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Os principais aspectos da gestão da pesquisa são discutidos em ciclo de palestras

Iniciativa da Pró-Reitoria de Pesquisa reuniu especialistas de diversas universidades brasileiras e internacionais

Quais são os principais desafios enfrentados pela comunidade científica na atualidade? Com o objetivo de estimular discussões sobre esse tema na Universidade, aconteceu, no dia 10 de junho, o “Ciclo de Palestras da PRP”, organizado pela Pró-Reitoria de Pesquisa da Unicamp. O evento, realizado no Centro de Convenções da Universidade, teve como tema a “Gestão da Pesquisa: uma visão estratégica” e reuniu especialistas de diversas universidades brasileiras e internacionais para a realização de palestras e mesas redondas. 

De acordo com a pró-reitora de Pesquisa, Ana Frattini, a gestão da pesquisa é uma atividade que a maioria dos cientistas ainda não sabe fazer bem. Por esse motivo, há um ano, a Universidade criou seu Grant Office, o Escritório de Apoio ao Pesquisador, como uma forma de auxiliá-los na tarefa de administrar seus projetos. “A missão do escritório é oferecer o suporte necessário para reduzir o trabalho de gestão dos chefes de centros e núcleos, otimizando seu tempo para que possam se dedicar apropriadamente às pesquisas. Ele vem se consolidando na universidade e busca ações que contribuam para transbordar os resultados das pesquisas para a sociedade, gerando impactos econômicos e sociais”, comenta a docente.

Simon Kerridge, da Universidade de Kent, na Inglaterra: processo mais amigável
Simon Kerridge, da Universidade de Kent, na Inglaterra: processo mais amigável

O seminário foi inaugurado com uma palestra do especialista em gestão de pesquisa Simon Kerridge, da Universidade de Kent, na Inglaterra. Fundador da associação de gestores e administradores de pesquisa (ARMA, na sigla em inglês), Kerridge apresentou aos participantes o conceito de gestão da pesquisa e a importância dessa atividade para a academia. Ao longo de sua palestra, foi possível obter uma maior compreensão das principais atividades realizadas por esses profissionais e os benefícios da presença deles nas instituições científicas, bem como conhecer as habilidades necessárias para ser um bom gestor de projetos de pesquisa, como resiliência, motivação, capacidade de adaptação e diplomacia. 

“Nosso papel é proporcionar serviços de valor para a comunidade científica, solucionando problemas”, explica Kerridge. “Algumas vezes, as políticas estabelecidas pelas instituições acabam atrapalhando o processo de pesquisa, mas nosso trabalho é encontrar maneiras de conversar com os principais stakeholders para tornar esse processo mais amigável. Algo muito importante é conhecer o cenário do processo científico, e muitos gestores foram também pesquisadores. No entanto, o trabalho de gestão está bastante relacionado à construção de relacionamentos e de confiança entre o gestor e seus clientes, no caso, os pesquisadores e as instituições de pesquisa, além das financiadoras”, complementa.  

Seguindo essa linha de raciocínio, o professor emérito da Unicamp Carlos Henrique de Brito Cruz, que atua como Vice-Presidente Senior, Redes de Pesquisa, na editora Elsevier, discutiu a importância do apoio institucional para a competitividade da pesquisa brasileira. Tomando como referência os índices de produtividade na Unicamp, que cresceram nas últimas décadas, mas estagnaram nos últimos dois anos, o docente argumenta que esse tipo de apoio ainda é algo pouco explorado nas universidades brasileiras. Tal aspecto, aponta o docente, se reflete no fato de que, por aqui, os pesquisadores tendem a supor que trabalham e obtêm resultados apesar da universidade onde estão, e não por causa dela. 

Para Brito Cruz, as universidades brasileiras poderiam proporcionar um melhor ambiente de pesquisa se focassem na criação de estratégias para a geração de ambientes intelectualmente estimulantes e de uma infraestrutura de estabilidade financeira. O apoio institucional ao pesquisador seria um dos aspectos dessa infraestrutura. “Ele tem relação com o tema de proteger o tempo do pesquisador. Esse é um conceito muito relevante em todas as boas universidades do mundo, que é a dimensão de simplificar os processos, e que pode ser feita ao se esconder do pesquisador a dificuldade que é prestar contas à comunidade. Isso protegeria o tempo do pesquisador para que ele pudesse fazer aquilo que é mais importante para ele, o ensino e a pesquisa”, constata. 

