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Atualidades

Atualizado, livro “Os sentidos do trabalho” ganha edição especial de 25 anos

Do sociólogo Ricardo Antunes, título foi publicado em oito países e ganhou capitulo sobre uberização

Desde sua primeira publicação, em 1999, o título já recebeu três edições atualizadas e mais de 15 reimpressões no Brasil, também sendo publicado na Argentina, em Portugal, na Itália, na Holanda, na Inglaterra, nos Estados Unidos e na Índia.
O professor e sociólogo Ricardo Antunes, no campus da Unicamp: mais de 15 reimpressões no Brasil

Uma edição comemorativa do livro Os sentidos do trabalho: ensaio sobre a afirmação e a negação do trabalho, publicada neste ano, celebra os 25 anos de lançamento da obra, de autoria do professor titular de sociologia na Unicamp Ricardo Antunes. Editado pela Boitempo, o livro ganhou nova capa, novos textos de orelha escritos por intelectuais de vários países, um prefácio do filósofo húngaro István Mészáros e uma nota do próprio autor, além de um apêndice intitulado Uberização do trabalho e capitalismo de plataforma: uma nova era de desantropomorfização do trabalho.

Desde sua primeira publicação, em 1999, o título já recebeu três edições atualizadas e mais de 15 reimpressões no Brasil, também sendo publicado na Argentina, em Portugal, na Itália, na Holanda, na Inglaterra, nos Estados Unidos e na Índia.

Mais de duas décadas depois, chama atenção a contemporaneidade da obra, que ajuda o leitor a entender os contextos que culminaram na situação atual do mundo do trabalho – desde a reestruturação produtiva, com a crise do taylorismo e do fordismo, passando pela robotização industrial até a chegada da era digital.

“Escrevi no calor dos acontecimentos, tentei mostrar os limites do toyotismo e consegui perceber a realidade dos anos 1990 e a tragédia que se avizinhava. Para minha tristeza, não errei. Se exagerei, foi para menos”, afirma Antunes.

O professor é firme ao ressaltar que o capitalismo de plataforma, ou trabalho “uberizado” da era digital, reintroduziu “a exploração [do trabalho], a espoliação [pelo capital] e a expropriação [de direitos] ilimitadas”. Este cenário não está apartado da questão ambiental e das questões de desigualdade de classe, gênero, raça e etnia.

“Somos todos precarizados”

A obra demonstra, segundo o autor, que há uma tendência global à precarização – remetendo, por vezes, às condições dos trabalhadores do século 19 (o que ele denomina de protoforma do capitalismo) – e também à desantropomorfização (desumanização) do trabalho, ou seja, a substituição de humanos por máquinas. “Hoje, o capitalismo introduz a máquina informacional digital onde puder, a fim de aumentar a riqueza privada e eliminar o trabalho vivo – que, cada vez mais, se torna apêndice e autômato em relação ao mundo digital, dos algoritmos e da Inteligência Artificial.”

A tragédia, diz o pesquisador, é pensar que o atual desenvolvimento tecnológico poderia permitir jornadas laborais mais curtas. Entretanto, na realidade, há pessoas com cargas horárias extenuantes e outras sem emprego algum.

“Um resultado trágico e visível dessa realidade é que os trabalhadores de aplicativo se acidentam e morrem, sendo que a contabilização [desses casos] não é capaz de ser absolutamente precisa, pois muitos não são contabilizados como decorrentes de acidentes de trabalho.” Esta condição é mais visível na categoria de entregadores e entregadoras, mas não se limita a ela.

“Somos todos precarizados”, essa é a constatação que as paralisações dos entregadores vêm denunciando, destaca Antunes. Uma situação, no entanto, mascarada pela valorização de um suposto e mistificador empreendedorismo. “Por isso, é cada vez mais frequente ouvirmos dos entregadores: ‘não somos empreendedores, somos todos precarizados.”

Nesse contexto, a conclusão original do livro, conforme o sociólogo, se mantém atual: “o trabalho que estrutura o capital desestrutura a humanidade”. Contudo, ainda há esperança, pois, “o trabalho que desestrutura o capital pode efetivamente reorganizar e emancipar a humanidade”, completa.

Desde sua primeira publicação, em 1999, o título já recebeu três edições atualizadas e mais de 15 reimpressões no Brasil, também sendo publicado na Argentina, em Portugal, na Itália, na Holanda, na Inglaterra, nos Estados Unidos e na Índia.
Capa do livro: tendência global à uberização

São nos momentos de maior tensão social que as inúmeras mobilizações coletivas ganham força globalmente, “com o potencial que permite vislumbrar novos embates e confrontos que questionam e contestam o sistema de reprodução antissocial do capital”, lembra o professor.

O livro – apresentado, originalmente, como trabalho para a candidatura ao concurso de professor titular na Unicamp – consolidou ideias que Antunes aprofundou durante pesquisas no exterior, em especial em um período como pesquisador visitante na Universidade de Sussex (Inglaterra), a convite de Mészáros, entre 1997 e 1998.

Reconhecimento internacional

Por sua notória trajetória intelectual e pelo legado de suas obras, o professor Ricardo Antunes foi agraciado com o título de Doutor Honoris Causa pela Universidade Nacional de Rosário (Argentina), em junho de 2025, na área de Ciências Sociais e Humanidades.

Antunes foi investido no cargo durante uma cerimônia que contou com uma Aula Magna, recebendo pareceres de intelectuais de diferentes países que referendaram a homenagem, além de receber também o reconhecimento do movimento de trabalhadores e de sindicatos argentinos – que, conforme Antunes, hoje enfrentam duros ataques da extrema-direita. Por isso, o professor dedicou o título recebido a esta classe trabalhadora.Ricardo Antunes é professor titular de sociologia na Unicamp e autor de livros publicados em 14 países, dentre os quais estão Adeus ao trabalho?, Os sentidos do trabalhoO privilégio da servidão e Capitalismo pandêmico. Ministrou cursos de pós-graduação e graduação e conferências em várias universidades na Europa, América do Norte, América do Sul e na Ásia, e foi professor visitante na Universidade Ca’ Foscari (Veneza, Itália) e na Universidade de Coimbra (Portugal). Coordena, ainda, a coleção Mundo do Trabalho, da Boitempo.

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