A publicação de teses e artigos dissemina conhecimento e possibilita reconhecimento para o pesquisador e a instituição, além de agregar valor à produção científica e servir de indicador de produtividade. Com a popularização das ferramentas de inteligência artificial (IA), os pesquisadores têm pela frente um desafio a mais, que é aproveitar as oportunidades que a IA proporciona com cuidado e transparência.
Nesta quarta-feira, 10 de setembro, no evento “Taylor & Francis: da pesquisa à publicação, um workshop sobre ética, inteligência artificial e ciência aberta”, realizado na Biblioteca Central Cesar Lattes da Unicamp, o uso da IA atraiu as atenções. A Taylor & Francis, uma das principais editoras acadêmicas do mundo, tem promovido esses workshops nas universidades para orientar autores, editores e revisores sobre a utilização das ferramentas.
O mexicano Jorge Perez, diretor regional da Taylor & Francis na América Latina, destaca a tradução como um dos usos mais recorrentes da IA. “A inteligência artificial é uma oportunidade principalmente para tradução. Nossa orientação é que se faça o artigo em português e use uma boa IA para traduzir para o inglês, mas é preciso declarar que a IA foi usada. Se as nossas ferramentas detectarem o uso sem que tenha sido feita a declaração, o trabalho será rejeitado”, explica.

A responsável da Taylor & Francis no Brasil, Renata Zanzini, que atua no suporte da editora para autores, professores e livrarias, acrescenta que é preciso esclarecer os limites do uso da inteligência artificial. “Nos eventos que estamos promovendo, abordamos até onde usar a IA e como sinalizar onde usou. A tecnologia traz benefícios, mas o pesquisador é que precisa estar presente no trabalho, as pessoas precisam identificar qual foi a ideia, a pesquisa, a originalidade”, destacou.
Em sua apresentação no evento, Victoria Babbit, diretora global de pesquisa e desenvolvimento da Taylor & Francis, alertou que as ferramentas de IA podem trazer imprecisões, por serem de natureza estatística, e que muitas vezes não adotam a prática padrão da comunidade acadêmica. “Há ainda o risco de confidencialidade e de propriedade intelectual, da segurança de dados e de proteção de direitos autorais. Mas há vantagens, como conseguir traduzir ideias complexas para diferentes idiomas, por exemplo, e conseguir diferentes versões para atingir uma audiência global”, afirmou.
Para o diretor do Sistema de Bibliotecas da Unicamp, Oscar Eliel, a inteligência artificial “veio para ficar”. “As ferramentas de IA serão cada vez mais utilizadas, não só na rotina da universidade, mas em boa parte das funções. Na publicação, é um caminho sem volta, mas deve ser feito com cuidado, aprender de que forma usar, onde aplicar e, o mais importante, mencionar em quais pontos do artigo, da pesquisa ou de alguma análise ela foi utilizada”, completa.

Acordo transformativo
A Unicamp mantém, desde 2024, um acordo transformativo, também conhecido como “Read & Publish” ou “Ler e Publicar”, com a Taylor & Francis. Esses acordos permitem redirecionar recursos financeiros que antes eram destinados a assinaturas de periódicos a novas assinaturas que incluem, juntamente com a leitura, a opção de publicação em periódicos de acesso aberto sem custos adicionais.
“Trabalhamos nesses acordos com grandes editoras já que, para publicar em periódicos de acesso aberto, é preciso pagar a taxa de processamento de artigo (Article Processing Charge – APC), hoje em torno de US$3 mil a US$5 mil. Assim, o pesquisador não precisa tirar dinheiro da sua pesquisa para custear a publicação”, explica Eliel.
No contrato com a Unicamp, o limite de artigos que podem ser publicados sem custo na Taylor & Francis é de 95 por ano. “Em 2024, publicamos 92 artigos e, neste ano, já estamos chegando no limite agora em setembro. Percebemos que houve engajamento e pretendemos continuar com a parceria”, adianta o diretor do sistema de bibliotecas.
“Vale destacar que a Unicamp é a única instituição do Brasil com quem mantemos o acordo transformativo. Nosso objetivo é contribuir para a ciência, mostrar os resultados das boas pesquisas, com transcendência para a humanidade e a ciência”, completa Jorge Perez.
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