A sustentabilidade é a aposta da Unicamp para o futuro. Uma série de iniciativas em andamento busca posicionar a instituição como referência na área – a partir de projetos internos, no seu entorno e da inserção em fóruns internacionais de debate e decisão. A Reitoria lança na próxima sexta-feira (5/9) um edital para apoiar docentes, pesquisadores e discentes que tenham atividades previstas na 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP 30), em novembro, em Belém, no Pará. Uma portaria publicada quarta-feira (3/9) também informa a composição da delegação oficial que vai representar a Universidade no evento e ficará a cargo de organizar a inserção da instituição em um Pavilhão das Universidades na Blue Zone na Conferência.
Além disso, está em estudo a criação de uma Diretoria Executiva de Sustentabilidade, ligada diretamente ao Gabinete do Reitor, para integrar e ampliar ações relacionadas à sustentabilidade e às mudanças climáticas. A expectativa é de que os trâmites para sua aprovação sejam concluídos ainda no segundo semestre de 2025.

Somado a isso, a Unicamp deu início à fase inicial de implantação do HIDS Unicamp (Hub Internacional para o Desenvolvimento Sustentável), que tem o potencial de “mudar a relação da Unicamp com a sociedade” e inspirar um novo modelo de referência para o desenvolvimento econômico do Brasil, pautado pela transição ecológica, afirma o coordenador do HIDS Unicamp e assessor do Gabinete do Reitor, Roberto Donato.
O reitor da Unicamp, Paulo Cesar Montagner, reafirmou que a sustentabilidade é um eixo central da sua gestão – reforçando discurso feito em sua posse e desejo expresso em seu programa de gestão. “Vamos construir um projeto no qual a sustentabilidade será uma diretoria e terá um eixo de aglutinação de todas as nossas ações nesse campo”, afirma. O objetivo é criar um amplo programa nesse campo, com a ampliação e visibilidade dos projetos.
Montagner considera fundamental que a comunidade acadêmica e a sociedade entendam a importância da sustentabilidade e conheçam as ações da Universidade. O reitor ressalta, também, a inserção gradual da sustentabilidade também nos projetos de pesquisa e ensino, “de forma que a gente vá construindo uma sociedade em torno do tema cada vez mais conhecedora, realizadora e participante disso [essa transição sustentável]”.

Unicamp na COP30
A Unicamp vem, progressivamente, ampliando sua presença institucional nas conferências desde a COP27, que aconteceu em 2022 no Egito. Especialmente a partir das COPs 28 (nos Emirados Árabes) e 29 (no Azerbaijão), a Universidade começou a articular com mais robustez sua inserção em redes de universidades sustentáveis, como a International Sustainable Campus Network (ISCN). Isso culminou em uma carta assinada por diversas redes solicitando a realização de um Pavilhão das Universidades na “Área Azul” da COP30 (espaço no qual ocorrem as discussões e tomadas de decisões), a fim de mostrar à sociedade e aos órgãos governamentais a importância dessas instituições participarem da constituição de uma agenda climática global.
Isso parte do entendimento, argumenta Donato, que as universidades, além de contribuírem com informações científicas, também são agentes fundamentais para o cumprimento de metas climáticas e para a formulação de políticas de mitigação e de adaptação nos territórios – tendo em conta as mudanças que provocam nas regiões em que estão inseridas, por meio das suas funções de pesquisa, ensino e extensão.

