é uma espécie de síntese do que deve ser a atuação da Universidade. “Ele contribuiu com governos nacionais e estrangeiros e fez pesquisas que tiveram impacto direto na sociedade. Não olhou apenas para dentro da academia”, disse o reitor. “A Unicamp conseguiu excelência acadêmica por estar atenta às carências do país”, concluiu. Já para a coordenadora-geral da Unicamp, professora Maria Luiza Moretti, Bahamondes construiu uma trajetória exemplar. “Foi um mentor excepcional para gerações de estudantes”, afirmou.
Referência na saúde da mulher
Durante mais de 50 anos de atuação profissional, Bahamondes desenvolveu atividades de pesquisas no âmbito da saúde da mulher, em especial na área materno-infantil. No Departamento de Tocoginecologia da FCM, desempenhou atividades clínicas e de cirurgia e atuou no ensino de graduação e na residência médica. Em 2013, já havia recebido o Prêmio de Reconhecimento Acadêmico “Zeferino Vaz” da Unicamp e o Prêmio de Reconhecimento Docente pela Dedicação ao Ensino de Graduação.
Desde 2018, Bahamondes é o coordenador de um subsídio de pesquisa autorizado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) que criou o chamado Programa de Pós-Graduação em Tocoginecologia da FCM. Esse programa consiste no desenvolvimento e no treinamento em pesquisa em reprodução humana e é destinado a jovens profissionais de Honduras, Guatemala, Nicarágua, El Salvador e Bolívia na América Latina e de países de língua portuguesa da África. Atualmente, participam do programa 13 bolsistas de mestrado e de doutorado provenientes do Haiti, da Guatemala, de Moçambique, de Angola, do Equador e do Brasil. Vários alunos já concluíram a pós-graduação no âmbito do programa e retornaram aos seus países, nos quais estão envolvidos em pesquisa. Bahamondes também é o pesquisador principal de um projeto que inclui diversos países e que tem como objetivo avaliar a capacidade de resposta à pandemia de covid-19 e a preparação para uma eventual nova pandemia.
O Professor Emérito também tem colaborado com diferentes organismos internacionais, como o Banco Mundial, a universidade norte-americana John Hopkins University e a INTRAHealth — organização sem fins lucrativos que trabalha com países em desenvolvimento para a melhoria da capacidade de saúde pública. Bahamondes ainda atua em programas de anticoncepção em diversos países da América Latina — como Bolívia, Peru, Equador, Nicarágua e Guatemala — e da África de língua portuguesa, como Angola, Moçambique e Cabo Verde.