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Atualidades Premiações

Professora recebe reconhecimento à sua contribuição para a área da geografia

Arlete Moysés recebeu o Prêmio Manuel Correia de Andrade 2025 concedido pela Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia

A professora do Instituto de Geociências (IG) da Unicamp Arlete Moysés recebeu o Prêmio Manuel Correia de Andrade 2025, em reconhecimento à sua trajetória acadêmica e contribuições científicas para a área da geografia. Trata-se da maior premiação nesse campo no país, concedido pela Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia (Anpege). A honraria foi entregue na terça-feira (23), durante o XVI Encontro Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia, na Universidade Federal do Amapá (Unifap), em Macapá. Na ocasião, também foi agraciada a professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFJR), Júlia Adão Bernardes. “A entrega deste prêmio é resultado de uma ampla articulação, que reuniu indicações de 12 programas de pós-graduação de todas as cinco regiões geográficas do país”, destacou Flávio Lima, em seu discurso na premiação.

Lima, cujo doutorado foi orientado por Rodrigues, foi um dos articuladores do prêmio deste ano. Atualmente, é pesquisador de pós-doutorado no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) e professor colaborador no Programa de Pós-Graduação em Geografia na mesma instituição. Lima ressaltou que o prêmio canoniza o lugar da pesquisadora na construção de um pensamento social brasileiro e também “agracia uma geração de geógrafos e geógrafas que, no contexto da ditadura, assumiu o desafio de pensar os dilemas do país, construindo interpretações críticas e radicais que refundaram as bases de nossa ciência a seu tempo, sem se render ao dogmatismo, mas comprometida com a transformação social e com o coletivo”.

Reconhece, ainda, o engajamento da homenageada na construção de políticas públicas para o espaço e a atuação no fórum da reforma urbana, no contexto da redemocratização. Arlete Moysés foi uma das fundadoras do curso de Geografia da Unicamp do IG, ao lado de Archimedes Perez Filho e Tereza Paes. A instituição foi o espaço que possibilitou à pesquisadora “ampliar as possibilidades de entendimento da relação entre natureza e sociedade, ultrapassando os limites do eurocentrismo e evidenciando que a ciência deve dialogar para além dos muros da universidade”, afirmou Lima.

Tarefa de mudar o mundo

Arlete Moysés compartilhou o prêmio com os e as colegas geógrafos e geógrafas, agradecendo pela indicação. “Durante minha longa trajetória, entendi que debater e discordar de ideias é uma forma de aprofundar o conhecimento. Compartilho está honraria com os que lutam pelo direito a ter direitos, em todas as esferas da reprodução da vida”. Em seu discurso, a intelectual ponderou sobre desafios e perspectivas para a pesquisa considerando um mundo em crise e de análise difícil e complexa, mencionando: exploração exacerbada e sem vínculos formais de trabalhadores, mudanças climáticas, guerras, genocídios, imperialismos, exploração ambiental e social, avanços tecnológicos e outras questões que impactam a vida cotidiana, além da modernização da universidade com normas e padrões distanciados da realidade.

“Penso que fazemos aquilo que Joseph Nort [jornalista norte-americano autor do livro Nenhum homem é estrangeiro] fala de um repórter. Para entender o preço elevado da pérola vendida em Berlim, ele vai para os Mares do Sul onde fica sabendo o que de precioso continha a pérola: a vida perigosa dos pescadores distantes, o processo de lapidação, o trabalho de tripulantes dos navios. Enfim, invisíveis veias de sangue vital corriam naquela pérola”. Arlete Moysés finaliza, afirmando que “é isto que fazemos enquanto geógrafos, quando procuramos desvendar a essência da produção e uso do espaço e quanto na sua produção tem sangue, suor e lágrimas. Temos, assim, que continuar a retirar as flores que cobrem os grilhões para que a sociedade, em seu conjunto, possa rompê-los. Nossa tarefa é muito importante e cada tema, assunto, escala e lugar que analisamos pode ajudar a mudar o mundo e, depois, mudar o mundo mudado”, disse.

Arlete Moysés: aprofundar o conhecimento
Arlete Moysés: aprofundar o conhecimento

Trajetória

Arlete Moysés Rodrigues é a filha caçula de seis irmãos, filhos de imigrantes libaneses que se estabeleceram em São Paulo. Chegou a interromper os estudos para trabalhar em uma indústria têxtil e contribuir com a família. Mais tarde, chegou à universidade “conciliando sua militância [por melhores condições de vida e de trabalho para a classe trabalhadora] com a vida acadêmica e a maternidade”, falou Lima. A homenageada é graduada e licenciada em Geografia pela Universidade de São Paulo (USP – 1971), mestre (1981) e doutora (1988) em Geografia Humana pela USP. Ingressou como docente na Unicamp em 1983, tornando-se livre docente em 1997. Atualmente, é professora convidada nos cursos de mestrado e doutorado em Sociologia (IFCH) e Geografia (IG). Ela foi responsável pela formação de mais de 60 doutores e doutoras, atuantes no Brasil e no exterior. “Sua orientação, sempre presente e atenta, foi e continua a ser marcada pelo fazer científico. Arlete não apenas orienta: caminha lado a lado com seus orientandos e orientandas, partilhando desafios, angústias e conquistas”, destacou Lima, relembrando que Arlete Rodrigues transformou a própria casa em um espaço de convivência e aprendizado — apelidada de Lacam – Laboratório da Casa da Arlete Moysés.

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