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Fórum discute combate a fake news em eleições

O evento reuniu especialistas da Unicamp e jornalistas para debater formas de combater as notícias falsas nos pleitos municipais deste ano

A palestra “Entre o fato e o fake: os desafios da informação nas eleições”, conduzida pelo juiz substituto do Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo (TRE-SP) Diogo Rais Rodrigues Moreira, abriu, nesta segunda-feira (24), o Fórum que reuniu especialistas da Unicamp e jornalistas para debater formas de combater as fakes news nas eleições municipais deste ano.

Participaram do encontro membros do Observatório da Desinformação da Unicamp, que foi criado no ano passado com o objetivo de estabelecer um diálogo entre a academia, a imprensa e o judiciário para reduzir os danos provocados pelas ondas de notícias falsas que ganham força especialmente no período eleitoral. Jornalistas do portal G1 e da EPTV também participaram do debate.

Moreira avalia que um controle absoluto da internet é algo tecnicamente impossível. Segundo o juiz, estudos confiáveis já demonstraram que, a cada minuto, chegam a subir 500 horas de novos vídeos nos canais do YouTube. “Isso quer dizer que, se uma pessoa parar tudo o que estiver fazendo na vida só para assistir aos novos vídeos do Youtube, essa pessoa precisaria de mais de 80 anos apenas para ver os que subiram ontem. Portanto, estamos falando de um universo humanamente impossível de fiscalizar e controlar”, justifica. 

Por conta disso, Moreira defende a tese de que o combate à desinformação deve se basear em três pilares: a prevenção, a educação midiática e a repressão. Segundo ele, a Justiça Eleitoral tem ampliado a repressão. “Não resolveremos esse problema apenas querendo limpar a internet, mas é claro que a remoção de conteúdos, a aplicação de penalidades – com multas pecuniárias, que podem chegar até R$ 30 mil – e até a cassação de mandatos acabaram endurecendo o sistema”, diz.

Moreira pondera que o uso da Inteligência Artificial (IA) pode ser um complicador do problema, mas também tem o potencial de auxiliar nas soluções.  “A IA generativa, aquela que cria conteúdo, traz uma possibilidade de sofisticar uma desinformação, e é claro que isso é um complicador, mas, talvez, a própria tecnologia deva ajudar, já que as empresas têm investido em sistemas computacionais que identificam a IA”, afirma.

“Não acho que [a IA] seja um fator que leva a discussão para um patamar muito pior. Acho que continuamos com o mesmo desafio. É uma briga de gato e rato. Vamos melhorando, eles também. Mas a ideia é que, um dia, consigamos encontrar um ambiente mais saudável para nossa democracia”, finaliza.

 Público lotou o auditório 2 do Centro de Convenções; fórum reuniu especialistas da Unicamp e jornalistas para debater formas de combater as fakes news nas eleições municipais deste ano
Público lotou o auditório 2 do Centro de Convenções; fórum reuniu especialistas da Unicamp e jornalistas para debater formas de combater as fakes news nas eleições municipais deste ano

Observatório da Desinformação

Pesquisadora do Observatório e professora do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Unicamp, a historiadora Josianne Cerasoli diz que a aproximação com os veículos de comunicação se deu, principalmente, devido ao aumento da gravidade das fake news.

“O Observatório da Desinformação não poderia ficar de fora desse assunto, especialmente num momento como este, em que estamos nos preparando para as eleições municipais”, explica. “E já sabemos – de outras eleições – sobre os efeitos que as fake news tiveram”, acrescenta.

Para Cerasoli, o processo de redução de danos passa por três fatores. O primeiro é contar com os grupos de profissionais ligados ao jornalismo, que trabalham no filtro da informação. “O jornalismo faz isso o tempo todo, mas dada a escala [das fake news] é necessário que haja um instrumento criado para isso”, avalia.

“O segundo modo de enfrentamento é entender os mecanismos da produção e disseminação das notícias falsas, e é nisto, eu acho, que o Observatório pode contribuir mais. Entender como funciona a rede, como ela manipula e difunde. É preciso trabalhar isso em todas as instâncias de educação formal e não formal. A educação midiática é uma necessidade fundamental”, adverte.

Por fim, numa terceira frente, é preciso entender como esses mecanismos de desinformação afetam as emoções das pessoas. “Eles nos afetam e, por isso, reagimos. E reagimos imediatamente, sem mediação. Precisamos entender melhor esse processo, para que tenhamos mecanismos de defesa – para que possamos pensar antes de reagir”, ensina.

A gerente de jornalismo da EPTV, Gabriela Delman
A gerente de jornalismo da EPTV, Gabriela Delman

Informações regionalizadas

A gerente de jornalismo da EPTV, Gabriela Delman, diz que o grupo prepara uma novidade este ano, nos projetos de cobertura das eleições. Pela primeira vez, diz ela, o grupo terá o programa “Fato ou Fake”, com informações regionalizadas.

“O programa segue os parâmetros do projeto nacional, que faz a checagem de informações em texto ou vídeo desde 2018. A diferença é que vamos tratar de assuntos que afetam nossa região”, explica.

Segundo Delman, o grupo pretende treinar uma equipe para fazer essa checagem e criar uma página específica para colocar vídeos e checagem das informações. “Quando estávamos discutindo esses projetos para a eleição, pensamos o quanto seria importante levar essa discussão para a população. Foi aí que decidimos procurar o Observatório da Desinformação da Unicamp”, revelou.

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