Com oito contratos de licenciamento firmados com o setor empresarial ao longo do ano passado, envolvendo nove tecnologias, a Faculdade de Engenharia Química (FEQ) da Unicamp foi a Unidade Destaque em Transferência de Tecnologia do Prêmio Inventores Unicamp 2025, promovido anualmente pela Agência de Inovação Inova Unicamp. No total, a Universidade transferiu 31 tecnologias para o mercado em 2024, sendo que a FEQ respondeu por cerca de 29% desse total. Já a Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA), pela quarta vez, é reconhecida como a unidade de ensino com maior número de pedidos de patente. Em 2024, a FEA liderou os depósitos com 22 pedidos de um total de 78 realizados pela Universidade, o que representa quase 30% de toda a produção do ano.
O desempenho da FEQ foi comemorado pelo diretor da Faculdade, o professor Dirceu Noriler. “Este reconhecimento é muito importante para a FEQ. Dentro de um ambiente tão inovador como a Unicamp, é uma satisfação enorme liderar esse processo de transferência de tecnologia e perceber que, de fato, nossa pesquisa tem aplicação prática e vai contribuir para a sociedade de forma significativa. Tudo isso é um reconhecimento de que nossas políticas estão no caminho certo”, afirma.
O diretor associado, o professor Leonardo Fregolente, reforçou as palavras de Noriler e pontuou os fatores que contribuíram para esse reconhecimento. “Este prêmio é resultado da nossa cultura de inovação, da histórica relação entre docentes e pesquisadores da FEQ com a indústria, dos nossos esforços em fomentar a inovação no ensino e na formação dos alunos, além do nosso empenho em estreitar relações com a Inova. Ficamos felizes em constatar que alcançamos esse peso na inovação e um protagonismo significativo na geração de soluções para a sociedade.”
Esta é a primeira vez que a FEQ se sobressai na categoria Transferência de Tecnologia, criada em 2018. No entanto, na categoria de Unidade Destaque na Proteção da Propriedade Intelectual, a FEQ já acumula quatro conquistas, nos anos de 2009, 2010, 2012 e 2014.

Relação histórica com a indústria
Dentre os fatores que favoreceram o destaque à FEQ neste ano, Noriler salienta as tradicionais relações da Faculdade com a indústria – sobretudo com setores como petroquímico, alimentício e agrícola –, o que impulsiona uma cultura inovadora presente no ensino e na pesquisa na unidade: “O prêmio reflete um trabalho coletivo e um histórico sólido de colaboração com o setor industrial, que vem sendo cultivado há décadas. A FEQ sempre foi uma unidade de engenharia aplicada. Temos convênios com empresas – algumas de grande porte –, tanto de pesquisa, desenvolvimento e inovação (PD&I) quanto de prestação de serviços especializados, o que favorece a atmosfera de inovação.”
Nesse sentido, Fregolente acrescenta que “temos vários professores com experiência no mercado, além de alunos egressos que ocupam posições estratégicas na indústria e conservam vínculos com a FEQ. Tudo isso colabora para criar pontes entre o setor empresarial e a Faculdade, o que fortalece o anseio pela busca contínua pela inovação”.
Cultura de inovação
Segundo os diretores, a conquista deste prêmio também é consequência de um esforço em inculcar o conceito de inovação na estrutura curricular da Faculdade. Fregolente detalha que “em nossa graduação, o programa foi redesenhado com foco em competências, não em conteúdo. Assim, o curso foi organizado de modo que, ao final, o aluno seja capaz de elaborar um projeto prático e comunicá-lo com eficiência, com base nas competências que estimulamos. Isso contribui para desenvolver um espírito inovador em nossos alunos”, acrescenta o professor.
Noriler também afirma que, nos últimos anos, a FEQ vem refletindo sobre a modernização de seu programa de pós-graduação, o que resultou em uma proposta de adesão ao novo Plano de Aperfeiçoamento da Pós-graduação (PAPG), que pressupõe a criação de trilhas formativas. Uma delas terá ênfase em inovação e empreendedorismo. “Estamos introduzindo na pós-graduação uma trilha que formará profissionais preparados para inovar, que deve ser oferecida no começo de 2026. Os novos pós-graduandos poderão optar entre um currículo mais tradicional ou um voltado à inovação. Neste último caso, o programa vai exigir uma etapa em parceria com uma empresa para o desenvolvimento de um projeto aplicado. Essa abordagem dará aos alunos competências de pesquisadores e os levará a elaborarem dissertações alinhadas a necessidades reais da sociedade.”
FEA e o programa institucional de incentivo
A recorrência da premiação da Faculdade de Engenharia de Alimentos — obtida pela unidade também em 2019, 2022 e 2023 — reforça a consistência de suas ações a fim de promover a inovação. Em 2024, no entanto, o diferencial vai além dos números: está nos efeitos concretos do programa institucional de incentivo à propriedade intelectual, lançado com o apoio direto da Inova.
