A segunda fase do Vestibular Unicamp 2025 terminou com a menor abstenção dos últimos 15 anos. O índice final geral foi calculado em 8,2%. Dos 13.011 candidatos aprovados para a segunda fase, 11.950 estudantes compareceram ao exame. A decisão de aplicar as provas no período da manhã também se revelou um sucesso. Segundo a Comissão Permanente para os Vestibulares (Comvest) da Universidade, não houve intercorrências com candidatos por conta do calor intenso ou da alimentação. Na região de Campinas, o índice de abstenção geral ficou em 6,6%. Na grande São Paulo, 6,9% dos candidatos faltaram à segunda prova e, no interior, o valor somou 8,6%. Nas demais capitais onde a prova foi aplicada, houve um índice de 15% de abstenção.
“Fazemos o Vestibular há 39 anos e esta foi a primeira vez que ele foi aplicado de manhã. É uma mudança que deve permanecer para os próximos anos”, avaliou José Alves de Freitas Neto, diretor da Comvest. De acordo com Freitas Neto, a mudança também se mostrou positiva para as equipes de logística que atuam na aplicação das provas. “Uma chuva forte logo ao meio-dia, o momento que seria o de entrada nos locais de prova, como ocorreu hoje em algumas regiões de Campinas, deixa os candidatos ansiosos. E as equipes também ficam ansiosas. A mudança de horário fez bem a todos.”
Nesta segunda-feira (2), foram aplicadas provas de matemática e questões interdisciplinares de ciências humanas, comuns a todos, e provas específicas de acordo com a área dos cursos escolhidos. Na próxima segunda-feira (9), a Comvest deve divulgar as respostas das perguntas. Entre os temas abordados nas provas, estão as questões ambientais, presentes nos tópicos de biologia e química, o papel desempenhado por Chico Mendes na preservação da Amazônia e a discussão sobre o marco temporal para as terras indígenas. Outra temática cobrada foram os Jogos Olímpicos: os candidatos deveriam analisar as modalidades a partir de conhecimentos de física e matemática.
Houve ainda referências a textos da economista Maria da Conceição Tavares, professora da Unicamp falecida em junho deste ano, a respeito do desenvolvimentismo do governo Juscelino Kubitschek e as economias latino-americanas atualmente; e sobre a distribuição da população quilombola pelo território brasileiro. “Essas são questões que exigem conhecimento e habilidade de leitura crítica da realidade, algo que os estudantes precisam quando estão na Universidade”, comentou Freitas Neto.
A repercussão sobre as propostas de redação, aplicadas no primeiro dia de provas da segunda fase, surpreendeu a organização do Vestibular. De acordo com os números da Comvest, 86% dos candidatos optaram pela proposta em que deveriam se colocar na posição de um(a) diretor(a) de escola e escrever um comunicado aos pais e responsáveis sobre os riscos dos jogos de azar entre as crianças e os adolescentes e sobre a preocupação da equipe escolar ao perceber que alguns alunos faziam uso de plataformas de jogos. “Nossa interpretação é que os alunos se sentiram reconhecidos. Esse é um tema no qual eles são protagonistas, que vivenciam em seu cotidiano. É algo muito concreto na vida deles”, analisou o diretor da comissão. Entre os candidatos, o tema também fez sucesso. Todos os estudantes ouvidos pelo Jornal da Unicamp disseram ter optado por essa proposta (leia mais a seguir).
Entre os dias 11 e 13 de dezembro, em Campinas, serão realizadas as provas de habilidades específicas para os cursos de arquitetura e urbanismo, artes cênicas, artes visuais e dança. A primeira chamada deve ser divulgada em 24 de janeiro e os convocados deverão efetivar a matrícula nos dias 27 e 28 de janeiro, online, pelo site da Comvest. Outras datas e informações constam do calendário do Vestibular Unicamp 2025, disponível também no site da comissão.