Thalita Dalbelo, coordenadora de Sustentabilidade da Diretoria Executiva de Planejamento Integrado (Depi), explica que a Blue Zone, ou Área Azul, é um local de acesso restrito. “A Unicamp faz parte de uma rede de pesquisadores que dá apoio aos observadores [participantes da COP30 que têm voz e voto nas discussões]. Temos esse espaço de fala que é influenciador”. Dalbelo também conta que, no Pavilhão das Universidades, a Unicamp poderá organizar debates e programação própria para todos os dias do evento, em conjunto com as demais universidades participantes.
Juntamente à organização desse pavilhão, por meio de convênio, a Unicamp também está envolvida na curadoria acadêmica da “Estação do Desenvolvimento”, criada em Belém pela Confederação Nacional do Transporte (CNT) a fim de se pensar sobre transportes e a transição energética.
A comitiva de representação da Universidade na COP30 é composta por Fernando Coelho, coordenador geral da Unicamp; Roberto Donato, coordenador do HIDS Unicamp e assessor do Gabinete do Reitor; David Lapola, pesquisador e vice-coordenador do Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura (Cepagri) e colaborador do Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC); Eduardo Marandola, representante da Pró-Reitora de Pesquisa; Luiz Carlos Silva, coordenador do Campus Sustentável; Aline Carvalho, coordenadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas Ambientais (Nepam); Thalita Dalbelo, coordenadora de sustentabilidade; Patricia Mariuzzo, assessora de comunicação do HIDS Unicamp; e Thyago Lins, assessor de gestão da Reitoria.
Além deles, a Universidade irá apoiar financeiramente a participação de mais quatro docentes ou pesquisadores e dois alunos de pós-graduação no evento, via edital. Em 2024, a Unicamp também ofereceu esse apoio; a novidade deste ano é a abertura da oportunidade aos discentes. “Estamos atendendo um desejo da comunidade acadêmica de participar da COP, além de fortalecer a presença acadêmica nesses ambientes de discussão política”, afirma Donato. O edital irá apoiar quem já trabalha com o tema sustentabilidade e que comprove a participação em atividades na COP30 ou em eventos paralelos na cidade de Belém nos dias da Conferência, esclarece o coordenador do HIDS.

A Unicamp aguarda o credenciamento dos representantes pela organização da COP30 e também definições a respeito do funcionamento do Pavilhão das Universidades.
Anteriormente à COP30, está prevista, ainda, a realização do Fórum das Mudanças Climáticas, nos dias 20 e 21 de outubro, no Auditório Zeferino Vaz, no Instituto de Economia. A ideia é apresentar as pesquisas desenvolvidas na Universidade referentes às mudanças e emergências climáticas, criando “um painel ampliado dessas ações para que possamos levar até a participação institucional na COP30”, diz Donato. O evento está sendo organizado pelo Gabinete do Reitor, a Pró-Reitoria de Pesquisa e a Coordenadoria de Centros e Núcleos (Cocen).

HIDS inicia fase de implementação
A sustentabilidade está no eixo central das ações da atual reitoria, ressalta Donato. Para o professor, o HIDS Unicamp norteará a convergência de esforços na transição para uma universidade sustentável. Pensado como um distrito de inovação, a proposta é de se criar uma grande área de atração de atividades de inovação voltadas para a sustentabilidade, agregando empresas, instituições públicas e atores da sociedade civil que produzirão conhecimento conjunto por meio de laboratórios vivos, onde podem ser testadas diferentes soluções em áreas como mobilidade e energia.
“Concluímos uma etapa fundamental de planejamento do HIDS e de grande diálogo com a comunidade acadêmica da Unicamp e do seu entorno. Do ponto de vista do HIDS Unicamp, construímos um plano de uso e ocupação da então Fazenda Argentina [área que pertence à Unicamp, com um total de 1,4 milhão de m²] que prevê um modo sustentável de ocupação do território e de criação de áreas verdes, preservação e manutenção da biodiversidade”, informa Donato.
A partir de agora, a equipe se debruça sobre a criação de um arcabouço jurídico que normatizará a ocupação e o funcionamento do HIDS Unicamp e planeja a contratação do projeto executivo da infraestrutura de urbanização sustentável do espaço (redes de água, energia, arruamento etc.).

