Alunos do terceiro ano do ensino médio do Colégio Técnico de Campinas (Cotuca) e do Colégio Técnico de Limeira (Cotil), ambos vinculados à Unicamp, realizaram uma viagem de intercâmbio na Argentina no início de maio. Essa é a primeira vez que as duas instituições visitam o país vizinho e também a primeira ida do grupo de oito jovens, quatro de cada instituição, para o exterior.
Na semana dos dias 5 a 9 de maio, o grupo visitou quatro escolas técnicas na região de Buenos Aires, capital argentina: o Instituto Nacional de Educación Tecnológica (Inet), o Colegio Nacional de Buenos Aires, a Escuela Preuniversitaria de Formación Profesional (vinculada à Universidad Nacional de Hurlingham), a Escuela Técnico Profesional en Producción Agropecuaria y Agroalimentaria (da Universidad de Buenos Aires) e a Escuela Secundaria Técnica da Universidad Nacional de San Martín. A viagem foi financiada pelo programa de bolsas de estudo do Banco Santander.

Segundo a professora do curso de mecatrônica que acompanhou os alunos do Cotuca, Heloísa Müller, essa modalidade de intercâmbio representa uma novidade. “É a primeira vez que visitamos várias escolas. As viagens anteriores iam a um lugar só. Então foi uma experiência inovadora.”
O intercâmbio teve diferentes propósitos em cada instituição, desde visitar as instalações e a equipe pedagógica até a interação com os alunos. No Inet, por exemplo, os jovens conheceram equipamentos de simulação e de realidade aumentada. “Eles dirigiram um trator e uma empilhadeira no simulador. Foi algo bem diferente. O instituto também presta suporte para a especialização de docentes”, contou Müller.
Os estudantes avaliam que a vivência proporcionou uma visão mais ampla do sistema de ensino e da sociedade argentina. Para Hélio Barbosa, de 17 anos, aluno do Cotuca, a viagem uniu uma experiência turística com visitas a colégios destinados a diferentes classes socioeconômicas. “O Cotuca também não é homogêneo. Então fomos conhecer as diferenças da educação em tecnologia e também as pessoas.”
Assista ao vídeo produzido pela SEC sobre a viagem:
Relação comunidade-escola
Enquanto o Inet e o Colegio Nacional estão localizados perto do centro de Buenos Aires, as demais instituições ficam em áreas periféricas da região metropolitana. Nesses locais, o professor do Cotil André Almeida percebeu um forte vínculo entre a comunidade e a escola, bem como uma dedicação dos professores. “Conhecemos, por exemplo, um professor de química na escola de San Martín que, diante da falta de verba quando se tratou de comprar um equipamento para seu laboratório, chegou a construí-lo com seus alunos, transformando a própria construção em um processo de aprendizagem.”
Essa instituição, próxima a um aterro sanitário, foi criada a fim de formar pessoas da comunidade para trabalhar com reciclagem. “Para mim, foi muito marcante entender que há escolas técnicas preocupadas com a ascensão social das pessoas”, observou a estudante do Cotuca de 17 anos Maria Vitória dos Santos. A jovem chamou atenção, ainda, para a questão racial, ao lembrar que o seu cabelo e o de uma colega receberam elogios dos argentinos. “O fenótipo, especialmente em Buenos Aires, é mais padronizado. São pessoas com traços mais europeus.”

Na escola da Universidad Nacional de Hurlingham, Almeida contou que alunos afastados voltam a estudar a partir de um trabalho de busca ativa. “Foi maravilhoso. Eles ensinaram para a gente a linguagem de programação que usam lá e falaram sobre a realidade deles. Enquanto isso, a gente também contava sobre o Brasil, o Cotuca e a Unicamp”, disse Barbosa.
Já a Escuela Técnico Profesional en Producción Agropecuaria y Agroalimentaria vende para a comunidade os itens que produz, como ovos, frangos, vegetais, queijos e geleias. Nessa escola e na de San Martín, deu-se um intenso processo de troca com os alunos pois essas instituições oferecem uma disciplina obrigatória de língua portuguesa, o que estimula a curiosidade sobre o Brasil.
O professor considera que a experiência internacional pode inspirar novas práticas nas instituições brasileiras no que tange à relação com o seu entorno e também o compartilhamento de laboratórios entre os estudantes universitários e os de formação técnica: “Isso permite que esses espaços sirvam a atividades mais variadas, em um diálogo muito mais estreito entre pesquisa e ensino”.
Para Müller, as visitas mostraram novas possibilidades de projetos de extensão para o Cotuca. “Pedagogicamente, para mim, foi uma experiência muito enriquecedora. Também há o lado emocional: tive contato bem próximo com os estudantes, me coloquei no lugar deles e isso foi muito marcante”.

Aprendizado fora da escola
Müller explicou que encarregou os alunos de organizar o roteiro de viagem, controlar os gastos e decidir os itinerários, todos feitos via trem, ônibus e metrô, mesclando a agenda pedagógica com passeios culturais. Os jovens disseram que isso tornou a experiência mais especial. “A gente não controla greve, ônibus enguiçando, metrô quebrando… E passamos por todas essas coisas. Conseguimos nos virar e manter todos os compromissos pontualmente”, contou Barbosa. Das atrações visitadas, Santos gostou especialmente do museu dedicado a Evita Perón (Museo Evita), “pela parte histórica”. Barbosa, que é fã da Mafalda, se empolgou ao tirar fotos com a personagem dos quadrinhos.
O intercâmbio ampliou os horizontes dos alunos: Barbosa, que é do Rio de Janeiro e há dois anos mora em Campinas, está repensando os planos de cursar graduação em outra área. “Fiquei muito mais interessado nessa parte de automação por ter colocado meus conhecimentos em prática e ter percebido que sei fazer as coisas.” Após se formar, Santos, natural de Monte Mor (SP), pretende estagiar na área para ganhar experiência profissional e avaliar qual curso de graduação gostaria de seguir.
Também participaram da viagem pelo Cotuca os alunos Beatriz Silva Paulino, 19 anos, e Williane Pessoa de Lima Oliveira, 17, todos do curso de mecatrônica. Já pelo Cotil, o grupo era composto por Jenifer Caroline Rocha Silva, de 17 anos, e Mariana Aparecida Gomes de Oliveira, 17 anos, do curso de qualidade, e Mateus Daroz, 18 anos, e Wendel Tolentino Alves Frota, 17 anos, do curso de desenvolvimento de sistemas.
