
Fruto de uma parceria entre o Ministério da Saúde do Brasil e o governo de Angola, o projeto de formação em medicina geral e familiar reúne 50 médicos angolanos em universidades brasileiras. A iniciativa acontece simultaneamente em diversas instituições de ensino superior do país e busca promover um intercâmbio entre os sistemas públicos de saúde do Brasil e de Angola. Na Unicamp, o projeto é realizado pela Faculdade de Ciências Médicas (FCM), em parceria com a Secretaria de Saúde de Campinas.
A dimensão extensionista da universidade é apresentada aos visitantes por meio do programa Extensão Sem Fronteiras — uma iniciativa da Unicamp e da Unesp —, coordenado pela Pró-reitoria de Extensão, Esporte e Cultura (Proeec). Pela primeira vez, os profissionais angolanos realizam atividades práticas em unidades básicas de saúde e conhecem de perto a atuação da universidade na formação médica integral. O projeto tem duração de três meses, e, ao retornarem a Angola, os médicos deverão cumprir um período de dez anos de trabalho no serviço público do país.
O professor Rubens Bredikow, coordenador de extensão da FCM, explica que, apesar de este ano o projeto ter aspectos inovadores, o convênio entre a universidade e o governo angolano completa 20 anos em 2025. “Nessas duas décadas, vieram médicos fazer especialidades, como se fosse um curso de residência médica. Eles ficam aqui por dois, três, até cinco anos, e depois esse certificado de ‘treinamento em serviço’ é revalidado em Angola como uma especialização”, comentou.

A atual iniciativa, no entanto, marca um novo momento dessa parceria. “Essa é a primeira vez que recebemos médicos para atuar na medicina de família e comunidade, e não em hospitais. Estão todos alocados em 25 centros de saúde da cidade, dois por unidade. A ideia é apresentar como funciona a atenção primária à saúde no Brasil, que envolve equipes multiprofissionais em contato direto com a população”, completa o professor.
Além das atividades práticas de segunda a quinta-feira nas unidades de saúde, às sextas-feiras os médicos se reúnem na Unicamp para discussões formativas. Segundo Bredikow, esse momento é essencial para o projeto. “Na extensão, a proposta é que ambos aprendam e ensinem. Queremos entender como eles se relacionam com as comunidades lá e mostrar como fazemos aqui. A extensão universitária deve ser transformadora para a sociedade e para a universidade.”
A estudante do terceiro ano de medicina Maria Antônia Kahala destaca os benefícios da cooperação. “Viemos para uma troca de experiências. O Brasil tem um modelo mais avançado de medicina comunitária e queremos aprender como está estruturada essa atuação nas comunidades. Nosso governo nos mandou com essa missão: construir uma nova forma de abordagem a partir do que aprendemos aqui.”

Já Edgar Sanhangala, também aluno de medicina, vê na experiência a possibilidade de levar melhorias à saúde de sua província. “Trabalhamos com doenças preveníveis, muitas ligadas ao estresse, como hipertensão e diabetes. Nossa expectativa é aplicar o que aprendermos para mudar o sistema de saúde. Sabemos que vamos encontrar aqui boas práticas que podem nos ajudar a transformar a realidade de lá.”
A iniciativa reforça o papel da extensão na universidade pública como potencializadora de transformação social. Para o professor, a expectativa é que esse seja apenas o primeiro grupo de muitos. “A ideia é que o projeto continue em ciclos. Vamos negociar a vinda de novos profissionais conforme a capacidade das unidades de saúde e o envolvimento da Secretaria Municipal de Saúde. Há muita vontade de fazer dar certo, e a extensão é o caminho para isso”.