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Atualidades

Parceria entre Faculdade de Engenharia Mecânica e Cameja oferece disciplina inovadora sobre emergência climática

A iniciativa conquistou prêmio internacional em simpósio realizado em Uberlândia

Um estudo sobre a criação e a implementação de uma disciplina na Unicamp que tratou da emergência climática acaba de ganhar reconhecimento internacional. O trabalho recebeu o prêmio de melhor artigo no simpósio internacional Sustentabilidade no Currículo e Operações de Universidades no Brasil, realizado na primeira semana de maio na Universidade Federal de Uberlândia (UFU). O evento foi organizado em parceria entre a UFU e a Universidade de Hamburgo para Ciências Aplicadas (HAW Hamburg, na sigla em alemão), sob a coordenação do professor Walter Leal Filho e contou com a participação de especialistas de diversas partes do mundo.

Idealizado pela Comissão Assessora de Mudança Ecológica e Justiça Ambiental (Cameja) – um dos braços da Diretoria Executiva de Direitos Humanos (DEDH) da Universidade –, disciplina inovadora sobre a emergência climática passou a integrar o Programa Engenharia para o Desenvolvimento Sustentável (Prods), um programa de extensão da Faculdade de Engenharia Mecânica (FEM).

Oferecida pela primeira vez em 2024 como projeto-piloto na FEM, a missão foi formar estudantes de maneira crítica e interdisciplinar, orientando-os para a ação diante da crise climática. A ideia consiste em preparar profissionais capazes de responder às demandas do século 21.

A proposta, alinhada com as diretrizes internacionais da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco, na sigla em inglês) e do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), foi considerada uma experiência inovadora no contexto da educação universitária sobre o clima.

A coordenadora da Cameja, Sonia Cal Seixas: abordagem pautada em direitos humanos
A coordenadora da Cameja, Sonia Cal Seixas: abordagem pautada em direitos humanos

Sonia Regina de Cal Seixas, coordenadora da Cameja e pesquisadora do Núcleo Interdisciplinar de Planejamento Energético (Nipe), conta que a disciplina nasceu a partir da contribuição de 44 especialistas em questões climáticas, membros da comissão vindos de diferentes áreas – geógrafos, economistas, historiadores, sociólogos, jornalistas, biólogos e engenheiros, entre outros. Isso evidencia, segundo a coordenadora, o aspecto interdisciplinar.

O modelo adotado, diz Seixas, conta com fundamentos universais e, por conta disso, pode ser replicado em qualquer universidade. O conteúdo também segue parâmetros que permitem a participação de estudantes de todas as áreas.

“A Cameja materializou um projeto de várias pessoas, que é o de pensar a questão climática, ambiental, com uma abordagem pautada pelos direitos humanos. E isso é único. Não existe em nenhum lugar do mundo. Nenhuma universidade do mundo faz uma abordagem como essa”, afirmou. “A Unicamp não pode abrir mão disso. Nunca. Porque isso é um tesouro.”

Quatro módulos

A disciplina possui quatro módulos. O primeiro, uma parte introdutória, apresenta o problema ao estudante, mostrando que as alterações climáticas representam um dos desafios globais mais prementes, com implicações profundas e duradouras para o bem-estar da humanidade.

No módulo dois, é avaliado os impactos que eventos climáticos extremos provocam na saúde – em especial na saúde de pessoas social ou economicamente vulneráveis.

Já o módulo três trata da adaptação das populações ao problema e das medidas de mitigação que podem ser implementadas. O quarto e último módulo discorre sobre os principais atores sociais capazes de agir e resolver esses problemas.

A disciplina foi aberta a alunos de graduação de todas as áreas da Unicamp, com carga horária total de 30 horas (um semestre).

A professora da FEM Carla Cavaliero: eventuais adequações
A professora da FEM Carla Cavaliero: eventuais adequações

A coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Planejamento de Sistemas Energéticos da FEM, Carla Cavaliero – que também integra a Cameja –, lembra que a proposta original prevê um modelo definido, mas nada impede que se possa fazer eventuais adequações.

Cavaliero lembra que a área de engenharia, por exemplo, poderia conduzir parte de um dos módulos para questões mais tecnológicas, as de biologia ou da saúde poderiam vislumbrar aspectos específicos de suas áreas e assim por diante.

“A estrutura está, hoje, definida de uma maneira ampla, mas de forma que se possa fazer inserções e eventualmente até mesmo algum ajuste no módulo, para atender a determinado perfil”, explicou.

A professora conta que a emergência climática na FEM vem sendo tratada como um tópico da disciplina Meio Ambiente e Desenvolvimento, mas espera-se que, em breve, deixe de ser um tópico para ganhar status de disciplina eletiva.

Seixas lembrou ainda que a CAMEJA pretende, para além da disciplina, oferecer um curso de extensão online, como parte de seus produtos formativos. ‘Nossa expectativa é que até o segundo semestre tenhamos um produto já pronto”, contou.

A disciplina não exigiria pré-requisito e estaria disponível para os alunos de todas as áreas. Há, ainda, a possibilidade de oferecer também para os servidores da Unicamp.

Seis profissionais

Intitulado “Construindo Currículos Preparados para o Clima: Curso Piloto da Unicamp sobre Emergências Climáticas no Ensino de Engenharia”, o estudo premiado é assinado por seis profissionais de diferentes áreas: Amasa Carvalho (FEM), Suzana Moro (FEM), Josué Labaki (FEM), Cavaliero (FEM), Leila da Costa Ferreira (IFCH) e Seixas (Cameja e Nipe).

A professora da FEM Amasa Carvalho: legado da Cameja para a Unicamp
A professora visitante da FEM Amasa Carvalho: legado da Cameja para a Unicamp

“[O prêmio] deu uma sensação muito boa e também foi muito importante, porque se trata de um simpósio internacional”, disse a professora visitante da FEM, Amasa Carvalho.

“Havia trabalhos da Alemanha, do Japão, dos Estados Unidos e de vários outros países e, entre tantos trabalhos muito bons, a gente receber esse prêmio foi maravilhoso”, acrescentou.

Para Carvalho, a elaboração da disciplina é um legado da Cameja para a Unicamp e para outras universidades. “Ganhar esse prêmio significa a materialização do quanto a gente está avançando. Isso nos parece uma indicação. É como se dissessem: ‘Continuem nesse caminho’”, afirmou.

Lições importantes

O estudo premiado conclui que a experiência-piloto da disciplina de Emergência Climática na Unicamp deixou lições importantes para o enfrentamento da crise climática no contexto do ensino superior brasileiro. E destaca a importância da transversalidade e da interdisciplinaridade, além do papel central da universidade na articulação entre ensino, divulgação e ação climática.

As integrantes da Cameja com o diploma de premiação internacional
As integrantes da Cameja com o diploma de premiação internacional

O trabalho cita ainda o oferecimento do conteúdo para estudantes de diferentes departamentos e níveis – graduação e pós-graduação – e para o pessoal técnico-administrativo e avalia que se trata de um arranjo a indicar uma inovação curricular.

Por fim, o estudo diz que o modelo “pode servir como um exemplo de novas práticas e políticas institucionais que preparam os alunos para atuarem como protagonistas em espaços globais de tomada de decisão, contribuindo para um futuro climático mais justo e resiliente”.

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