Teve início nesta segunda-feira (1) a 15ª edição da Virada Inclusiva, uma iniciativa da Secretaria de Estado dos Direitos da Pessoa com Deficiência de São Paulo que promove ações de conscientização para o protagonismo das pessoas com deficiência na construção de um mundo mais acessível. O evento incentiva a participação de pessoas com e sem deficiência nas atividades, que, neste ano, pela primeira vez, também irão ocorrer na Unicamp. Até quinta-feira (4 de dezembro), serão realizadas 11 atividades nos campi da Universidade, com o objetivo de estimular a inclusão de pessoas com deficiência no universo acadêmico e promover os trabalhos da Unicamp direcionados a este público.
A Virada Inclusiva na Unicamp é aberta a todos os interessados. Algumas atividades solicitam inscrição prévia. Confira a relação de atividades os links para inscrição na página do evento no site da DeDH.


“Ficamos muito felizes com o convite para integrar a programação da Virada Inclusiva. Temos todas as condições de realizar atividades aqui na Unicamp, até porque contamos com vários grupos, laboratórios e institutos que trabalham com a inclusão”, comenta Erika Zambrano, professora da Faculdade de Enfermagem (Fenf) e coordenadora da Comissão Assessora de Acessibilidade da Diretoria Executiva de Direitos Humanos (DeDH). Zambrano destaca que a Universidade tem registrado avanços na garantia de acesso e permanência de pessoas com deficiência, desde a readequação de espaços físicos até a adaptação de materiais para braile e libras. Segundo ela, as atividades da Virada contribuem para que essas ações possam ser conhecidas pela comunidade. “Um estudante com deficiência que conhece todos esses recursos fica mais à vontade para prestar o vestibular”, analisa.
Na Unicamp, a Virada teve início com uma Oficina de Prototipação de Jogos, promovida por pesquisadores do Centro de Ciência para o Desenvolvimento de Tecnologia Assistiva para a Educação Bilíngue de Surdos (CCD Taebs), unidade que integra a Unicamp e as Universidades de São Paulo (USP), Federal de São Carlos (Ufscar) e Federal do ABC (UFABC), sendo apoiada pela Fapesp. A atividade foi ministrada por um grupo de estudantes com a orientação de André Brandão, professor da UFABC e pesquisador associado ao CCD-Taebs, e apresentou aos participantes – surdos e ouvintes – os conceitos e procedimentos envolvidos na elaboração de um jogo, convidando-os a propor ideias sobre o tema.



Docente da área de Ciências da Computação, Brandão explica que jogos, analógicos ou digitais, podem ajudar a sistematizar os conteúdos em sala de aula. No caso das pesquisas realizadas junto ao CCD-Taebs, o objetivo também é promover a interação bilíngue português-libras. “Ao colocarmos pessoas de diversos perfis juntas, haverá uma troca de experiências em que emerge uma consciência social. Um entende o outro, o que possibilita a criação de um protótipo de jogo.”
“O CCD vem potencializar o trabalho que desenvolvemos desde 1973 com a possibilidade de construirmos materiais didáticos”, afirma Ivani Rodrigues Silva, professora da Faculdade de Ciências Médicas (FCM), coordenadora do Centro de Estudos e Pesquisas em Reabilitação (Cepre) e do CCD-Taebs. Ela explica que o grupo tem como foco a identificação de demandas das escolas de ensino básico para a formação de estudantes surdos e, com base nelas, o desenvolvimento de materiais didáticos e tecnologias. “As escolas utilizam materiais para os alunos ouvintes, mas isso não dá certo. Há uma demanda de materiais didáticos específicos para surdos”, descreve a professora, alertando que a simples reprodução dos materiais convencionais para o público surdo não é algo adequado. “É algo complexo, mas com a parceria das universidades e das escolas da rede, vamos conseguir.”
Importância da interação


Estudante do oitavo ano do Ensino Fundamental em Jaguariúna e usuário do Cepre, Lerrandro Alves Manoel encontra nos jogos uma forma de criar laços com outros adolescentes como ele. “Gosto mais de jogar Roblox [plataforma de jogos on-line]. Durante o jogo, consigo conversar com meus amigos. Gosto também das imagens do jogo, das roupas dos personagens, que têm significados”, conta. Ele foi um dos participantes da oficina, e seu grupo propôs a criação de um jogo de computador que simulasse uma sala de aula. Conforme os jogadores cumprissem as tarefas, somariam pontos para, no final, passarem de ano. Isso vai ao encontro de sua própria experiência na escola e no dia a dia com o universo dos jogos. “Para mim, jogar Roblox é como uma aula de matemática.”
A mãe confirma a afinidade do filho com os jogos e atribui à vivência junto ao Cepre sua capacidade de comunicação e de interação com outros jovens. “Quando ele era pequeno, tinha muita dificuldade de interação. Foi ótimo quando começou a interagir com outras crianças no Cepre e com os amiguinhos da escola”, lembra Márcia Alves Silva. Segundo ela, isso é fundamental para jovens como Lerrandro. “Sem conhecerem outras pessoas surdas, eles não interagem”, afirma.
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