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Unicamp inaugura Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros

Evento também marcou o lançamento da exposição de fotos itinerante “Bailes Negros – Sociabilidade e Resistência em Campinas”

O Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros (Neab) da Unicamp foi inaugurado nesta quinta-feira (21), em cerimônia prestigiada por representantes do poder público, personalidades de movimentos negros, docentes e estudantes. O evento, realizado no Centro de Convenções da Universidade, também marcou o lançamento da exposição de fotos itinerante “Bailes Negros – Sociabilidade e Resistência em Campinas”, uma produção do Centro de Memória Unicamp (CMU) inserida no projeto “Histórias Negras: Registros Orais para a Desinvisibilização da Presença Negra em Campinas (1930-1970)”.

O novo núcleo tem como objetivo principal o desenvolvimento de pesquisas multidisciplinares e interdisciplinares que contemplem os mais diversos aspectos da vida da população afro-brasileira, assim como a realização de atividades de extensão universitária e o investimento na formação de profissionais e pesquisadores, seguindo o mesmo foco. Subordinado à Coordenadoria de Centros e Núcleos Interdisciplinares de Pesquisa (Cocen) da Unicamp, deve atuar como ponte entre a instituição e a sociedade externa.

Da esquerda para a direita, o reitor Antonio Meirelles, a coordenadora do Neab Carmen Halder, a coordenadora da Cocen Raluca Savu e o pró-reitor de Extensão, Esporte e Cultura Fernando Coelho
Da esquerda para a direita, o reitor Antonio Meirelles, a coordenadora do Neab Carmen Halder, a coordenadora da Cocen Raluca Savu e o pró-reitor de Extensão, Esporte e Cultura Fernando Coelho

Na abertura do evento, o reitor da Universidade, Antonio José de Almeida Meirelles, lembrou que a criação do núcleo resulta de uma reivindicação histórica não apenas de funcionários e estudantes, mas também de membros de associações e movimentos negros de dentro e de fora da Unicamp. “Acredito que a grande vitória é, na verdade, dos coletivos, que conseguiram transformar sua demanda em pauta universitária. [A criação do núcleo] mostra uma trajetória bastante positiva, pois, de certa forma, recuperamos o tempo perdido e promovemos mudanças significativas. O caminho ainda é longo, mas irreversível”, avalia.

Segundo o reitor, o Neab é um passo significativo para que a Universidade assimile temas sensíveis para a população negra brasileira – seja no que diz respeito à formação de pessoas, seja em relação a pesquisas e ações de extensão universitária. “Seu lançamento conclui uma trajetória cujo foco tem sido transformar realmente essa temática em algo que seja prioritário para a Unicamp, a partir, obviamente, da chegada de pessoas que representam e que têm uma conexão direta com a questão negra, mas também com a difusão das suas questões para o conjunto da comunidade acadêmica.” Meirelles aproveitou a ocasião para anunciar o lançamento de uma nova proposta de programa piloto de reserva de cargos públicos, a ser deliberada no próximo Conselho Universitário, para professor doutor da carreira do magistério superior, voltada especificamente para candidatos negros (pretos e pardos). “A ideia é garantir a existência de pelo menos uma vaga por unidade, totalizando em 24 vagas.”

O processo que culminou na criação do Neab foi iniciado há muitos anos e envolveu a criação de um grupo de trabalho, encabeçado pelo professor Fernando Coelho, pró-reitor de Extensão, Esporte e Cultura da Universidade. Na visão do docente, devido ao longo período de gestação, o novo órgão já nasceu conectado com a comunidade, dialogando com órgãos de fomento. “É um núcleo que surge inserido na realidade e na cultura afro-brasileiras, em todas as áreas onde as pesquisas podem acontecer, interagindo com várias áreas da Unicamp.”

Fim de um hiato

Coordenado pela professora Carmem Veríssima Halder, do Instituto de Biologia (IB) da Universidade, o Neab tem objetivos amplos justamente para receber pesquisadores das mais diferentes áreas do saber. Embora o lançamento tenha ocorrido somente agora, o núcleo começou sua operação em março e, desde então, já alcançou duas conquistas significativas, ressalta a docente. O primeiro é a parceria com o CMU, que resultou na exposição “Bailes Negros – Sociabilidade e Resistência em Campinas”. A exposição pode ser vista até 31 de janeiro de 2025, no saguão da Biblioteca Central Cesar Lattes.

