A Unicamp acaba de renovar o convênio com a Academia Chinesa de Ciências Sociais (Cass, na sigla em inglês), a mais importante instituição dessa área do conhecimento em atividade no país asiático. Com 47 anos de existência, a Cass conta com uma ampla estrutura.
Segundo o professor Tom Dwyer, diretor do Centro Cass-Unicamp de Estudos sobre a China, a entidade chinesa reúne a produção de 35 institutos e conta com o trabalho de aproximadamente 5 mil pesquisadores – número quase duas vezes e meia maior que o total de docentes da Unicamp. “Só o Instituto de Sociologia tem praticamente o mesmo número de professores do nosso IFCH [Instituto de Filosofia e Ciências Humanas]”, compara Dwyer.
A Unicamp é a única universidade da América do Sul a ter um convênio desse tipo com a Cass, que já implantou unidades em países como os Estados Unidos, Canadá, França e Finlândia. “É uma incrível dose de sorte e, ao mesmo tempo, um grande reconhecimento ao trabalho feito o fato de a Unicamp ter sido escolhida por uma instituição dessa dimensão”, avalia o diretor do centro. Firmado inicialmente em 2019, o convênio entre a Unicamp e a Cass vai se estender agora até 2029.
O Centro Cass-Unicamp de Estudos sobre a China reúne pesquisadores dos dois lados com o objetivo de aprofundar o conhecimento a respeito da sociedade chinesa e refletir sobre as oportunidades e os desafios que a ascensão chinesa no mundo apresenta para o Brasil.
Para Dwyer, a aproximação das universidades brasileiras com os chineses nesse campo caminha a passos lentos demais. “Na França, há mais de 200 anos, existe uma cátedra sobre a China e sua civilização”, argumenta.
A renovação do acordo representa um alento, diz o professor, ressaltando que, apesar disso, é preciso institucionalizar os estudos sobre a China na Unicamp.
“Nem vaga existe para quem quer se dedicar aos estudos e ensino sobre a China. Nós temos apenas um sinólogo [estudioso da civilização chinesa], formado na Alemanha, que coopera com a gente. E pergunte se tem vaga para ele nas universidades públicas brasileiras?”, questiona Dwyer. “Não tem. Essa é uma tragédia. Enquanto isso, nos EUA, há vários departamentos especializados nos estudos sobre a China, assim como no Reino Unido, na França”, afirma. “Nós [no Brasil] somos muito dependentes de nosso comércio com a China e não sabemos quase nada sobre ela. Para mim isso é muito perigoso.”
Divulgação da cultura e história
O professor lembra que, muito antes do estabelecimento do acordo com a Cass, a Unicamp já mantinha nos seus quadros professores que se debruçaram sobre o estudo a respeito das múltiplas ramificações da civilização chinesa.
Para ele, os chineses têm visto a Universidade como um potencial centro regional para a divulgação de sua cultura e de sua história. “Acho que a Unicamp tem bagagem para isso. Porque, bem ou mal, em parte pela força dos economistas, dos estudos sobre o meio ambiente, dos demógrafos e outros, que são muito curiosos a respeito da China, estamos conseguindo criar uma pequena massa crítica, mas que tem rumo e que está estruturando uma perspectiva brasileira.”
Dwyer diz que a interação entre o centro da Unicamp e a Cass tem sido intensa nos últimos anos. As duas instituições realizam desde 2021, por exemplo, aulas online. Mais recentemente, essas aulas passaram a ocorrer toda segunda-feira do segundo semestre, abordando temas como o consumo, o combate à pobreza e as mudanças climáticas. Além disso, as instituições realizam frequentemente ações colaborativas regulares em fóruns brasileiros e internacionais.
O professor cita, também, outros projetos, entre os quais o lançamento de dois manuais (handbooks) sobre os jovens e sobre a estratificação social nos países dos Brics (organização intergovernamental formada por vários países, entre os quais Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), trabalhos esses que, segundo ele, tiveram um importante impacto na sociologia mundial.
O professor conta que a parceria enfrentará alguns desafios em seu próximo período de vigência, de 2025 em diante.
Um deles, a publicação de livros baseados nas atividades, realizadas tanto em sala de aula quanto em congressos brasileiros, associadas com o centro Cass-Unicamp. Dwyer prevê a transcrição, tradução e organização de pelo menos três livros, um a cada ano de 2025, 2026 e 2027.
Novas oportunidades
Doutora em ciências sociais e atualmente pró-reitora de Pós-Graduação, Rachel Meneguello avalia que a renovação do convênio significa uma das mais importantes ações de internacionalização da Unicamp na área das ciências sociais.
“Esse convênio abriu oportunidades muito importantes e inovadoras nos campos do ensino e pesquisa comparada entre o Brasil e a China”, disse Meneguello. “A Academia Chinesa de Ciências Sociais é a mais importante instituição daquele país nesse campo do conhecimento e, desde o início dessa parceria, iniciativas de ensino de graduação e pós-graduação e projetos de pesquisa têm sido desenvolvidos.”
Segundo Meneguello, com essa renovação, novas oportunidades serão adicionadas às atividades já existentes para as áreas da sociologia, ciência política, demografia, economia e antropologia, como o intercâmbio de estudantes e professores, projetos coletivos de pesquisa e a elaboração de um curso internacional interinstitucional de pós-graduação nessa área.
“Adicione-se ao estabelecimento desse convênio a possibilidade de a Unicamp estabelecer um Centro de Estudos Brasil-China, congregando as iniciativas acadêmicas e científicas já existentes e as potencialmente existentes nas diversas outras áreas do conhecimento. Isso deve colocar a Universidade na vanguarda do movimento de internacionalização das universidades brasileiras”, finaliza a pró-reitora.
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