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Segunda fase do Vestibular Unicamp traz como temas “machosfera” e importância da CLT

Questões, que associavam leituras com a realidade, exigiam dos candidatos visão crítica e capacidade analítica

A Unicamp deu início, na manhã de hoje (30), à segunda fase do Vestibular 2026. A abstenção geral foi de 7,9% (12.018 presentes e 1.028 ausentes), o que, conforme o diretor da Comissão Permanente para os Vestibulares da Unicamp (Comvest), José Alves de Freitas Neto, representa uma estabilidade em relação ao ano passado (7,5%). Os menores índices de ausência foram identificados em Jundiaí e Limeira, com 5,1% cada. Os candidatos concorrem a 2.530 vagas em 69 cursos de graduação. A segunda fase, composta por questões dissertativas, é realizada em dois dias – domingo e segunda-feira (1º/12) –, com início às 9 horas.

“Duas cidades puxaram esse índice para baixo, que são Recife [22,9% de abstenção] e Curitiba [25%], que, hoje, também, têm provas dos processos seletivos das universidades locais. Então, provavelmente, essa é uma decisão que os candidatos tiveram que tomar mesmo quando não havia choque de horário, como é o caso da Universidade Federal do Paraná [UFPA]”, comentou o diretor da Comvest, José Alves de Freitas Neto. No município de Campinas, a abstenção foi de 5,4%, frente a 5,6% no ano passado.

A segunda fase está sendo aplicada em cidades de São Paulo (Bauru, Campinas, Guarulhos, Jundiaí, Limeira, Mogi Guaçu, Osasco, Piracicaba, Presidente Prudente, Ribeirão Preto, Santo André, Santos, São Carlos, São José do Rio Preto, São José dos Campos, São Paulo, Sorocaba), além de seis capitais: Belo Horizonte, Brasília, Curitiba, Fortaleza, Recife e Salvador.

O conteúdo da prova é comum a todos os candidatos no primeiro dia
O conteúdo da prova é comum a todos os candidatos no primeiro dia

As provas 

No primeiro dia, o conteúdo é comum a todos os candidatos, contendo Prova de Redação (com duas propostas de texto para escolha do candidato), Língua Portuguesa e Literaturas de Língua Portuguesa (seis questões) e Prova interdisciplinar (duas questões de Língua Inglesa e duas de Ciências da Natureza). O gabarito será divulgado na segunda-feira (8/12).

Na Prova de Redação, os candidatos puderam escolher entre escrever um depoimento pessoal sobre as comunidades em redes sociais chamadas de “machosfera”, que incitam discursos de ódio e a violência contra mulheres, ou ainda uma nota de esclarecimento sobre o que é e a importância histórica da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), considerano o recente sentido pejorativo atribuído a “ser CLT”.

Conforme Freitas, os temas são engajados e contemporâneos, exigindo que os alunos sejam capazes de articular leituras e conteúdos, refletir e demonstrar a maneira como pensam e elaboram os conhecimentos. “A Unicamp procura alunos atentos aos problemas do mundo contemporâneo e que defendam certos princípios de que a Universidade nunca abriu mão, a respeito dos direitos humanos, dos direitos sociais.”

O diretor da Comvest, José Alves Freitas Neto: questões abertas na segunda fase é fundamental
O diretor da Comvest, José Alves Freitas Neto: questões abertas na segunda fase é fundamental

Para o diretor, manter as questões abertas na segunda fase do Vestibular da Unicamp, assim como ocorre nas outras universidades paulistas, “é fundamental e é parte do segredo da excelência das nossas universidades”. Além disso, esse formato “preserva o espírito de quando o Vestibular foi criado”, disse.

A visão crítica da realidade por parte dos candidatos é um dos pontos avaliados pela prova, reiterou a coordenadora acadêmica da Comvest, Márcia Mendonça. “Por isso que, desde os temas da redação até os demais textos são selecionados como pretextos, são eixos norteadores da discussão que pode ser feita. Isso tudo sem descuidar das habilidades de leitura, escrita e dos conhecimentos escolares.”

Mendonça destacou que as questões apresentam profunda articulação com a atualidade. Por exemplo, a expressão “corre” (para se referir ao cotidiano dos brasileiros) e seu uso em um texto foram tema de uma questão, assim como o impacto da inteligência artificial na sociedade e o tecnochauvinismo (crença de que as soluções tecnológicas são superiores a outras, além de um problema físico associado ao relato de viagem da brasileira Tamara Klink. Em outro exemplo, relacionou-se a contaminação das águas por clobazam (um fármaco ansiolítico) ao comportamento e à migração de salmões da Suécia ao Mar Báltico. “Não trabalhamos o tema pelo tema, mas articulado aos saberes, o que também será demandado desses estudantes dentro da Universidade”, pontuou Freitas.

Ansiedade e expectativa

Maria Luísa dos Santos (à esquerda) com sua mãe Sílvia Rosa: Artes Visuais
Maria Luísa dos Santos (à esquerda) com sua mãe Sílvia Rosa: Artes Visuais

A candidata Maria Luísa dos Santos, 19 anos, chegou no campus de Barão Geraldo pouco depois das 7 horas da manhã, acompanhada da mãe, Sílvia Rosa. “Na primeira fase, pegamos congestionamento e chegamos na PUC [Pontifícia Universidade Católica de Campinas] perto das 9 horas. Dessa vez, decidimos chegar mais cedo”, contou a mãe.