Já o financiamento do Ministério da Igualdade Racial viabilizou a criação do projeto Rede Afropop Sem Melanoma, cujo foco é promover a conscientização sobre a prevenção do câncer de pele na população negra. “O sucesso do tratamento e a cura desse tipo de câncer, em pacientes negros, é menor no mundo todo, quando comparado com pacientes brancos. O Neab pretende contribuir para mudar esse cenário. A iniciativa é exemplo da vocação do núcleo de promover ações voltadas para a população externa. Nosso objetivo é transformar vidas, saberes e comunidades”, declara Halder.

Primeiro núcleo da Cocen a ser criado após um hiato de três décadas e 22º órgão vinculado à entidade, o Neab representa, também, a revalorização do sistema de núcleos de pesquisas interdisciplinares, destaca Meirelles. Segundo o reitor, é um sinal do amadurecimento da instituição sobre a necessidade de fomentar a formação em torno de temáticas que envolvam múltiplos olhares. “A questão sobre como resolver pesquisas multidisciplinares e interdisciplinares sempre foi um debate muito aceso, dentro da comunidade universitária, e, agora, voltamos a ela, mas em uma situação em que a importância da pesquisa interdisciplinar é muito maior, e os locais de convivência das várias formações voltam a se tornar importantes, o que é bastante positivo também.”

Da esquerda para a direita: Carmen Hadler, Ravluca Savu e Débra Jeffrey: estudos na temática racial correspondem a apenas 0,52% da produção científica da Universidade
Da esquerda para a direita: Carmen Hadler, Ravluca Savu e Débra Jeffrey: estudos na temática racial correspondem a apenas 0,52% da produção científica da Universidade

À frente do Cocen, Raluca Savu lembra que, embora ainda não tivesse um núcleo estabelecido sobre estudos afro-brasileiros, historicamente, a Unicamp já possuía uma produção acadêmica dedicada à temática. No entanto, o relatório final do grupo de trabalho que originou o Neab apontou que, apesar de um aumento significativo nas pesquisas realizadas desde os anos 2000, os estudos na temática racial correspondem a apenas 0,52% da produção científica da Universidade. A baixa porcentagem evidencia a relevância do núcleo como espaço estratégico para fomentar e articular diversas iniciativas e promover maior impacto acadêmico e social.

Savu ressalta que, atualmente, 26,5% do corpo discente da Unicamp é formado por estudantes pretos e pardos, resultado da adoção de cotas étnico-raciais pela Universidade, em 2017. No entanto, lembra a coordenadora do Cocen, o ingresso ao ensino superior não finda o trabalho de inclusão, já que é preciso criar condições para garantir a permanência, o apoio e a valorização dos alunos, além de ampliar o diálogo com a sociedade civil. “Nesse sentido, a missão do Neab inclui não apenas sua atuação acadêmica, abrangendo também a formação de educadores para disseminar a cultura afro-brasileira na educação básica”, diz a doutora.

Seu trabalho, desta forma, inclui a articulação entre a academia, os movimentos sociais e os órgãos públicos. “O novo núcleo enriquece ainda mais a diversidade epistemológica do sistema Cocen e reforça nossa tradição de promover pesquisas que balizam a formulação de políticas públicas e contribuem para o progresso social. Estamos comprometidos em fazer do Neab um exemplo de como a universidade pública pode e deve ser protagonista das causas de tamanha relevância. Temos grandes expectativas em relação aos próximos passos do núcleo e à integração dos seus futuros pesquisadores ao nosso sistema. As potencialidades das convergências com nossos outros 21 centros e núcleos são animadoras, certamente veremos projetos de excelência nascerem dessa integração.”

A exposição de fotos “Bailes Negros – Sociabilidade e Resistência em Campinas” pode ser vista até o dia 31 de janeiro, no saguão da Biblioteca Central César Lattes
A exposição de fotos “Bailes Negros – Sociabilidade e Resistência em Campinas” pode ser vista até o dia 31 de janeiro de 2025, no saguão da Biblioteca Central Cesar Lattes

História

Após a mesa de abertura, o evento teve continuidade com a aula magna “Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros da Unicamp – Trajetórias e Desafios”, ministrada pela diretora da Faculdade de Educação (FE) Débora Jeffrey, e foi encerrado com uma apresentação musical do Instituto Anelo. Em sua fala, a docente recontou a história que levou à formação do espaço, reverenciando pessoas que tiveram papel fundamental para a sua criação, com um mesmo propósito: garantir a representatividade da população negra e da comunidade negra na instituição. “É importante contar sempre essa história, para que ela tenha continuidade, porque a nossa história é a da oralidade. Ela passa a ser institucionalizada com o Neab”, justificou.

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