Criado em 2018, com a finalidade de desenvolver tecnologias de geração e armazenamento de energia para acelerar a transição energética e estabelecer uma economia de baixo carbono, o Centro de Inovação em Nova Energias (Cine) instalado na Unicamp anunciou, nesta quarta-feira (13), a renovação por mais cinco anos do convênio firmado com a Shell Brasil. O convênio também conta com a participação da Universidade de São Paulo (USP), da Universidade Federal de São Carlos (Ufscar) e recursos da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
Os investimentos nesta nova etapa do projeto são da ordem de R$ 82,4 milhões, dos quais R$ 62,4 milhões são financiados pela Shell, por meio da cláusula em PD&I (Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação) da Agência Nacional de Petróleo (ANP). A Fapesp investirá R$ 20 milhões.
“Para nós, a renovação é um reconhecimento do trabalho executado até aqui”, disse a diretora do Cine, Ana Flávia Nogueira. Segundo ela, embora o Centro seja considerado uma referência na área, no Brasil e no exterior, a meta é evoluir.
“Sabemos que, sem uma base sólida, de pesquisa fundamental e aplicada, não é possível avançar em inovação tecnológica. É como construir uma casa sem um alicerce forte e confiável. E, nestes últimos seis anos, construímos esse alicerce. Agora estamos prontos para avançar em projetos de maior maturidade tecnológica, para criar mais startups, triplicar nosso número de patentes e continuar formando profissionais de excelência”, garantiu a diretora.
“Para o Brasil ser líder na transição energética, não basta apenas ter abundância de sol, vento e água. Precisamos desenvolver uma indústria brasileira que produza tecnologias essenciais para essa transição”, alertou.
O reitor da Unicamp, Antonio José de Almeida Meirelles, disse que o Brasil não pode perder mais uma oportunidade de desenvolvimento e avisa que as universidades estão prontas para oferecer sua contribuição.
“O Brasil é, hoje, o sexto país do mundo na produção de energia eólica. É o sexto em produção de energia fotovoltaica e o segundo em bioenergia. Mas então qual é nosso problema? Há 30 anos, a indústria representava 30% do PIB [Produto Interno Bruto] do país. Hoje é 11%. Como se pode inovar com uma indústria, assim, tão reduzida?”, questiona. “Nosso grande desafio é transformar o conhecimento que temos na universidade em inovação e que isso tenha impacto industrial”, ensina.
O gerente de tecnologia de baixo carbono da Shell, Alexandre Breda, disse que o Cine está “totalmente alinhado” com a meta da Shell de ser carbono zero até 2050 e com a estratégia de descarbonização do Brasil. “O Cine está nos ajudando a construir o combustível do futuro”, disse.
Projetos multidisciplinares
Nesta nova fase do convênio, a parceria prevê a realização de 15 novos projetos de pesquisa distribuídos em quatro programas – Geração de Energia, Armazenamento Avançado de Energia, Geração de Hidrogênio Verde e Design de Materiais e Computação.
Dois dos programas – Geração de Energia e Armazenamento Avançado – serão coordenados por pesquisadores da Unicamp. O primeiro engloba diversos projetos multidisciplinares de desenvolvimento e inovação nas áreas de energia solar e eólica.
No caso da solar, o programa prioriza as células solares de perovskita (um mineral que apresenta várias propriedades e aplicações) no processo de produção de energia elétrica a partir da energia solar. No que diz respeito à energia eólica, o foco está na geração de energia a partir do vento no mar.
O programa de armazenamento avançado de energia, por sua vez, terá como uma das principais tarefas o desenvolvimento de baterias. Já o programa que trata de Geração de Hidrogênio Verde será liderado por pesquisadores da Ufscar, enquanto o de Design de Materiais e Computação será coordenado por pesquisadores da USP, campus São Carlos.
Papel protagonista
A coordenadora-geral da Unicamp, Maria Luiza Moretti, disse que o Cine “olha para o futuro”. Segundo ela, parcerias entre a Academia e a indústria podem ser grande parte das soluções dos problemas. “A pesquisa e a inovação são os fatores essenciais para a transformação”, afirmou.
A vice-reitora da Ufscar, Maria de Jesus Dutra dos Reis, diz que os efeitos das mudanças climáticas são cada vez mais claros e exigem ações imediatas. Segundo ela, as universidades devem desempenhar um papel protagonista nesse processo.
“Estamos diante de um problema que, hipoteticamente – mas com grande margem de probabilidade de ocorrer se a ciência estiver fazendo a leitura correta –, estamos numa grande corrida global contra a extinção da vida humana e de todas as vidas neste planeta”, alerta ela. “Não adianta termos naves para Marte se o planeta onde estamos não existir mais”, conclui.
Na cerimônia de renovação do convênio, o diretor do Instituto de Física da USP em São Carlos, Osvaldo Novais de Oliveira Jr, representou o reitor da USP, Carlos Carlotti Jr.