Diretoria Executiva de Sustentabilidade
A proposta de criação de uma Diretoria Executiva é oriunda de um Grupo de Trabalho (GT) constituído para pensar uma estrutura institucional de sustentabilidade na Unicamp. Esse novo órgão visa agregar e transversalizar as ações de sustentabilidade já existentes que estão espalhadas em diferentes unidades dos campi – de modo a fortalecer, articular e dar visibilidade a essas ações, integrando-as às estratégias de gestão da Unicamp, conforme o relatório do GT.
O GT analisou diversas experiências positivas em universidades consideradas de referência na transição sustentável. “O que notamos de padrão quando fizemos esse benchmarking [avaliação] das universidades sustentáveis são [a criação de] órgãos de peso que têm muito apoio das reitorias”, conta Dalbelo.
Se aprovada, a estrutura incorporará o Hids Unicamp; a Coordenadoria de Sustentabilidade (CSUS), com a gestão de projetos sustentáveis e o Escritório Campus Sustentável, anteriormente vinculados à Depi; a Coordenadoria de Resíduos e Licenças, com a Gestão Ambiental e de Resíduos (Geare) e o Escritório de Produtos Controlados, anteriormente vinculados à DEPI); o Sistema de Gestão Universidade Sustentável da Unicamp (SiGeUS); e o Comitê Assessor de Sustentabilidade da Unicamp (CASusten).
“Vamos organizar todo esse sistema em torno de uma política institucional de sustentabilidade da Unicamp”, diz Donato. Conforme o coordenador do Hids, isso promoverá ganhos em institucionalidade, capacidade de planejamento e mobilização para avançar na direção de “uma Unicamp mais sustentável, mais atenta às problemáticas da emergência climática e mais comprometida com os dilemas ambientais que nós temos no mundo contemporâneo”.

Histórico
A trajetória da Unicamp na inclusão da sustentabilidade no ensino, pesquisa, extensão e gestão teve início ainda na década de 1990, com a criação do Grupo de Planejamento Ambiental, voltado para solucionar as questões de depósito irregular de resíduos sólidos no córrego com canalização aberta do campus Zeferino Vaz.
Ao longo das décadas, a Universidade criou inúmeros projetos, ações e centros de pesquisa que avançaram nessa direção – a exemplo da criação do Núcleo de Estudos e Pesquisas Ambientais (Nepam), originalmente criado como Núcleo de Ecologia Humana em 1982; a Política Ambiental da Unicamp (institucionalizada em 2010); a criação do Grupo Gestor Universidade Sustentável (2014); a criação em 2020 do Centro Paulista de Estudos da Transição Energética (CPTEn) , o Plano Diretor Integrado da Unicamp 2021-2031: uma visão de futuro para os campi (publicado em 2021): e a criação, em 2022, da Coordenadoria de Sustentabilidade (Depi), entre outras.
“Do ponto de vista da pesquisa, da extensão e da formação curricular, nós somos pioneiros. Os primeiros núcleos de pesquisa e as primeiras atividades voltadas ao tratamento das questões ambientais na Unicamp datam de pelo menos 40 anos”, pontua Donato.

O Planejamento Estratégico 2021-2025 da Unicamp explicita o compromisso institucional com o desenvolvimento sustentável, associando os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU aos objetivos estratégicos da Universidade de forma transversal. Atualmente, além do HIDS Unicamp, a instituição tem projetos estratégicos reconhecidos internacionalmente como os Corredores Ecológicos da Unicamp e o Projeto Eficiência Energética.
“Somos uma referência importante em pesquisa e em ensino. Nossos programas de pós-graduação estão altamente comprometidos com a produção de pesquisas em questões ambientais e temos iniciativas muito relevantes de mobilização dessa comunidade na formulação de políticas públicas, por exemplo, o Biota Fapesp, que é coordenado por docentes e pesquisadores da Unicamp. Nos últimos anos, também estamos fortalecendo nossas relações interinstitucionais, com maior presença em conselhos estaduais, esferas de deliberação e instâncias públicas de tomada de decisão voltadas para a questão da sustentabilidade”, complementa Donato.
Desde 2019, a Unicamp participa de rankings internacionais de universidades sustentáveis. “Começamos a coletar essas informações, monitorar os indicadores e entender onde estamos e propor projetos de melhorias”, fala Dalbelo. A Universidade ocupa, hoje, a segunda posição no Brasil, no ranking de impacto divulgado pelo Times Higher Education (THE) Impact Ranking2025, e a posição 301-400 no mundo, considerando um total de 2.526 universidades ranqueadas. Também ocupa o 5º lugar no Brasil e o 76º no mundo no ranking de 2024 da UI GreenMetric, que elencou mais de 1.400 universidades.
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