O evento reuniu especialistas de diversas universidades brasileiras e internacionais para a realização de palestras e mesas redondas
O evento reuniu especialistas de diversas universidades brasileiras e internacionais para a realização de palestras e mesas redondas

Dentro desse contexto, uma das formas de facilitar o processo de gestão da pesquisa é a capacidade de entender como essa atividade é financiada, conduzida, disseminada, utilizada e avaliada. Tal compreensão pode ser obtida a partir do processo de reflexão sobre a própria ciência, campo de estudo conhecido como metaresearch ou metapesquisa. A pesquisa da pesquisa foi o foco da palestra da professora Adriana Bin, docente da Faculdade de Ciências Aplicadas (FCA) e coordenadora do Laboratório de Estudos sobre a Organização da Pesquisa e Inovação (Labgeop) da Unicamp. 

Segundo a especialista, este é um campo multidisciplinar que engloba áreas como filosofia, história, economia e estudos sociais da ciência e que ressurgiu nos últimos anos com a proposta de utilizar o próprio método científico para estudar a pesquisa de forma integrada com a ciência de dados. “No processo de fazer ciência, geramos muitos dados. Nossa proposta de pesquisa, os papers publicados, os preprints, as patentes e as equipes formam um conjunto riquíssimo de dados que está esperando para ser analisado. E os gestores têm um triplo papel nesse processo que decorre do esforço de pesquisar a pesquisa, que é a capacidade de apoiar na coleta, no planejamento e na organização de dados, além de, eventualmente, na sua análise”. 

A pró-reitora de Pesquisa, Ana Frattini: o estado da arte da gestão e pesquisa
A pró-reitora de Pesquisa, Ana Frattini: o estado da arte da gestão e pesquisa

Mesa redonda

Após o ciclo de palestras, foi realizada uma mesa-redonda para discutir o estado da arte da gestão e pesquisa nos demais locais do Brasil. Coordenada pela Pró-Reitora de Pesquisa da Unicamp Ana Frattini, a mesa contou com a participação do assessor da Pró-Reitoria de Pesquisa da Unesp Reginaldo Barbosa, representando o Pró-Reitor de Pesquisa Celso Botelho, e do professor Paulo Nussenzveig, Pró-Reitor de Pesquisa e Inovação da USP, que relataram as atividades de apoio à gestão de pesquisa realizadas em suas instituições. Além disso, também participou da conversa a gerente de projetos Juliana Juk, que preside a Associação Brasileira de Gestão e Administração de Pesquisas (BRAMA, na sigla em inglês). 

Em sua trajetória como presidente da BRAMA, Juk vem observando muitos exemplos de boas iniciativas voltadas à institucionalização da gestão de projetos de pesquisa, como a criação de escritórios de apoio, a realização de eventos como o ocorrido da Unicamp e cursos de formação. No entanto, alguns pontos ainda devem ser aprimorados. Entre eles, destaca a gestora, há a necessidade de se criar disciplinas voltadas à gestão de pesquisa dentro dos programas de pós-graduação, a valorização da carreira de gestor e a desvinculação da responsabilidade fiscal do projeto de pesquisa à pessoa física do cientista, algo exigido pelas agências de fomento brasileiras e que é inconcebível em outros países. 

“Também é preciso haver uma avaliação mais adequada em relação aos planos de gestão da pesquisa. Mesmo em projetos grandes, muitas vezes, vemos que não há uma avaliação nem do orçamento, nem do plano de gestão, nem da gestão da própria pesquisa”, afirma a profissional. “Mas, por último, gostaria de dizer que esta é uma área que realmente é apaixonante. Quando vamos para a gestão, percebemos que a área pode contribuir muito para um propósito que é primordial para o país, o desenvolvimento da pesquisa nacional”. 

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