

A comitiva institucional da Unicamp embarcou nesta sexta-feira (7) a Belém para participar do primeiro dia da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP 30), que ocorrerá de 10 a 21 de novembro no Pará. Além disso, a universidade também será representada no evento por uma comitiva acadêmica, selecionada via edital.
O grupo será responsável por organizar a participação da instituição no Pavilhão das Universidades, espaço inédito nas conferências, localizado dentro da Blue Zone (espaço de tomada de decisões) e estruturado por redes internacionais de universidades.
O local contará com programação intensa de painéis, parte deles organizados pela Unicamp e em parceria com outras universidades, discutindo temas como o HIDS Unicamp (Hub Internacional para o Desenvolvimento Sustentável), transição energética e gestão sustentável de campi universitários (áreas verdes, corredores ecológicos e outras ações).
“Nosso objetivo é pontuar que as universidades têm um papel além de produção de ciência, de formação de pessoas e de projetos de extensão, como agentes ativos na geração de soluções e na formulação de políticas de mitigação e adaptação das mudanças climáticas”, afirma o coordenador da comitiva da Unicamp na COP30, Roberto Donato.
Segundo Donato, a expectativa da Unicamp é dar mais visibilidade às suas iniciativas de sustentabilidade e ampliar a articulação de redes universitárias para a questão climática.

Por questões logísticas, parte da comitiva chegará para participação no início do evento. Os demais membros chegarão ao longo das duas semanas de programação. A delegação institucional é composta por Donato, coordenador do HIDS Unicamp e assessor do Gabinete do Reitor; Thalita Dalbelo, coordenadora de sustentabilidade; David Lapola, pesquisador e vice-coordenador do Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura (Cepagr) e colaborador do Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC); Luiz Carlos Silva, coordenador do Campus Sustentável; Thyago Lins, assessor de gestão da Reitoria; Eduardo Marandola, assessor docente da Pró-Reitora de Pesquisa; Aline Carvalho, coordenadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas Ambientais (Nepam); Antonio José Meirelles, ex-reitor da Unicamp e membro do conselho da Fapesp; Patricia Mariuzzo, assessora de comunicação do HIDS Unicamp; e Barbara Teruel, docente da Faculdade de Engenharia Agrícola (Feagri) e coordenadora de Comunicação do Centro Paulista de Estudos para a Transição Energética (CPTEn).
Comitiva acadêmica
A Unicamp selecionou quatro docentes e dois discentes da pós-graduação para participação na COP30, com apoio financeiro. O edital foi realizado por meio de parceria entre o Gabinete do Reitor e a Pró-Reitoria de Pesquisa (PRP). Os contemplados, provenientes de diferentes áreas do conhecimento, já deveriam possuir atividades previstas no evento e atividades paralelas.
Marandola ressaltou que a presença da comunidade da Unicamp é importante para fomentar a articulação e a participação da instituição em um tema incontornável. “Tivemos ótimas propostas, inclusive aquelas que acabaram não sendo priorizadas, mas que também representam as diferentes maneiras em que a comunidade da Unicamp está ativa na COP30.”
Donato destacou a abrangência das propostas apresentadas nas áreas das ciências humanas e áreas técnicas das ciências exatas e da saúde. “A participação da Unicamp [na COP] será bastante diversa, com eventos na Blue Zone, na Green Zone e nos espaços de associações e empresas.”
Participação indígena
A proposta da doutoranda Martha Fellows Dourado foi contemplada pelo edital, e a pesquisadora aproveitará a oportunidade como estudo de campo para sua tese, que investiga a relação de povos indígenas com as mudanças climáticas.
“Trabalho com a perspectiva dos povos indígenas enquanto atores políticos. Na minha pesquisa, tento entender o reflexo das ações levadas por eles nos acordos internacionais de mudança do clima”, explica. A pesquisadora avaliará questões como condições para chegada, permanência e participação desse público no evento.
Dourado participa das COPs desde 2014 e conta que a edição de 2025 terá uma forte presença indígena, por influência do governo brasileiro, com 500 credenciais para indígenas brasileiros e outras 500 para indígenas de outras nacionalidades.
A participação de Dourado abrange eventos nas zonas Azul (Pavilhão Indígena, Resilience Science Must-Knows e Pavilhão do Brasil) e Verde (Pavilhão do Brasil) da COP30, além de outros espaços, em parceria com diversas instituições. Além de doutoranda, ela participará também como pesquisadora do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM).
Mineração sustentável
Maria José Maluf de Mesquita é professora do Instituto de Geociências (IG) e investiga a implementação de sustentabilidade na mineração de pequena escala, em projetos em parceria com instituições do Reino Unido, União Europeia e Colômbia. Desde o ano passado, coordena um projeto que visa a transformação positiva no setor de mineração artesanal e de pequena escala de estanho no Brasil, particularmente na região amazônica. Na COP30, a docente planeja apresentar e debater esses e outros projetos.
“É um tema demonizado. É importante ser discutido o lado da geologia, porque a demanda do capitalismo não tem fim — não vamos parar de usar celular, computador… A transição energética precisa muito mais da mineração do que o uso de combustíveis fósseis. Precisamos discutir de onde sairão esses minerais, que são difíceis de encontrar, e a que preço.”
Além de integrar a delegação oficial da Unicamp, Mesquita também representa a Associação de Docentes da Unicamp (ADunicamp) na Cúpula dos Povos, enquanto membro do Grupo de Trabalho de Política Agrária, Urbana e Ambiental (GT-PAUA) da associação. Este é um evento autônomo, construído por movimentos sociais, que busca a construção de uma agenda política para uma transição justa e solidária. “Não temos como ter progresso sem cuidado com o ambiente e com as pessoas. Acredito que esse evento vai fazer muito barulho. Quero participar e ouvir os dois lados, até para poder comparar.”
A docente também foi selecionada, por meio de edital, para compor a delegação nacional brasileira, recebendo credencial de acesso à Zona Azul. Esta é a primeira vez que Mesquista participa da COP.
Transição energética

