A manhã da sexta-feira (25) foi de celebração no auditório da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp. A cerimônia de encerramento do ciclo formativo de 50 médicos angolanos do 3º ano do Programa Geral de Saúde da Família marca o fim de uma jornada de capacitação iniciada em maio, resultado de uma cooperação internacional consolidada há mais de duas décadas entre a universidade, a Prefeitura de Campinas e o Ministério da Saúde de Angola, com o apoio do Ministério da Saúde brasileiro.
“Foram meses de intenso aprendizado que, certamente, serão importantes para o fortalecimento e o amadurecimento do sistema de saúde de Angola. Reconhecemos na formação do povo brasileiro, em sua negritude, nas suas expressões culturais e na capoeira de Angola o símbolo de comunidade e união”, declarou a oradora da turma, Laurentina Teresa da Silva. Em sua fala, Silva destacou o acolhimento recebido no Brasil e o impacto da vivência no Sistema Único de Saúde (SUS), lembrando também o gesto histórico do Brasil, que foi o primeiro país a reconhecer a independência de Angola, em 1975.

O programa, que teve duração de três meses, integra o “Projeto Brasil-Angola: Formação de Recursos Humanos para Cobertura Universal de Saúde em Angola”. Desde o início da cooperação, mais de 200 médicos angolanos já passaram por capacitações vinculadas à universidade. Os médicos participaram de uma formação intensiva com 94 horas de aulas teóricas e 386 horas de imersão prática em 25 Unidades Básicas de Saúde de Campinas, vivenciando o cotidiano do SUS com foco na atenção primária e na estratégia Saúde da Família.
Para Francisco Hideo Aoki, médico infectologista, professor da FCM e coordenador do convênio com Angola, essa troca é resultado de um longo histórico de compromisso da universidade com a saúde pública. “O sistema público de saúde já existia em Campinas muito antes da promulgação da Constituição de 1988. A cidade foi uma das pioneiras na estruturação de um modelo de atenção à saúde baseado em princípios públicos e universais, que mais tarde influenciaria diretamente a criação do SUS. Esse histórico reflete o compromisso da Unicamp e do município com uma visão ampliada de saúde, orientada pela justiça social e pela inclusão”, afirmou.
A iniciativa também se insere na política de internacionalização da Unicamp voltada para o Sul Global. Representando a reitoria da universidade, o coordenador-geral Fernando Coelho elogiou o envolvimento dos participantes: “Expresso minha profunda e sincera admiração por toda a dedicação de cada um de vocês. Tenho certeza de que isso será retribuído à população de Angola. Fico contente em perceber que a universidade pensa a internacionalização para além do eixo Norte do mundo. A experiência de vocês, complementada com a nossa, leva à formação de um novo conhecimento.”
Nesse mesmo sentido, Rubens Bedrikow, assessor da Pró-reitoria de Extensão, Esporte e Cultura (Proeec) e professor da FCM, reforçou o papel da extensão universitária na cooperação entre países do Sul. “Essa é uma das grandes metas de nossa universidade. Agradecemos a todos os médicos e médicas angolanos que se dispuseram a conhecer o SUS de Campinas, a trocar experiências com os profissionais da rede pública de saúde e a partilhar seus saberes, suas práticas e suas histórias de vida. Foram verdadeiros embaixadores de Angola no Brasil e devem sentir-se orgulhosos por isso.”
Além de representar a Proeec, Bedrikow é o responsável pela execução do convênio institucional que viabilizou o estágio formativo em Campinas, fortalecido ao longo dos anos por ações conjuntas entre a Unicamp e o Ministério da Saúde de Angola. A iniciativa já foi tema de reportagens anteriores, que destacaram a participação da Unicamp em missões oficiais em território angolano e a presença de médicos angolanos nas unidades básicas da cidade.

O fortalecimento do sistema de saúde angolano também foi destacado pelo coordenador do projeto no Ministério da Saúde de Angola, Job Monteiro Chilembo Jama António. Segundo António, a formação de profissionais é uma das prioridades do governo do presidente João Lourenço. “Desde 2018, foram admitidos mais de seis mil profissionais por meio de concursos públicos, aumentando em 41% a força de trabalho no setor da saúde. A meta é formar 38 mil profissionais até 2028.”
Por parte do governo brasileiro, o diretor do Departamento de Gestão da Educação na Saúde do Ministério da Saúde, Fabiano Ribeiro, ressaltou o significado simbólico da cooperação. “Para nós do Ministério da Saúde, é motivo de muito orgulho contribuir para essa formação. Existe uma relação ancestral e de reparação histórica do Brasil com os países do continente africano.”
Representando a Prefeitura de Campinas, a farmacêutica e coordenadora distrital Deise Fregni Hadich celebrou a presença dos residentes nas unidades da cidade. “Parabenizo todos e reforço como vocês deixarão marcas na história da nossa cidade. Espero que tenham conseguido vivenciar e sentir um pouco do orgulho que temos do SUS, com todos os seus problemas e dificuldades. Essa possibilidade de vivência é muito rica e generosa.”
Após os pronunciamentos, os médicos angolanos apresentaram os trabalhos finais desenvolvidos a partir de sua atuação nos seis distritos de saúde de Campinas. A cerimônia foi encerrada com a entrega dos certificados de conclusão e uma apresentação cultural preparada pelos próprios residentes, como forma de retribuição e celebração coletiva.
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