O Sistema de Bibliotecas da Unicamp (SBU) inaugurou, nesta terça-feira (25), um espaço, a Biblioteca Acessível, e apresentou novos equipamentos de acessibilidade a serem disponibilizados. O novo local, instalado no prédio da Biblioteca Central Cesar Lattes, resultou de um acordo entre o SBU e o Fundo Estadual de Defesa dos Interesses Difusos da Secretaria Estadual de Justiça. O espaço passa a oferecer equipamentos que permitirão um maior acesso por parte de estudantes com deficiência visual aos livros ofertados na biblioteca.
Ainda no contexto da acessibilidade, o Centro de Saúde da Comunidade (Cecom) recebeu, também nesta terça-feira, pela primeira vez na Unicamp, o Selo de Acessibilidade, um reconhecimento de que o local está apto a recepcionar e atender pessoas com deficiência. Trata-se do nível um de uma metodologia instituída na Universidade para ampliar e garantir a acessibilidade.


Biblioteca Acessível
Entre os novos equipamentos do recém-inaugurado espaço, estão um digitalizador e um leitor autônomo, desenvolvidos para atender pessoas cegas ou de baixa visão. O aparelho lê e amplia textos de maneira rápida e precisa e reproduz o texto em Braille. O Laboratório de Acessibilidade (Labaces) do SBU ganhou também uma impressora térmica difusora de relevo. A máquina reproduz desenhos ou mapas, por exemplo, com contornos em relevo, permitindo a leitura tátil do material.
Há, ainda, uma lupa eletrônica portátil. Colocada sobre um suporte, a lupa desliza sobre a página – de cima para baixo e para os lados. Com um toque manual, a lupa amplia o corpo das letras até que o usuário consiga lê-las. O laboratório ganhou também uma impressora e uma máquina de escrever em Braille. Esse equipamento funciona como as antigas máquinas de escrever elétricas, que reproduzem o texto na medida em que se o digita. Há, ainda, óculos de visão artificial, dotado de um scanner que consegue ler o livro e descrever o conteúdo para o usuário.
A coordenadora do Labaces, Michele Lebre de Marco, conta que o laboratório trabalha com dois eixos principais. Um deles, o serviço de adaptação do material bibliográfico, convertendo o conteúdo dos livros para um formato mais acessível. O laboratório digitaliza livros e transforma os textos em arquivos de áudio ou de formato .txt, compatível com softwares leitores de tela.
O segundo eixo é justamente aquele voltado para a disponibilização de equipamentos de tecnologia assistiva, a fim de atender pessoas com deficiência.




De acordo com a coordenadora, o laboratório contabilizou 210 atendimentos no ano passado e prevê-se que a demanda cresça neste ano, com a entrada de novos estudantes pelas cotas PCDs, em vigor na Universidade a partir deste ano.
“Acreditamos que o laboratório seja uma maneira de tornar igualitário o acesso à informação e ao conhecimento”, disse Lebre de Marco. “As pessoas com deficiência têm especificidades e nós precisamos suprir isso para que ela tenha acesso à informação. O propósito da biblioteca é prover informação. E nós precisamos fazer isso sem distinção”, argumentou.
“Esse laboratório é muito importante, porque, no fundo, garante acesso à leitura para pessoas com deficiência visual e cegas e amplia o acesso a essa riqueza cultural que se encontra nos livros”, disse o reitor da Unicamp, professor Antonio José de Almeida Meirelles. “É bonito ver uma instituição que gera oportunidade para que todos possam se formar. E também é importante para nós enquanto instituição ter esse tipo de integração. Isso mostra uma sociedade mais evoluída. Trata-se de uma ação civilizatória.”
O secretário estadual da Pessoa com Deficiência, Marcos Costa, disse que a instalação do novo espaço mostra que a Unicamp está comprometida com criar melhores condições para os estudantes com deficiência.
“Esse laboratório tem o potencial de fazer toda a diferença na vida das pessoas, porque permite acesso à informação”, disse Costa, que participou da cerimônia de inauguração no SBU. “As pessoas com deficiência visual podem, a partir de agora, ter acesso às obras maravilhosas que a Unicamp disponibiliza para os demais estudantes, de forma que é mais um grande passo, dentre outros adotados pela Unicamp nos últimos anos, no sentido de tornar a Universidade cada vez mais inclusiva”, acrescentou. “Com isso, todos ganham. Ganham as pessoas com deficiência, os alunos, os professores e a sociedade como um todo.”
A cerimônia contou ainda com a presença do secretário estadual da Justiça e Cidadania, Fábio Prieto de Souza.

Selo de Acessibilidade
A obtenção do Selo de Acessibilidade, uma iniciativa do Laboratório de Pesquisa Aplicada em Acessibilidade Arquitetônica e Urbana (Lapa), envolveu ações realizadas em parceria com a Divisão de Manutenção da Prefeitura Universitária e a Diretoria Executiva de Planejamento Integrado (Depi).
Entre os ajustes e adaptações realizados no Cecom, destacam-se a instalação de um mapa e uma maquete táteis – impressos em 3D –, que permitem a pessoas com deficiência visual identificar e compreender a estrutura do local, proporcionando-lhes mais autonomia para circular.
Também foram instaladas identificações em braile em novos corrimãos e em todos os demais espaços do prédio. Os banheiros adaptados receberam botões de emergência, e uma nova sala de atendimento médico passou a funcionar no piso térreo.

As adaptações seguem uma metodologia desenvolvida na pesquisa de doutorado da arquiteta e urbanista Edilene Donadon, do Escritório de Projetos Especiais da Prefeitura Universitária.
O nível um do Selo de Acessibilidade, a que o Cecom atendeu integralmente, refere-se à capacidade de uma unidade de acolher plenamente pessoas com deficiência e garantir que utilizem seu espaço. Para isso, são realizadas adaptações pontuais na infraestrutura e a capacitação dos funcionários.
O nível dois corresponde ao cumprimento integral das normas 9.050 e 16.537, além da legislação vigente sobre acessibilidade. Sua implementação exige intervenções mais complexas, incluindo reformas estruturais.
Já o nível três prevê a implementação de ações relacionadas a pesquisas desenvolvidas na Universidade sobre acessibilidade para pessoas com deficiência. “A pesquisa-ação funciona muito bem, está atrelada à metodologia científica e, ao mesmo tempo, possibilita que vejamos as mudanças acontecendo na prática. A partir de agora, vamos ouvir as pessoas que utilizam o Cecom, coletar avaliações e identificar possíveis melhorias”, afirmou Donadon.

Segundo a coordenadora do Cecom, Rôse Clélia Grion Trevisane, além de atingir 100% do nível um, o centro já atende a 64% dos critérios do nível dois e 38% dos do nível três. “Procuramos a Prefeitura Universitária, que nos apresentou essa metodologia, e unimos forças para realizar todas as adaptações. As melhorias não param por aqui. Novas iniciativas serão implementadas em breve”, disse.
O servidor Fernando Manarini, que trabalha na Unicamp há 37 anos e é deficiente visual, esteve presente no evento e destacou a importância das adequações realizadas no Cecom para garantir mais acessibilidade. “Com essas adaptações, temos melhores condições de transitar pelo espaço com mais tranquilidade e segurança. Esse é um primeiro passo importante”, afirmou.
O doutorando da Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF) Amauri Donadon Leal Junior, que tem baixa visão, disse que já utilizava o Cecom e que, com as melhorias, terá mais autonomia no local. “No meu caso, ter a maquete e as guias táteis aumenta muito mais a autonomia e o conforto. Achei fantástico”, concluiu.