A professora do Instituto de Química (IQ) Ana Flavia Nogueira, que dirige o Centro de Inovação em Novas Energias (CINE) desde 2020, também participará do evento pela primeira vez.
Nogueira foi convidada pelo Banco Itaú (parceiro do CINE desde 2023) para integrar e moderar painéis da Climate Action Solutions & Engagement (C.A.S.E.), uma iniciativa do setor privado, com financiamento de R$ 1 trilhão, para impulsionar soluções climáticas concretas com potencial de escala internacional, que terá programação em Belém durante a COP.
“Levar o nome do CINE da Unicamp [para a COP] já é um grande feito. Participar do C.A.S.E. mostra a confiança do Itaú no trabalho que estamos fazendo. Quero, também, trazer algumas discussões para fortalecer a área de transição energética na Universidade”, diz a docente.
Intersecção entre saúde e crise ambiental
A doutoranda Helena Fonseca Rodrigues, também selecionada pelo edital, defende o fortalecimento do diálogo entre saúde e clima de forma transversal e propositiva. “A saúde tem que ser um eixo estruturante das discussões climáticas. É nela que expressaremos de forma bem direta os efeitos dessa crise ambiental sobre a vida das populações – seja pelo aumento de doenças infecciosas, dos agravos de saúde mental, da insegurança alimentar, dos deslocamentos forçados, seja por outros impactos muito profundos no modo de vida das pessoas”, argumenta.
Por meio de seu trabalho no Observatório de Territórios Sustentáveis e Saudáveis da Bocaina, a discente e psicóloga conta que viu de perto como as tragédias climáticas afetaram a saúde mental de povos e comunidades tradicionais da região de Paraty (RJ). Sua pesquisa investiga o uso de drogas em comunidades tradicionais costeiras atingidas por tragédias climáticas.
Para Rodrigues, no contexto brasileiro, discutir sobre clima é discutir determinantes sociais e ambientais da saúde, justiça territorial e direitos humanos. “A presença na COP30 reforça a necessidade de se pensar em soluções integradas, que articulem adaptação e mitigação e promoção do bem-viver, e de se reconhecer o papel central do sistema público de saúde na resposta às emergências climáticas”. Na Conferência, Rodrigues participará de eventos na Cúpula dos Povos e na Rede Marangatu.
FOTO DE CAPA
