
A morte do fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado, ocorrida nesta sexta-feira (23), aos 81 anos de idade, em Paris (França), “é uma perda não apenas para a fotografia, mas para a humanidade”, disse o professor Fernando de Tacca, do Departamento de Multimeios, Mídia e Comunicação do Instituto de Artes (IA) da Unicamp. “Trata-se de alguém da mesma estirpe de um Pierre Verger [fotógrafo, antropólogo e etnólogo franco-brasileiro] e Martin Chambi [fotógrafo peruano que retratou os povos andinos]”, acrescentou.
Para Tacca, Salgado marcou sua trajetória de mais de 50 anos com lutas contra as injustiças e denúncias sobre as desigualdades sociais, como a pobreza e o desamparo a atingir moradores de países da África, da Ásia e da América Latina. “Ele conheceu e nos mostrou a América Latina profunda”, disse o professor. “[Salgado] conhecia a densidade da alma humana e guardava um sentimento antropológico em sua obra.”
O fotógrafo nasceu em Aimorés, Minas Gerais, em 9 de fevereiro de 1944. Formou-se em economia na Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), em 1967, e, no ano seguinte, fez mestrado na Universidade de São Paulo (USP). Era casado com a arquiteta e ambientalista Lélia Deluiz Wanick. No final dos anos 1960, perseguido pelo regime militar, mudou-se para Paris, onde fez doutorado.

Em novembro de 2006, o Jornal da Unicamp publicou uma foto sua. A foto ilustra a capa do livro Riqueza e Miséria do Trabalho no Brasil, uma obra organizada pelo professor Ricardo Antunes. Com mais de 500 páginas, a publicação contempla uma linha de pesquisa que reuniu 18 alunos do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH).
Inquieto, Salgado viajou por mais de 120 países, em meio a seus projetos fotográficos. Esteve na África, na Ásia, na América Latina e, mais recentemente, na Antártida. Em todos os projetos, sempre revelou uma grande preocupação com a desigualdade social e fez diversas denúncias sobre agressões ao meio ambiente.
O fotógrafo ganhou notoriedade no Brasil nos anos 1980, quando trabalhou em uma de suas séries mais célebres – a de Serra Pelada, como era chamado o então maior garimpo a céu aberto do mundo, que atraiu milhares de pessoas de todo o país. Salgado criou uma linguagem característica, com fotos em preto e branco, imprimindo uma maior dramaticidade às imagens.
“Mas ele não mostrava o mundo em preto e branco para aumentar a dramaticidade”, afirmou Tacca. “A realidade era dramática e ele mostrava a realidade.”


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