‘Um vestibular cativante’
O perfil das provas da segunda fase do Vestibular Unicamp já é conhecido dos estudantes e muitos vêm para o exame ansiosos com os temas que vão encontrar. Entre os candidatos ouvidos pelo Jornal da Unicamp, duas questões foram aprovadas: os temas escolhidos como propostas de redação, sobretudo o tema das apostas virtuais em jogos de azar, e a troca do período de aplicação da prova, saindo da tarde e indo para a manhã. Veja, a seguir, o que eles disseram sobre o Vestibular 2025.
Gabriel Basso – 17 anos
Basso prestou o Vestibular 2025 como treineiro da área de exatas. Ainda estudante do ensino médio, ele já sabe que, no próximo ano, pretende concorrer a uma vaga no curso de engenharia da computação. Para o jovem, os temas abordados na prova foram instigantes. “A Unicamp avalia a capacidade crítica dos alunos. Acho bem interessante esse sistema de avaliação.” Ele também aprovou o novo período de aplicação do exame. “À tarde ficamos muito tempo em torno da prova, às vezes sem comer direito. É bem melhor fazer a prova no período da manhã.”
Vinicius Nogueira – 17 anos
Nogueira também prestou o vestibular como treineiro, com foco no curso de engenharia de transportes. Mas essa não foi a primeira vez dele no exame, já que prestou o Vestibular no ano passado também. “Foi tudo cansativo, mas acho que me saí bem”, comentou. O estudante gostou muito da proposta de redação e conseguiu relacioná-la com seu cotidiano. “Vemos muitos artistas, cantores, influenciadores incentivando as apostas online. Mas eles mostram apenas uma parte boa, dizendo que as pessoas vão ganhar dinheiro de forma simples. Muita gente desinformada acaba perdendo dinheiro. É importante discutir isso no Vestibular.”
Gabrielle Ribeiro – 25 anos
Professora de caratê e candidata pela terceira vez para o curso de educação física, Ribeiro acredita que a prova do Vestibular Unicamp tem conceitos que fazem os estudantes pensarem, sem focar tanto em teorias. “A Unicamp consegue tornar o Vestibular cativante para quem está prestando a prova”, avaliou. Para a estudante, as propostas de redação foram muito bem articuladas com a realidade dos candidatos. “Trabalho com crianças e é a realidade que vejo. Muitas crianças estão tomadas pelo mundo das bets. Quando li a proposta, lembrei de um aluno que já sugeriu que eu apostasse no Jogo do Tigrinho, e ele tem apenas 7 anos!”
Vitória Baldassa – 17 anos
Candidata ao curso de ciências sociais, Baldassa se surpreendeu com seu desempenho nas provas. “Acho até que fui melhor na prova de matemática do que nas questões de ciências humanas. Não foi algo simples, mas também não foi desesperador.” Ela também comentou que o tema dos jogos de azar havia sido abordado em sua escola ao longo do ano, o que fez sentir-se mais preparada para escrever a redação. “Não imaginei que um tema tão atual assim cairia na prova.”
Thiago Luis – 18 anos
Luis concorre a uma vaga no curso de ciências do esporte e acredita que teve um bom desempenho nas provas, apesar de haver achado algumas questões mais difíceis. Ele conta que se sentiu preparado para os dois temas de redação propostos, mas preferiu o formato do comunicado aos pais por se tratar de um texto mais simples. “Achei que a questão das bets seria cobrada no Enem [Exame Nacional do Ensino Médio] , por isso estudei a respeito dela.”
Sthefany Vicente – 20 anos
Natural de Araxá (MG), Sthefany Vicente se encantou com a Unicamp graças aos irmãos, que cursam engenharia da computação e economia na Universidade. “Acho o campus tão lindo que resolvi tentar”, comentou. A estudante pleiteia uma vaga no curso de dança e, apesar de satisfeita com seu desempenho na segunda fase, diz estar ansiosa quanto às provas de habilidades específicas, que serão aplicadas entre os dias 11 e 13 de dezembro. “Mas vai dar certo”, afirmou a jovem com confiança.
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