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Atualidades

Discriminação no esporte é abordada em Congresso de Ciências do Desporto

Debate traz temas como racismo estrutural, etarismo, intolerância religiosa e outros tipos de preconceito

Congresso envolvendo países de Língua Portuguesa abordou perspectivas de diferentes olhares no esporte
Congresso envolvendo países de Língua Portuguesa abordou perspectivas de diferentes olhares no esporte

A Unicamp abriu nesta quarta-feira (19) o XX Congresso de Ciências do Desporto e Educação Física dos Países de Língua Portuguesa – em que especialistas brasileiros, portugueses e africanos discutirão as diversas formas de discriminação e exclusão no esporte e na educação física.

Com o tema “Discriminação na Educação Física e no Esporte: perspectivas de diferentes olhares”, o congresso pretende debater sobre o racismo estrutural reproduzido no esporte, o tratamento discriminatório dispensado a pessoas com deficiência, o preconceito com a população LGBTQIAPN+, o etarismo, a intolerância religiosa e as diversas formas de preconceito contra os povos indígenas.

A presidente do congresso, professora Silvia Franco do Amaral, disse que a Faculdade de Educação Fisica (FEF) tem trabalhado em várias frentes para combater a discriminação. Amaral cita como exemplos a pesquisa realizada pela professora Helena Altmann sobre gênero, a disciplina sobre questões étnico-raciais ministrada no Departamento de Educação Física e Humanidades e a pesquisa da professora Júlia Barreira sobre as mulheres no futebol.

Amaral lembra ainda a pesquisa que seu próprio grupo desenvolve e que trata da questão da discriminação nos espaços de lazer. “Nós temos muita gente trabalhando nisso, seja na perspectiva do alto rendimento, seja no aspecto do lazer”, lembra.

“Trata-se de um tema que surge com força. Estamos vivendo um momento que instiga toda a comunidade da educação física e do esporte a repensar esse cenário. Por isso, o congresso quis reunir especialistas brasileiros e de fora, além de representantes de comunidades indígenas, do governo e de organizações sociais”, explica a professora.

Ofensas racistas

A abertura do Congresso ocorre um dia depois de o presidente da Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol), Alejandro Domínguez, ter sido acusado de proferir ofensas racistas contra brasileiros e de fazer vista grossa para casos de racismo praticados por torcedores nos torneios organizados pelo órgão, um sinal de que o problema encontra-se disseminado pelo mundo e de que atinge todas as esferas.

“Nas Olimpíadas do Japão [2021], três atletas trans – entre 10 mil que iriam competir – provocaram pânico na comunidade esportiva internacional”, relata a professora da Universidade de Aveiro (Portugal) Maria Manuel Rocha Teixeira Baptista. “Nós estudamos as razões pelas quais uma situação como essa provoca tanto pânico na sociedade em geral, já que, afinal, são apenas três pessoas.”

A professora disse que especialistas europeus, norte-americanos e mesmo brasileiros concordam que existe hoje no mundo – ao menos no mundo ocidental – uma grande crise de ansiedade. E que muitas pessoas depositam essa ansiedade nas questões de gênero.

Para Baptista, isso tem relação com os movimentos da extrema direita, fortalecidos nos últimos anos pela ascensão de Donald Trump nos Estados Unidos, de Jair Bolsonaro no Brasil e de Giorgia Meloni na Itália, além do crescimento de partidos como o Chega, em Portugal, e o Vox, na Espanha. “Há, de fato, uma espécie de frente para estimular o medo das pessoas, de forma a desviar a atenção das pessoas para longe daquilo que precisa ser dito, como as mudanças climáticas”, avaliou a professora.

“O objetivo desse grupo é aumentar o grau de ansiedade e de pânico e, com isso, controlar o máximo possível os corpos diferentes, as pessoas diferentes, as opções de vida diferentes,  em uma espécie daquilo que Judith Butler [filósofa estadunidense] chamou de sadismo moral”, afirmou Baptista. “Ou seja, há uma parte da sociedade que se compraz em dizer à outra parte como ela deve viver.”

O professor Bento Rupia Júnior, da Universidade Pedagógica de Maputo, em Moçambique: discriminação entre países
O professor Bento Rupia Júnior, da Universidade Pedagógica de Maputo, em Moçambique: discriminação entre países

Países periféricos

O professor Bento Rupia Júnior, da Universidade Pedagógica de Maputo (Moçambique), disse ver uma clara discriminação entre os países, com uma hierarquização separando as nações mais desenvolvidas das menos desenvolvidas.

“Percebemos isso de maneira muito precisa. Veja como exemplo a chamada comunidade da língua portuguesa, que tem a pretensão de ser um espaço comunitário. Mas os grandes centros de alto rendimento ou estão no Brasil ou estão em Portugal. Só que essa comunidade existe há mais de duas, três, quatro, cinco décadas”, argumentou Rupia Júnior.

“E você não assiste a nenhum movimento no sentido de ofertar a essas sociedades periféricas a mesma oportunidade de construir os mesmos tipos de centro. O que que acontece?”

Karkaju Pataxó, da Secretaria de Articulação e Promoção de Direitos Indígenas: discriminação existe desde sempre
Karkaju Pataxó, da Secretaria de Articulação e Promoção de Direitos Indígenas: discriminação existe desde sempre

Povos indígenas

O coordenador-geral de promoção de políticas culturais da Secretaria de Articulação e Promoção de Direitos Indígenas do Ministério dos Povos Indígenas (MPI), Karkaju Pataxó, afirmou que a discriminação contra os povos indígenas “existe desde sempre”, mas lembrou que o esporte tem sido uma importante porta para a interação.

Segundo o coordenador-geral, ainda que haja um número crescente de atletas indígenas aproximando-se dos esportes convencionais, um dos grande desafios dos povos originários consiste em tornar mais conhecidas, no Brasil, as modalidades esportivas indígenas.

No período de um ano, afirmou, registraram-se 186 eventos esportivos envolvendo grupos indígenas no território nacional – alguns de caráter local, outros regionais. “Neste ano, há uma discussão sobre a possibilidade de trazer para o Brasil os Jogos Indígenas Mundiais”, revelou.

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