A jovem, que se interessa por desenho, pintura e escultura, planeja cursar Artes Visuais. “Não estou tão preocupada com esse primeiro dia [de provas] porque me dou bem com interpretação de texto e redação.”

O grupo de amigas Ana Carolyna M. de Nogueira, Beatriz Domingos, Isabelle Mariana Leite, Júlia Santos e Mariana Verítico conversavam, animadas, antes do início da prova. Essa é a segunda vez que Santos, de 19 anos, participa da segunda fase do Vestibular da Unicamp, pleiteando uma vaga na graduação em Engenharia Ambiental. “Se eu passar na Unicamp, vou ser a primeira pessoa da minha família a fazer uma faculdade e estar dentro de uma universidade pública”, relatou.

Tanto Santos quanto Nogueira realizaram cursinhos populares para auxiliar na preparação. “Isso já me deu uma aliviada, porque sei como a prova funciona”, afirmou Nogueira, de 17 anos, que deseja cursar Administração.

Começos e recomeços

Víctor Hugo Barreiro de Souza (à direita) com o pai Edson: Midialogia
Víctor Hugo Barreiro de Souza (à direita) com o pai Edson: Midialogia

Víctor Hugo Barreiro de Souza, de 19 anos, tenta pela segunda vez uma vaga em Midialogia, unindo seus interesses por futebol e produção de conteúdo. O jovem está confiante no resultado positivo após um ano de preparação. “Eu tinha uns pontos fracos em química e física e, no primeiro semestre, tentei me desenvolver melhor [nessas disciplinas]. No segundo semestre, inevitavelmente, eu fui focando mais a parte de humanas, já pensando na segunda fase [do Vestibular].”

“Sei o quanto ele estudou e se preparou. Ano passado [ele] bateu na trave, chegou perto, e este ano vai dar certo”, disse o pai, Edson Souza.

Órion Gomide, 22 anos, é natural de São José do Rio Preto (SP) e já cursa Física na Unicamp, mas está buscando migrar para a graduação em Ciências Sociais. “Não me vejo em outra universidade que não a Unicamp, acho que realmente me encontrei aqui, tornou-se uma casa para mim.”

Tatiana Keller, de 28 anos, é de São Paulo e se graduou em Economia na Unicamp há cerca de um ano. Agora, tenta retornar para uma segunda graduação na área de Biologia. Keller relembrou que houve mudanças no formato da segunda fase do Vestibular, mas que o conteúdo continua o mesmo, priorizando a contextualização e a interdisciplinaridade. “Prefiro assim [formato atual] porque tenho mais tempo para analisar [as questões] e fazer uma resolução mais aprofundada.”

Literatura

Mariana Mestriner, de 17 anos, tenta, pela primeira vez, uma vaga no curso de Educação Física, acompanhada dos pais, Luciana e Alexandre, e da namorada Júlia Dari. A candidata ressaltou que ter participado do Vestibular como treineira, no ano passado, fez diferença na sua preparação. “Foi importante para me familiarizar com a estrutura da prova.”

Em relação à lista de obras para leitura, Mestriner diz que “A vida não é útil”, de Ailton Krenak, é seu livro favorito. “Já li três vezes. Acho muito boa [a obra] porque, além da parte da literatura, tem muito de filosofia.”

Já a obra “Morangos mofados”, de Caio Fernando Abreu, foi a preferida dos amigos Isabela Laís Silva e Otávio Ferrari, ambos de 17 anos, e de Bruno Gibim, de 18 anos. Segundo os jovens, alunos da Escola Estadual Culto à Ciência, o livro foi foco de um trabalho escolar. “Também gosto bastante de Olhos d’água [de Conceição Evaristo]”, destacou Silva.

Segundo dia

O segundo dia inclui uma parte comum e outra específica, de acordo com a área do curso escolhido. Todos os candidatos fazem Prova de Matemática (com 6 questões para cursos da área de Exatas/Tecnológicas e 4 questões para os demais) e Prova Interdisciplinar de Ciências Humanas, com 2 questões.

As Provas de conhecimentos específicos se dividem da seguinte maneira:

  • Candidatos de Ciências Biológicas/Saúde fazem: Biologia (7 questões) e Química (5 questões);
  • Candidatos de Ciências Exatas/ Tecnológicas fazem: Física (5 questões) e Química (5 questões);
  • Candidatos de Ciências Humanas/Artes fazem: Geografia (5 questões), História (5 questões), Filosofia (1 questão) e Sociologia (1 questão).

Próximas datas

As provas de Habilidades Específicas para os cursos de Artes Cênicas, Artes Visuais e Dança serão realizadas entre os dias 3 e 5 de dezembro de 2025, somente em Campinas. A primeira chamada será divulgada no dia 23 de janeiro, e os convocados deverão efetivar a matrícula online (não presencial) nos dias 26 e 27 de janeiro de 2026, pela página eletrônica da Comvest. As demais datas constam do calendário do Vestibular Unicamp 2026, disponível no site da Comissão.

Neste ano, pela primeira vez, o curso de Arquitetura e Urbanismo optou por não exigir as provas de habilidades específicas, realizadas após a aplicação da segunda fase do vestibular. Desta maneira, os candidatos farão somente as provas de primeira e segunda fase.

A primeira chamada de aprovados no Vestibular Unicamp será no dia 23 de janeiro de 2026. 

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