Com debates sobre mulheres negras e indígenas no audiovisual, representatividade na televisão e arte periférica, os alunos do curso de Comunicação Social – Midialogia, da Unicamp, participaram de palestras, mesas e oficinas ao longo da semana, de 3 a 7 de junho, no Unimídia, evento anual que aborda diversos temas dos setores da tecnologia da informação para o mercado profissional da área. Sob o tema “Raízes”, a ideia foi explorar as origens do curso, que completa 20 anos em 2024.
A edição deste ano incentivou o debate sobre as possibilidades do futuro da profissão. Durante os cinco dias de evento, a programação aconteceu em diversos espaços do campus da Unicamp de Campinas, como o Centro de Convenções, o Museu Exploratório de Ciências e o estúdio da TV Unicamp. Houve ainda uma visita técnica ao Museu da Imagem e do Som de Campinas (MIS), com a proposta de discutir técnicas de conservação de mídias físicas, proporcionando um ambiente de troca de conhecimentos e experiências.
Um dos destaques do evento foi a presença do ator, comediante e roteirista Daniel Sarcinelli Furlani, conhecido como Daniel Furlan por seus trabalhos na TV Quase, produtora audiovisual brasileira, e na MTV, antiga rede de televisão brasileira. O artista guiou uma das mesas do primeiro dia do evento, no Centro de Convenções da Unicamp, na qual expôs os desafios da sua trajetória transmidiática, e respondeu a perguntas sobre seus principais trabalhos atuais e futuros.
“Acho muito triste quando vejo um conteúdo que parece uma tentativa de entregar o que as pessoas querem. É um serviço de garçom praticamente. Isso acaba com o frescor que essas criações deveriam ter”, afirmou Furlan, ao ser questionado sobre a influência do público-alvo em suas criações. “O que acho maneiro dos produtos que fazemos é que o público sente que é um negócio visceral, que vem de dentro, e é diferente de assistir um produto ‘pasteurizado’. Não estou dizendo que esse é o jeito certo de fazer as coisas, mas esse é o jeito que eu gosto de fazer e de assistir”, completou.
Além de Furlan, destacaram-se também Lilian Solá, doutora em meios e processos audiovisuais, e Bárbara Matias, artista indígena do povo Kariri, que comentaram os desafios contemporâneos para as mulheres no audiovisual. Já a artista visual Organzza, performere primeira vencedora do Drag Race Brasil, o ator e drag queen Gahbi e a atriz e produtora Pataxó Isabela Santana discutiram sobre os avanços da representatividade na televisão brasileira. Também participaram do evento Gustavo Arruda e Luiz Lucas, apresentadores do podcast Comunicação de Quebrada, iniciativa que busca empoderar jovens periféricos por meio da comunicação e do audiovisual. “A gente quer que quando as pessoas forem buscar uma referência, essa referência seja a periferia. A gente vai sempre buscar novas maneiras de impactar as pessoas”, ressaltou Luiz Lucas.
O evento também promoveu uma mostra fotográfica, exposta ao longo da semana na Casa do Lago, que contou com trabalhos enviados pelos alunos relacionados ao tema “Raízes”, e uma oficina de radioamadorismo oferecida no Museu Exploratório de Ciências da Unicamp, com radioamadores ativos na comunidade, que possibilitou um contato completo com o ofício e com uma rádio móvel totalmente equipada.
Desafios da organização
Thiago dos Anjos, aluno do terceiro ano do curso de Midialogia, foi um dos integrantes da organização do evento, que contou com 23 membros, e comenta os desafios da realização do Unimídia. “Começamos com o planejamento (do evento) em agosto do ano passado, dividindo as áreas e decidindo a função de cada um. Porém, em outubro, tivemos a greve na Unicamp, que paralisou a organização, complicando bastante no final do ano passado. Só conseguimos voltar e nos organizar a partir do final de dezembro.”, explica o discente.
Segundo Anjos, os desafios são vários. Desde questões de logística da produção para contato com os convidados até organização da comunicação para montar cronograma e calendário de postagens. “Alémde tudo, tivemos de realizar a divulgação externa e do financeiro, que buscou patrocinadores e outras formas de financiar o evento”, exemplifica. “Ao final, ficamos bem felizes com o resultado, que contou com convidados de diversas regiões do Brasil, como Rio de Janeiro, Espírito Santo e Brasília.”, comemora.
A Casa do Lago foi palco do encerramento do evento, com a realização da mostra de curtas. Entre diversos trabalhos, contou com a exibição do renomado curta “Utopia Muda”, de Julio Matos, que resgata a história da antiga Rádio Muda da Unicamp, fundada na década de 1990 no interior da torre da caixa d’água da praça do Ciclo Básico.