Com ações de capacitação, premiação e orientação técnica, o programa promoveu um salto superior a 70% nas comunicações de invenção (CIs) submetidas pela unidade em 2024, em comparação com o ano anterior, além de melhorar a qualidade dos documentos apresentados, acelerando os trâmites de proteção junto à Inova.
A iniciativa do programa foi concebida como resposta a um desafio recorrente entre grupos de pesquisa: a dificuldade de identificar o potencial de inovação das pesquisas a tempo de ser protegido.
“Muitos pesquisadores só se davam conta da possibilidade de proteção quando o projeto já estava concluído. A comunicação da invenção é o primeiro passo, e queríamos incentivar esse movimento desde o início”, explica o professor Anderson Sant’Ana, diretor da FEA.
Com esse objetivo, a unidade criou um modelo que premia as comunicações submetidas à Inova e distribui parte dos recursos de royalties aos programas de pós-graduação mais atuantes na proteção da propriedade intelectual. Os critérios de avaliação consideram o número de comunicações encaminhadas no período, e os recursos são destinados diretamente aos grupos de pesquisa. “É um estímulo direto à pesquisa aplicada, que retorna à própria comunidade”, afirma Sant’Ana.
A iniciativa se alinha à Lei de Inovação Brasileira (Lei nº 10.973/2004) e à Política de Inovação da Unicamp, que reconhecem a proteção da propriedade intelectual como uma etapa estratégica para a transferência do conhecimento científico à sociedade.
“Ao estimular que as comunicações de invenção sejam feitas com mais consistência e antecedência, o programa facilita a transformação desses conhecimentos em soluções tecnológicas”, complementa a professora Ana Sílvia Prata, diretora associada da FEA.
Além disso, disciplinas sobre propriedade intelectual foram incorporadas ao catálogo da pós-graduação da unidade, permitindo que estudantes de toda a Unicamp acessem este conteúdo. O programa oferece workshops e treinamentos sobre propriedade intelectual, desde a identificação de invenções até as formas de proteção, como patentes, programas de computador, know how e cultivares. Também engloba a oferta de consultorias, com o suporte estratégico da Inova Unicamp, para auxiliar os inventores na elaboração das CIs e no processo de proteção da propriedade intelectual.
O programa evita a obrigatoriedade e aposta no engajamento da comunidade. “Nosso foco não é impor, mas despertar o interesse dos pesquisadores pela proteção da propriedade intelectual como uma etapa estratégica da pesquisa, que pode levar o conhecimento produzido ao mercado”, destaca Prata.

Mudança de cultura
O programa evidencia uma mudança significativa na cultura da unidade: a proteção intelectual deixou de ser vista como uma etapa burocrática e passou a integrar o ciclo natural da pesquisa aplicada. “Estamos formando uma nova geração de pesquisadores com um olhar mais atento para a aplicação prática do conhecimento. Muitos estudantes não percebiam que suas pesquisas tinham potencial de se tornar uma tecnologia. Esse movimento já começa a se consolidar na pós-graduação e deve se expandir também para a graduação, com novas ações voltadas ao empreendedorismo científico”, destaca Sant’Ana.
Entre os próximos passos da unidade, estão o lançamento de um mestrado profissional voltado à interface entre academia e setor empresarial e industrial e a criação de trilhas formativas em inovação para a graduação.
Apesar dos avanços, os desafios permanecem. Um deles é incentivar que estudantes e egressos atuem como protagonistas no empreendedorismo. “Muitos ainda optam pela trajetória acadêmica, o que é legítimo, mas queremos mostrar que também podem atuar diretamente na aplicação de suas pesquisas”, completa Prata.
Muito além dos alimentos
Embora a sigla FEA remeta à Engenharia de Alimentos, porém, o escopo de atuação da unidade vai muito além do setor alimentício. “Trabalhamos com tecnologias aplicadas a cosméticos, medicamentos, agroindústria e outras áreas estratégicas, sempre mirando em soluções sustentáveis, de baixo custo e alinhadas com as demandas reais da indústria e da sociedade”, reforça Prata.
Outra invenção de destaque em 2024 exemplifica essa diversidade: a criação de nanofibras com óleo essencial, capazes de absorver o suor e combater o mau odor. Elas servem como base para produtos como desodorantes, máscaras, curativos e produtos antiacne, com ação antibacteriana.
Para Sant’Ana, essa variedade reforça o papel da FEA Unicamp como um polo que transforma ciência em soluções tecnológicas voltadas aos desafios reais da sociedade. “Essa amplitude permite que nossas ações tenham relevância em diferentes mercados e setores, nacionais e internacionais, aumentando o alcance e a responsabilidade da Universidade”, acrescenta o diretor.
A edição de 2025 tem o patrocínio de ClarkeModet e FM2S.
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